segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os últimos dias




Não sei se esta é uma boa hora para falar nisso, mas se a previsão de que o mundo vai acabar em 2012 estiver correta, este é o último Natal das nossas vidas. E o próximo Réveillon tem a obrigação de ser uma festa para acabar com todas as festas, pois depois não haverá remorsos nem recriminações – depois não haverá mais nada.


Você está livre para fazer, na Festa do Último Fim de Ano, tudo que sempre pensou em fazer mas foi detido pela moral, os bons costumes, o Código Civil e seu instinto de preservação. Pode entrar na festa nu e sair caramelado. Pode derrubar o cantor da banda e tomar seu lugar pelo resto da noite, como sempre sonhou, rechaçando aos pontapés todas as tentativa de tirá-lo do palco. Pode dizer o que pensa de todas as pessoas de que não gosta e declarar sua paixão para todos os seus amores secretos, sem temer o revide ou o desdém. Pode fazer tudo isto sem pensar na sua reputação, pois se a previsão estiver certa ninguém mais vai ter uma reputação.


Deve-se pensar em alguma medidas práticas a serem tomadas na iminência do fim do mundo. Começar a comprar tudo com cheques pré-datados ou a crédito, por exemplo. Usar ao máximo os cartões de crédito, inclusive nas viagens para o Exterior que se farão às pressas. E a crédito.


Conhecer o maior número de lugares que ainda não se conhece no mundo, numa espécie de tour de despedida. Fazer a Copa do Mundo de 2014 em seguida, sem esperar 2014. Encurtar o Carnaval deste ano para poder fazer, adiantados, os de 2013, 2014 e 2015.


Aproveitar todos os pores de sol possíveis, pois eles também serão os últimos. E isto é o mais difícil: passar a só dizer coisas definitivas. A proximidade do fim certamente aguçará nossos sentidos e nos tornará mais graves e filosóficos. Ou então, o contrário. Só dizer bobagens. Entregar-se à besteira e ir para o fim às gargalhadas. Pois se tudo vai acabar mesmo, se a morte do nosso planeta será apenas um pontinho ridículo pipocando na escuridão cósmica, para que fingir que algo de tudo isto era sério?


E o fim nos trará algumas vantagens. Tornará coisas como caderninhos com datas de aniversário, horóscopos e índices de colesterol sem sentido. Todos os tipos de restrições alimentares serão risíveis, poderemos comer de tudo que nos faz mal como se não houvesse amanhã – porque não haverá mesmo. Está bem, não veremos o fim das novelas, mas não será tão ruim assim.

Bom Natal para todos.


Luis Fernando Verissimo

Zero Hora 26/12/2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

Organiza o Natal



Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso.
A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.
A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.
A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.
Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.
O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.
Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.
A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.
O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.




Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Natal



No ermo agreste, da noite e do presepe, um hino
De esperança pressaga enchia o céu, com o vento...
As árvores: "Serás o sol e o orvalho!" E o armento:
"Terás a glória!" E o luar: "Vencerás o destino!"


E o pão: "Darás o pão da terra e o pão divino!"
E a água: "Trarás alívio ao mártir e ao sedento!"
E a palha: "Dobrarás a cerviz do opulento!"
E o tecto: "Elevarás do opróbrio o pequenino!"


E os reis: "Rei, no teu reino, entrarás entre palmas!"
E os pastores: "Pastor, chamarás os eleitos!"
E a estrela: "Brilharás, como Deus, sobre as almas!"


Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,
Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos;
Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.



Olavo Bilac

domingo, 18 de dezembro de 2011

A cilada



O perfume, o silêncio, a sombra... Os ninhos

Emudecem... E temos, sonhadores,

A humildade das ervas nos caminhos

E uma inocência de anjos entre as flores.


Mas há na tarde morna ignotos vinhos,

Secretos filtros, pérfidos vapores,

Amavios, feitiços e carinhos

Moles, quebrados e perturbadores...


E, de repente, o incêndio dos sentidos:

As mãos frias tateando na ansiedade,

As bocas que se buscam num queixume,

E o corpo, o sangue, o espírito perdidos,


E a febre, e os beijos... e a cumplicidade

Da sombra, do silêncio, do perfume...



Olavo Bilac

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

De vestido de oncinha e plumas



Outro dia aconteceu algo que me deixou sem saber direito o que pensar. Um caso corriqueiro, mas novidade pra mim. Quando era publicitária, trabalhei por três meses numa agência. Estamos falando do ano de 1984 ou seja, 27 anos atrás. Pois uma ex-colega da agência postou essa semana, no blog de uma confraria da qual faz parte, uma foto daquela época na qual apareço numa festa à fantasia. Uma homenagem que ela me fez, sem nenhuma intenção difamatória. Nem estou tão medonha na foto, apesar do cabelo estilo Dallas, do vestido de oncinha e da echarpe de plumas negras. Foi a primeira festa à fantasia a que fui. E a última.

Me garantiram que o blog é acessado por pouquíssimas pessoas. As confrades estavam crentes de que eu iria me comover. Mas, nascida com vários defeitos de fabricação, não me comovi. Em vez disso, considerei que a titular do blog poderia ter pedido autorização para publicar uma foto minha de 27 anos atrás. Seria atencioso da parte dela. Mas devo estar variando: quem pede licença antes de postar foto dos outros?

Lembrei de uma discussão que testemunhei entre duas amigas: uma delas havia ficado chateada por a outra ter postado a foto do seu chá de panela, em que ela aparecia completamente descomposta, mas descomposta de uma maneira que só quem já foi a um chá de panela sabe que é possível.

Já a outra amiga defendia o seu direito de postar o que quisesse, e de julgar ela mesma o que era descompostura e o que era apenas uma foto engraçada. De fato, era uma foto engraçada. Lembro que pensei: “Quá, quá, quá, que engraçado – ainda bem que não sou eu”.

Agora sou eu. E, se ainda não chegou sua vez, aguarde.

Tenho plena consciência de que, cada vez que tiro foto com um leitor numa sessão de autógrafos, aquela foto estará no Facebook em poucos segundos. Tudo bem. Meu trabalho faz com que me exponha, e sei que não há controle sobre a propagação de imagens. E, mesmo quando não é um evento profissional, tudo bem também: ao viajar com amigos ou ir a um churrasco, sei que serei fotografada junto ao grupo e logo estarei num álbum virtual, pra quem quiser espiar. Qualquer pessoa que se deixe fotografar, hoje, sabe que é assim. Se quiser discrição, melhor evaporar na hora do clique.

Não tive essa prerrogativa em 1984. Naquela época, nem em meus sonhos mais premonitórios poderia supor que o conceito de privacidade em breve estaria condenado à morte e que o “cá entre nós” seria substituído pelo “cá entre todos”. Por isso, a dúvida: temos o direito de ficar ressabiados por postarem nossas fotos pré-históricas sem nos consultar ou dá no mesmo se a foto foi tirada 27 anos atrás ou ontem à noite? Suspeito que estou sendo preciosista. Vaidosa. Tá bom: chata. Mas queria compartilhar essa indagação.

Quanto à ex-colega, sem mágoas. Assimilei. Nenhum problema de eu circular pela internet de oncinha e plumas. Ao menos estou vestida, ufa.

Martha Medeiros
Zero Hora 27/11/2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Rosai por nós





Nossa senhora da flor roxa
rosai por nós
assim na vida
como no chão
a primavera de cada ano
nos dai hoje
encantai nosso jardim
assim como encantamos
o do vizinho
e não nos deixeis cair na tentação
de esquecer tuas flores .



Alice Ruiz

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O que acontece no meio

Imagem: Pablo Picasso


Vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.

No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo. Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.

No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa. Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte.

No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença. Que adultos se divertem muito mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.

No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo). Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.

No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.

Martha Medeiros



Zero Hora 04/12/2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

Antes que



Preciso ler um bom poema

antes de dormir
antes que a noite

encerre o diário inventário das lembranças
antes que o sono cale a boca e olhar,

antes que o prumo caia
horizontal.


Preciso ler um bom poema

antes
que seja tarde
que fique escuro
que chegue o frio.


Ler um bom poema
antes que a morte venha
e escreva o seu.


Marina Colasanti

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vida ...vida



"Quero, um dia,
dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe,
que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim e que eu sempre dei o melhor de mim...
e que valeu a pena."


Mario Quintana

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Envelhecer



envelhecemos quando nos fechamos
para as novas idéias e nos tornamos radical,
envelhecemos quando o novo nos assusta
e nossa mente insiste em não aceitar,
envelhecemos quando nos tornamos impacientes,
intransigentes e não consiguimos dialogar,
envelhecemos quando nosso pensamento
abandona nossa casa
e retorna sem nada a acrescentar,
envelheçemos quando muito nos preocupamos
e depois nos culpamos porque não tínhamos
tantos motivos para nos preocupar,
envelhecemos quando pensamos demasiadamente
em nós mesmos e conseqüentemente
nos esquecemos dos outros,
envelhecemos quando pensamos em ousar
e já imaginamos o preço
que teremos que pagar pelo ato,
envelhecemos quando temos a chance de amar
e deixamos o coração a pensar:
será que vale a pena correr o risco?
será que vai compensar?
envelhecemos quando permitimos
que o cansaço e o desalento
tomem conta da nossa alma
que se põe a lamentar,

envelhecemos, enfim,
quando paramos de lutar,
quando paramos de viver,
quando paramos de amar...


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Para isso fomos feitos



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Se eu soubesse




Se algum dia eu soubesse que nunca mais veria você...

eu lhe daria um abraço mais forte.
Se eu soubesse que seria a última vez a ver você...

eu lhe daria um beijo e a chamaria para dar mais um.


Se eu soubesse que seria a última vez a ouvir a sua voz...

eu gravaria cada movimento e cada palavra,

para revê-los depois todos os dias.


Se eu soubesse que seria a última vez

que eu poderia parar mais um ou dois minutos

para dizer-lhe: "gosto de você"...

eu diria, ao invés de deixar que você presumisse.


Se eu soubesse que hoje seria o último dia

a compartilhar com você...

o sentiria muito mais intensamente

em vez de deixá-la simplesmente passar.


Sempre acreditamos que haverá o amanhã

para corrigir um descuido...

para ter uma segunda chance de acertar.


Será que haverá uma chance para dizer:

"posso fazer alguma coisa por você"?


O amanhã não é garantido para ninguém,

seja para jovens, ou mais velhos,

e hoje pode ser a última chance de abraçarmos

aqueles que amamos.
Então, se estamos esperando pelo amanhã,

por que não agirmos hoje?


Assim, se o amanhã nunca chegar,

não teremos arrependimentos

de não termos aproveitado um momento para um sorriso,

para um abraço, para um beijo, uma gentileza,

porque estávamos muito ocupados para dar a alguém

o que poderia ser o seu último desejo.


Abracemos hoje aqueles que amamos,

sussurremos em seus ouvidos,

dizendo-lhes o quanto nos são caros

e que sempre os amamos.


Encontremos tempo para dizer:

"Desculpe-me", "Perdoe- me", "Obrigado", "Eu perdôo você".


Sempre há tempo para amarmos.
Sempre haverá tempo para dizer o quanto eu gosto de você!


Geraldo de Azevedo

sábado, 26 de novembro de 2011

Medíocres e brilhantes




Existem muitos medíocres triunfantes. Assim como existem muitos brilhantes fracassados. A vida nesse ponto é justa: não basta ser brilhante para ter êxito, assim como nada assegurará que o medíocre não terá sucesso. Se fosse o contrário, bastaria ser brilhante para atirar-se nas cordas, o sucesso viria ao natural. Ou, então, um medíocre estaria condenado desde o nascimento ao fracasso.

Existem até, por incrível que pareça, algumas atividades em que basta ser medíocre para alcançar sucesso. E outras em que, sendo brilhante, não há nenhuma chance de triunfar nelas. Sem falar na luta que obrigatoriamente se estabelece, em qualquer organização, entre os medíocres e os brilhantes. A característica dos medíocres é que, sendo medíocres, sozinhos não enfrentam os brilhantes. Por isso é que os medíocres são muito unidos. Unidos eles se tornam fortes e podem derrotar os brilhantes.

Já os brilhantes, por serem raros, enfrentam solitariamente os medíocres. O perigo que se corre em qualquer organização reside em que os medíocres venham a vencer os brilhantes. E os espantem ou os anulem. Não existe nada mais desolador do que uma empresa ou qualquer conglomerado vir a ser dominado pelos medíocres.

Porque muitas vezes os medíocres vestem a capa de brilhantes, embora ali adiante possam ser desmascarados. É necessário que as lideranças de qualquer agrupamento humano se acautelem contra os medíocres e contra os falsos brilhantes.

O segredo é que, em qualquer grupo, sejam colocados nos lugares devidos os medíocres. E também os brilhantes. Botar um medíocre num lugar que deveria ser dado a um brilhante é um desastre. E botar um brilhante num lugar em que o medíocre desempenharia é um desperdício.

Mas tem uma coisa muito importante: um líder medíocre não oportuniza liderados brilhantes. E um líder brilhante só faz multiplicar os brilhantes entre seus liderados.

Mudando de assunto. Foi um jogo de futebol tão violento, que até o juiz e os bandeirinhas usaram caneleiras protetoras.

O chato pode ser surdo, pena é que, se o for, será mais chato ainda. O que o chato não pode ser é mudo: quem é mudo não é chato (toda pessoa que só escuta acaba se tornando agradável, principalmente aos falantes que dominam as rodas de conversa).






Paulo Sant'Ana




Zero Hora 25/02/2011








quinta-feira, 24 de novembro de 2011



A noite

acendeu as estrelas


porque

tinha medo

da própria

escuridão..!!!

Mário Quintana

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Detalhes




O fio do bordado
O som do miado
O brilho prateado
O passo caminhado

O menino educado
A dor do passado
Aquele bom carteado
Foi bom, mas mudado

Detalhes da vida
Eu quero juntar
Com a linha de costura
(Outro detalhe a considerar!)

Um ponto ali
E outro acolá
Cruz e arroz
Para juntar

Vidas detalhistas
Detalhes da vida
Um grão de areia
Ou a praia inteira.




Lara Vic

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

As nuvens



Nuvem, que me consolas e contristas,

Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato:

Essas arquiteturas imprevistas

São como as construções em que me mato...


Nunca vemos, misérrimos artistas,

A vitória deste ímpeto insensato:

A um sopro benfazejo, que conquistas!

A um hálito cruel, que desbarato!


Nuvens de terra e céu, brincos do vento,

Vai-se-nos breve a essência no ar varrida...

Irmã, que importa? ao menos, num momento,


No fastígio falaz da nossa lida,

Tu, nas miragens, e eu, no pensamento,

Somos a força e a afirmação da Vida!




Olavo Bilac

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tentações à solidão




Em realidade, a criatura humana debate-se em torno de seus dois grandes flagelos: a solidão e a vida em comum. A solidão pode ser para o homem a sua grande vitória ou sua grande frustração.

A solidão não é a vocação do homem, que nasce com a tendência para a vida em comum, embora nasça só. Tanto a solidão é incompatível com o homem, que só as pessoas com pendores singulares, entre elas os sacerdotes e as religiosas, fazem voto de castidade e celibato. Tanto a solidão é uma violência ao homem, que é necessário aos religiosos prometer sob juramento que não vão casar-se. Da mesma forma, a vida em comum tanto se parece com uma adversidade forçada, que nas cerimônias matrimoniais os nubentes são obrigados a jurar perpétua fidelidade.

Quando o homem procura a companhia de um animal para livrar-se da solidão, é quase certo que fará somente bem à sua companhia – e esta a ele. Já quando o homem procura a companhia de outro humano para fugir da solidão, é grande o risco de que faça mal a ele ou dele o receba.

O homem só tenta se livrar da solidão quando sente que já está fazendo má companhia a si próprio. E o homem só tenta se livrar da vida em comum quando percebe que, mesmo acompanhado, retornou à condição aflitiva da solidão. Não há pior aflição do que estar-se na companhia de outrem e sentir-se só, assim como estar-se só sentindo a falta de outrem.

A boa solidão conduz ao céu, a má companhia ao inferno. Assim como a solidão ruim é o pedágio da estrada do inferno, a boa companhia pode ser o passaporte para o céu. É preferível a eloqüência da solidão que o silêncio de uma companhia.

Só sente-se em vida recompensado aquele que, depois de sentir-se só em meio à multidão, sentir-se acalorado pelas multidões quando está recolhido à solidão.

Já não me basta e portanto me enfara a serenidade da solidão, aguça-me a tentação do entusiasmo do companheirismo, apesar de todos os seus riscos.

Ou será que daqui a pouco estarei enojado das incompreensões, ingratidões e deslealdades do companheirismo e estarei querendo me arremessar para o descanso e segurança da solidão, apesar do seu tédio?

A única intranquilidade que me inspira a solidão é a de que eu possa cair sem ter ninguém que me erga e o único horror da vida em comum é que, em caso da minha queda, a minha companhia recuse-se a me erguer ou se mostre inepta para isso.

Atribula-me a solidão tanto quanto a vida gregária, se estou lá, tenho que vir, se estou aqui eu tenho de voltar.

Se quanto maior for o número de pessoas com quem convivemos no tumulto da civilização, maior será o perigo que corremos, parece então que, quanto mais sós estivermos, mais nos sentiremos seguros. Mas de que vale a vida sem riscos da solidão, se uma das maiores tentações da existência é correr riscos? Ou será que o maior risco é o da solidão?

Confesso que me assombra a dúvida: a solidão como refúgio ou a vida em comum como guarida? O ideal talvez fosse saborear fortes doses de solidão na vida em comum ou permitir-se rápidas licenciosidades de convivência como lapsos da solidão.



Paulo Sant'Ana


Zero Hora 03/04/2005

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Veja se você é ciumento



(Teste infalível)

( ) Ciumento mesmo não diz alô ao telefone, já sai falando: “Onde você está?”. É um GPS movido a energia solar.

( ) Ciumento mesmo não pergunta, dá a resposta no lugar do outro. Não oferece tempo para sua companhia pensar.

( ) Ciumento mesmo não questiona seu destino, é ansioso demais para acreditar em qualquer coisa. Ele aparece de repente em seu trabalho.

( ) Ciumento mesmo conversa com a sogra mais do que com a mãe.

( ) Ciumento mesmo condena primeiro para julgar depois. A ofensa é preventiva.

( ) Ciumento mesmo odeia os amigos solteiros do seu marido/esposa, e deseja sempre casar os próprios amigos.

( ) Ciumento mesmo enxerga a culpa como uma vantagem. Pressiona que sejam feitas promessas a todo instante. O objetivo é colecionar desfeitas.

( ) Ciumento mesmo confere os bolsos antes de pôr as roupas na máquina de lavar.

( ) A sentença preferida do ciumento: “Você não me valoriza”. A ameaça preferida do ciumento: “Você acha que sou idiota e não vi?”.

( ) Ciumento mesmo não liga uma só vez. Deixará várias chamadas não atendidas no curto intervalo de três minutos.

( ) Ciumento mesmo é uma câmera escondida dentro da rotina. Não tem lembranças, e sim reprises.

( ) Ciumento mesmo (mulher) chama qualquer ex dele de vaca. Ciumento mesmo (homem) chama qualquer ex dela de boiola.

( ) Ciumento mesmo é um operador de cartão de crédito, nunca termina de confirmar informações.

( ) Ciumento mesmo espalha pertences pelo carro do seu par a fim de marcar território. Não estranhe se aparecer, da ala feminina, lingerie no bolso do banco, secador no porta-luvas, liquidificador no assento de trás, porção de cabides no porta-malas. Da ala masculina, o costume é plantar artigos esportivos no veículo (taco de beisebol, capacete de rúgbi e bolinhas de golfe).

( ) Ciumento mesmo não “mexe” nas gavetas, mas “arruma” as gavetas e ainda espera agradecimento.

( ) Ciumento mesmo fecha o Facebook, o Orkut e o Twitter para obrigar o(a) parceiro(a) a também apagar as contas na rede. Assim como recusa convite para beber ou dançar determinado a cobrar a retribuição do gesto.

( ) Ciumento mesmo joga verde para colher os podres. Alega que ninguém alertou nada, ele é que tem sexto sentido e vive descobrindo sozinho.

( ) Ciumento mesmo não discute a relação. No seu entendimento, ele é forçado a brigar para salvar o relacionamento.


Fabricio Carpinejar

Zero Hora, 15/11/2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011



Dentro de um abraço é sempre quente,

é sempre seguro.


Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e,
se faltar luz,

tanto melhor.



Tudo o que você pensa e sofre,

dentro de um abraço se dissolve."

Martha Medeiros

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Espinhos









Caminho no denso jardim
Amasso flores no caminho
Atravesso canteiros inocentes
Em busca apenas da flor.


Vermelha, a quero vermelha
Cor do sangue e paixão
Também quero perfume
Que ilude o coração.


Mas ao pegá-la, que surpresa,
O vermelho agora é de sangue
Espinhos fincam minha carne
Dor, amor... Mas é dor.


Solto a flor ingrata
E volto ao meu jardinzinho
Cuido das flores menores
Que suportaram a falta de carinho.





Lara Vic.

terça-feira, 8 de novembro de 2011



“Algumas pessoas têm amor por você, outras têm raiva.



O que sentem nem sempre depende de seu comportamento.



As reações delas às vezes são justas, outras vezes são injustas.



Dê sem contabilizar.



E esteja atento às necessidades delas”.




Dalai Lama

sexta-feira, 4 de novembro de 2011



Li em uma revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico.
Aprendi, por exemplo, que se tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, nos últimos quarenta anos, teria economizado 30mil reais. Se tivesse deixado de comer uma pizza por mês, 12 mil reais. E assim por diante.
Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas. Para minha surpresa, descobri que hoje poderia estar milionário. Bastaria não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei.
Principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.
Ao concluir os cálculos, percebi que hoje poderia ter quase 500 mil reais na minha conta bancária. É claro que não tenho este dinheiro.
Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?
Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar em itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que quisesse e tomar cafezinhos à vontade.
Por isso, me sinto muito feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro por prazer e com prazer. E recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que fiz. Caso contrário, chegarão aos 61 anos com uma montanha de dinheiro, mas sem ter vivido a vida.

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim ele saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO"

Que tal um cafezinho?



Max Gehringer

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A morte não é nada




"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.


Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.


Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,

sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua,
linda e bela
como sempre foi."

Santo Agostinho

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Felicidade





Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça que a felicidade



é um sentimento simples,
você pode encontrá-la
e deixá-la ir embora



por não perceber sua simplicidade.

Mário Quintana

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A delícia do medo



Se há uma sensação que consome o homem, aniquila-o, vai devorando-o aos poucos, é o medo. O medo acompanha o homem desde o seu nascimento e só desaparece com a morte.

Quando experimenta o medo real, o homem passa a enfrentar outra tragédia: o medo imaginário, o medo sem razão de ser, sem aparente causa concreta, que se transforma em devoradora doença mental, marcada pelas atrozes e assustadoras fobias.

Alguém que já tenha alguma vez na vida experimentado a sensação da fome, nunca mais se livrará dela: pelo medo de que por alguma forma aquele fato se repita.

A pessoa que tem medo exacerbado sofre mil vezes antes que a circunstância temida se verifique. É possível que nunca aquela ameaça se concretize, no entanto quem tem medo de que ela venha a ocorrer vê-se consumido pelo terror, embora realmente muitas vezes não tenha sequer corrido o menor risco material de vir a ser atingido pelo mal imaginário.

Estranha pois que esse inimigo maior da mente e do equilíbrio humano seja tão almejado pelas pessoas que vão ao cinema ou se fixam na televisão para assistir a filmes de terror. Isso só pode ser explicado pela lei filosófica que estabelece ser o medo o módulo principal do instinto de sobrevivência dos homens e dos animais. Segundo essa lei, sem o medo o homem não sobreviveria, ele se tornaria facilmente vulnerável a todas as adversidades.

Agora mesmo estão sendo lançados no Brasil dois filmes de terror que prometem levar multidões ao cinema: O Amigo oculto e uma nova versão de O Massacre da Serra Elétrica.

Afinal, que motivo arrasta as pessoas ao cinema para experimentarem essa sensação tão sofrida e indesejável que é o medo?

Há quem não perca filme de terror. Esses espectadores sentem-se tomados pelo mesmo medo apavorante que domina os personagens ameaçados no filme. Sofrem gratuitamente com o horror sentido pelas vítimas escolhidas pelo autor da história, pagam ingresso para sofrer.

Só pode haver delícia nesse sentimento masoquista.

Tenho que atribuir a um fator psíquico essa obstinação das pessoas em procurar o medo: de alguma forma a pessoa se deixa mergulhar em tal terror, que, passada a cena horrorizante ou o filme inteiro, o espectador se dá conta de que nada aconteceu com ele, que os perigos configurados por sua mente não redundaram em qualquer dano a si, o que lhe causa um grande alívio.

E essa sensação de ter-se preservado íntegro depois de correr tantos perigos é profundamente deliciosa, um verdadeiro orgasmo cataclísmico. Ou seja, as pessoas que são viciadas em filmes de terror acabam atraídas para o cinema ou televisão pelo prazer sadomasoquista de que, mesmo sentindo um medo gélido e arrepiante, que se abate logicamente também sobre os personagens da ficção, safam-se ao fim das cenas, ou do filme, de todos os riscos e perigos por que passaram ao investirem-se no papel das vítimas da história a que estão assistindo, festejando íntima e efusivamente, ao irem embora para casa, que nada lhes aconteceu, ao contrário dos que tombaram durante o decorrer da película.

O fato gritante é que o homem detesta o medo, mas paradoxalmente o procura, parecendo não poder viver sem ele.

É o caso dos esportes radicais: que impulso ou sentimento leva as pessoas, por exemplo, a deixarem-se amarrar num pé a uma corda elástica de 70 metros de altura e lançarem-se num abismo? É verdade que sentem-se seguras de que não vão se despedaçar no solo, no entanto o medo devastador que sentem no percurso não é presumivelmente suficiente para recompensar-lhes o golpe terrificante que sofrem até que a corda se estique.

O mesmo com os pára-quedistas, com os domadores de feras, com os pilotos de corridas, eles sentem um prazer carnal, uma euforia hedônica ao arriscarem suas vidas.

Não resta dúvida de que estranha e exoticamente o homem busca o medo como forma inseparável de continuar existindo, ou seja, como simplesmente viver já se constitui num risco, não correr risco é morrer.

Não fosse assim e desde o início da humanidade quatrilhões de pessoas não teriam se atirado obstinada, obsessiva, fatal e inevitavelmente ao trágico ou arriscado desatino do casamento.



Paulo Sant'Ana

Zero Hora 27/02/2005

sábado, 29 de outubro de 2011

Valer a pena



“As vezes ouço passar o vento...



E só de ouvir o vento passar



vale a pena ter nascido.”

Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Verdade



E se é verdade que o tempo não volta,



também deveria ser verdade



que os amigos



não se perdem.”




Caio F. Abreu

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sentimentos no lixo



Se meu lixo pudesse falar; ele leria cartas de amor, e recitaria versos de dor.
Ele reclamaria de meus sentimentos, e também de meus segredos. Ele sofreria com papéis rasgados, cheio de ódio de quem os jogou fora.
Meu lixo com certeza é um intelectual, pois já mandei para ele muita tarefa de casa atrasada e também a que tinha de ser refeita. Provavelmente enquanto não estiver tentando decifrar minha confusa letra, ele está tentando digerir o que entendeu.
Meu lixo deve ser sentimental, porque quando canso de algum sentimento é ele a quem recorro. Acho que de tantos sentimentos que meu lixo já tem, com o tempo ele me devolve alguns. O mais recente foi o amor.
E eu quero jogar o amor no lixo, mas o lixo não quer o amor. O lixo já tem a dor, a depressão, a derrota, a desesperança, a desistência... Isso tudo do pequeno dicionário que docemente lhe doei... Em um acesso anti-gramatical recente. Agora que ele sabe o que são, não quer mais.
Mas não entendo porque um lixo tão inteligente foi burro de começar o dicionário ao contrário, então foi lendo: Z, Y, X, W, V... E empacou na letra D.
Mas que lixo burro! Por que foi parar logo nas palavras ruins? Se você for mais um pouco para frente, encontrará a letra A, onde está o amor, e não vai mais ignorar minha oferta!
Ah é? Vou tirar daí de dentro então o meu caderno, de onde você tira suas palavras.
Ah, magoou? Mas é agora que eu pego de volta minhas cartas de amor!
E aí? O que vai fazer? Vou pegar também esses deveres de casa, que você tanto tenta corrigir.
E esse dicionário, obrigada, que começa pela letra A e termina pela letra Z, caso você queira saber.
E agora lixo? Quer o meu amor?
Mas nem esse eu vou mais te dar, porque agora ele tem amigos para conviver no dicionário, e vizinhos com quem conversar em meus textos! E agora lixo? O que me diz?
Puxa... Não sobrou sentimento para o lixo.


Lara Vic.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Direito




“Não se sinta no direito a nada




que você




não tenha lutado ou conseguido




com o seu suor”





Marian W Edelman

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Borboleta



Qual casulo quase seco
que parece padecer,
sou assim neste momento,
esperando envelhecer.
Estou presa às lembranças
de um passado bem distante.
Ouço o vento que balança
minha vida, qual gigante.
Estou sozinha no casulo
respeitando a natureza,
qual lagarta solitária
que ama a vida,
com certeza.
Ao final de cada ciclo
e um passado bem distante,
ganho asas coloridas
e a vida sigo adiante.

Neida Wobeto

domingo, 9 de outubro de 2011

As espigas de Aninha



A estrada da vida
pode ser longa e áspera.
Faça-a mais longa e suave.
Caminhando e cantando
com as mãos cheias de sementes.

A um jovem distante
o Pai deu uma gleba de terra,
e disse: trabalha, produz.
Era no tempo e ele plantou...
E me mandou no tempo quatro espigas de sua planta,
enfeitadas com os selos caros do correio.

Como o Leitor receberia este presente?

Era abril na minha cidade.
Páscoa.
Sempre, abril é Páscoa.
Recebi as espigas resguardadas em meia palha dourada,
símbolo de um trabalho fecundo.

Preparando sua terra
plantando e produzindo,
ele estava esquecendo angústias
do presente
e enchendo a tulha do futuro.

Eu o abençoei de longe
com a ternura dos meus cabelos brancos.


Cora Coralina

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Estou cansado



Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.




De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.




A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.




Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?




Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Filosofia para a velhice



Sabias que a única época da vida em que gostamos de ficar velhos é quando somos crianças? Se tens menos de 10 anos, estás tão entusiasmado em envelhecer que pensas em frações.

“Quantos anos tens? Tenho quatro e meio!”
Tu nunca terás trinta e seis e meio. Tens quatro e meio, quase cinco! Esta é a chave!
Quando chegas à adolescência, ninguém mais te segura. Saltas para um número próximo, ou mesmo alguns à frente.

‘Quantos anos tens?'
‘Vou fazer 16!'
Podes ter 13, mas… “vou fazer 16”!
E, então, o maior dia da tua vida ...
Completaste 21.
Até as palavras soam como uma cerimónia.

COMPLETASTE 21... YESSSS!

Mas, então, chegas aos 30. Oh,
que aconteceu?
Isso faz-te parecer leite estragado! Fica azedo, temos que o deitar fora. Não tem mais graça, agora é apenas um bolo azedo. O que está errado? O que mudou?
COMPLETAS 21, ATINGES 30, aí estás ‘A EMPURRAR' 40. Putz! Trava, está tudo a derrapar! Antes que te dês conta, CHEGAS aos 50 e os teus sonhos foram-se·

Mas, espera!
FIZESTE 60.
Nem sequer pensaste que conseguirias!

Assim, COMPLETAS 21, ‘TORNAS-TE' 30, 'EMPURRAS' os 40, CHEGAS aos 50 e ALCANÇAS os 60.

Atingiste tal velocidade que bates nos 70!
Depois disso, é um dia após o outro…
Alcançaste Wednesday, October 5, 2011!

Conseguiste chegar aos 80 e cada dia é um ciclo completo: alcançaste o almoço; passaste as 4:30 ; chegaste à hora de deitar.
E não acaba nos 90, começas então a voltar atrás:
‘Eu tinha exactamente 92 anos...'

Aí, acontece uma coisa estranha. Se passares dos 100, tornas-te criança outra vez. 'Eu tenho 100 e meio.
Que todos vós chegueis a uns saudáveis 100 e meio!’

George Carlin

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Eu





Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Motivo da rosa



Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Saudade





De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?


De quem é esta saudade,
De quem?


Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...


E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...


De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?



Gilka Machado

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Texturas



Não te preocupes em me decifrar,
sou costurada com a linha da ambigüidade,
vestida de discursos de calar.


Não procure em mim suas verdades
minha bainha não foi feita,
toco em todas as texturas.
Minha cor não foi eleita,
sou camaleão sem cura.

Sou verso de intuição,
pergunta possível,
tentativa de explicação.
Meu verso é repleto de possibilidades,
não possuo seqüência, não possuo métrica.


Sou cúmplice da dualidade,
rima anacrônica perdida na realidade.


Não te preocupes em me decifrar.



Gabriela Marcondes

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Passarinho



Canta, canta, passarinho,
na roseira do caminho,
na roseira em que te vi...
Canta, canta no teu ninho
- passarinho, passarinho,
canta alegre: “ti-tiu-í.


Dorme, dorme, passarinho,
no teu berço bom de arminho,
passarinho que sorri...


Dorme enquanto com carinho
- passarinho, passarinho,
tua Mãe vela por ti...
Cecília Meireles.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Superstição



Eu não sou supersticioso, mas por via das dúvidas não passo debaixo de escada. A desculpa de sempre é que estou sendo prudente, para evitar que caia uma lata de tinta na minha cabeça. Outro dia, um gato preto cruzou na minha frente. Saí correndo feito um louco, dei meia volta no gato e descruzei o nó. Vai saber. Não dá pra dar sorte ao azar.

Essas bobagens são crendices populares que não atingem um sujeito racional como eu, com curso superior completo e capacidade de reflexão. Mas, como diz o ditado, “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

Tem muito jogador de futebol que só entra em campo com o pé direito e fazendo o sinal da cruz. Mais por hábito do que qualquer outra coisa, me acostumei a começar meu dia assim, saindo da cama como se estivesse pisando no gramado. Virou um costume. Aí, aconteceu que um certo dia levantei com o pé esquerdo e o Internacional perdeu um jogo decisivo. Talvez tenha sido só uma coincidência, mas me senti culpado.

Meu irmão me deu um trevo de quatro folhas. Dizem que dá sorte. Não consigo entender porque uma aberração da natureza poderia dar sorte. Pra não ser mal educado, guardei o presente no meio do livro da Martha Medeiros que estou lendo. Minha vida não teve maiores alterações, mas notei que o livro pulou para as primeiras posições na lista dos mais vendidos. Aproveitei e coloquei a plantinha, com toda sua força sobrenatural, dentro da minha carteira de dinheiro. Tenho grandes expectativas de que a mágica funcione e, no futuro, eu possa até mesmo entrar para o mercado financeiro. Minha mão já começou a coçar.

Entusiasmado com uma possível maré de boa sorte, comprei uma ferradura e um chaveiro de pé de coelho. São amuletos que trazem saúde, paz e felicidade, além de dinheiro, que não é tão importante quanto uma vida saudável, mas é quem paga a fatura do seguro saúde. E, com certeza, vai melhorar o meu ranking de investimentos no mercado financeiro.

Mesmo que você não leve a sério essas coisas, não custa nada tomar cuidado. Aí vão algumas dicas. Não abrir guarda chuva dentro de casa, nem deixar sapato virado de boca pra baixo. Espelho quebrado, 7 anos de azar. Sexta feira 13, é melhor nem sair na rua. Tem certos dias em que os astros estão de mau humor. Não me pergunte porque.

Eu, sinceramente, não acredito em nada disso. Apenas respeito e, por via das dúvidas, bato na madeira três vezes pra garantir a proteção. Não dá pra brincar com essas coisas.

Kledir Ramil

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ricardo Macchi em seu melhor papel



A escalação de artistas em propaganda de TV é um recurso eficiente e legítimo, ainda mais quando bem utilizada, o que acontece quase sempre. Mas vez que outra eles pagam mico. Lembro que há muitos anos escrevi uma crônica chamada “Cachê vexame”. Faz tanto tempo, que nem a tenho mais em arquivo. Na época, ainda trabalhava com publicidade e citei casos de atrizes que andavam expondo sua vida íntima, como quando Gloria Pires confidenciou que o marido tinha caspa e Suzana Vieira revelou que usava dentadura. Não devia ser verdade e, se fosse, não seria demérito, mas elas poderiam ter evitado algumas piadas. E não acreditei quando vi outro dia a linda e talentosa Camila Pitanga dizendo que jamais seria escalada para grandes papéis se não tivesse trocado de desodorante.

No entanto, há uma nova tendência na utilização de artistas que pode parecer vexatória, mas não é. Mês passado entrou no ar um comercial de seguradora de veículos em que um ladrão desiste de roubar o carro ao perceber que Byafra está no banco de trás, com um microfone na mão, pronto para cantar. O ladrão põe as mãos nos ouvidos e se manda. E a propaganda do momento é o ator Ricardo Macchi, com seu 1m90cm, dizendo para a câmera o mesmo texto que o baixinho Dustin Hoffman, numa comparação cênica evidentemente desigual. O produto é um carro compacto, cujo slogan é “Não basta ser grande para ser bom” ou algo assim.

Byafra e Ricardo Macchi estariam passando vergonha? Duvido. Não conheço nenhum dos dois e pode ser que tenham aceitado a empreitada por questões financeiras e para voltar à mídia, já que andavam desaparecidos, mas há outros dois componentes a serem levados em consideração, e o bom humor é um deles. Óbvio que ambos estavam conscientes de que seriam satirizados, mas levaram fé no espírito de galhofa do brasileiro e apostaram que sairiam com a imagem inabalada. Ou abalada para melhor: em geral, aplaudimos quem não se leva tão a sério. Esse bom humor não é exigido apenas dos outsiders da fama: há pouco tempo, os galãs Reynaldo Gianecchini, Vladimir Brichta e Marcio Garcia toparam ser esnobados por uma estranha em prol de uma marca de margarina.

O outro componente é o da vaidade controlada. Não sei se Byafra e Ricardo Macchi são tão pavões, a ponto de não recusarem uma oferta de aparecer na TV, seja da forma que for, mas acredito que a vaidade deles seja do tipo normal, sem megalomania: eles não brigam contra a imagem pública que possuem, logo, não se estressam. O que importa é quem eles são por trás das câmeras, sujeitos provavelmente de bem com a vida.

Esse é o papel de Macchi no momento: mostrar que sua grandeza não está no seu 1m90cm, mas no desprendimento em saber brincar.


Martha Medeiros
Zero Hora 07/09/2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Loucura



Muita loucura é sabedoria divina
Para um olho inteligente.
Muita sabedoria, pura loucura.
Mas, como sempre,
A maioria domina:
Se você concorda, é boa gente.
Se nega, um perigoso sem cura.
Melhor prender com corrente.

Emily Dickinson

sábado, 10 de setembro de 2011

Outra face da mesma pessoa



Uma das mais preciosas lições que temos nos vem da Antiguidade: “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”.

O que muito noto na vida é que as pessoas não são o que parecem.

Se eu tivesse de escrever um conto a respeito, inventaria um personagem humano que onde quer que fosse carregaria como sua sombra um leão.

Todos elogiavam aquela mulher como dona de muitos atributos, qualidades e virtudes. E o marido daquela mulher replicava a todos eles: “Vão viver com ela e vocês deixarão de ter essa impressão”.

Ser é uma coisa, parecer é outra bem diferente. Por exemplo, na minha rua, quando de minha infância, havia um homem que passava pelos diversos bares do bairro sem nunca entrar em nenhum deles para tomar um trago.

Todos achavam que se tratava de um homem de hábitos puros, sensato, cumpridor de seus deveres e ótimo chefe de família.

Foi se saber com o tempo que aquele homem, no recôndito de seu lar, era um alcoolista inveterado e que em meio a seus porres espancava largamente sua mulher e seus filhos.




Um homem aparentemente inofensivo, amável, atencioso pode na sua intimidade tornar-se um ser agressivo e intolerante.

As aparências enganam. O próprio chato é uma criatura que inicialmente se apresenta como alguém simpático e logo em seguida fica difícil de aturar.

Conheci, certa vez, um torturador que mostrava unhas feitas, tinha modos gentis e se dirigia a todos na rua com muita delicadeza. E, à noite, tomava conta de seu calabouço e despedaçava sua vítimas indefesas.

Isso tudo acontece porque as pessoas cuidam muito bem de sua aparência. E muitas delas tem um outro zelo mais profundo a respeito: tratam de moldar a sua aparência com tintas exatamente antípodas às de sua verdadeira personalidade.

Um homem que parece ser bom pode ser mau. E um que aparenta bondade pode ser munido de extrema crueldade.

Por isso é que muitas vezes dizemos a alguém: “Ué, não estou te conhecendo. Tu não me parecias ser assim. O que está havendo contigo?”.

É que parece que desconhecemos que um ser humano pode ter diversas faces: Hitler era pintor, Nero foi cantor e ator.

Tenhamos, pois, sempre em mente que o que é pode não parecer e o que parece pode não ser.

Um dos exemplos mais elucidativos dessa questão foi que notei que, sempre que saía nos jornais a notícia de que um pitbull ou um rottweiler estraçalhavam uma pessoa, o dono do animal, toda as vezes, declarava: “Não posso entender, ele era tão mansinho”.


Paulo Sant'Ana
Zero Hora 08/09/2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Faróis




Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que conseqüências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar ...
Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...
Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...
Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes ...

Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

As uvas e o vento



...Tu perguntas o que a lagosta tece

Lá embaixo...
Com seus pés dourados.
Respondo que o oceano sabe.
E por quem a medusa espera,
em sua veste transparente?
Está esperando pelo
tempo, como tu.
Quem as algas apertam
Em seu abraço... perguntas...
Mais firme que uma hora e
Um mar certos? Eu sei.
Perguntas sobre a mesa
Branca do narval...
E eu respondo cantando como
Unicórnio do mar, arpoado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei
Pescador...
Que vibrou nas puras
Primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano
Sabe isto: que a vida...
Em seus estojos de jóias,
É infinita como areia,
Incontável, pura; e o tempo,
Entre as uvas cor-de-sangue...
Tornou a pedra dura e lisa,
Encheu a água-viva de luz...
Desfez o seu nó, soltou
Seus fios musicais...
De uma cornucópia feia
De infinita madrepérola.
Sou só a rede vazia diante dos
Olhos humanos na escuridão...
E de dedos habituados à longitude
Do tímido globo de uma laranja.
Caminho, como tu, investigando
A estrela sem fim...
E em minha rede, durante
A noite, acordo nu.
A única coisa capturada
É um peixe...
Preso dentro do vento
Investigando a estrela sem fim...

Pablo Neruda