A escalação de artistas em propaganda de TV é um recurso eficiente e legítimo, ainda mais quando bem utilizada, o que acontece quase sempre. Mas vez que outra eles pagam mico. Lembro que há muitos anos escrevi uma crônica chamada “Cachê vexame”. Faz tanto tempo, que nem a tenho mais em arquivo. Na época, ainda trabalhava com publicidade e citei casos de atrizes que andavam expondo sua vida íntima, como quando Gloria Pires confidenciou que o marido tinha caspa e Suzana Vieira revelou que usava dentadura. Não devia ser verdade e, se fosse, não seria demérito, mas elas poderiam ter evitado algumas piadas. E não acreditei quando vi outro dia a linda e talentosa Camila Pitanga dizendo que jamais seria escalada para grandes papéis se não tivesse trocado de desodorante.
No entanto, há uma nova tendência na utilização de artistas que pode parecer vexatória, mas não é. Mês passado entrou no ar um comercial de seguradora de veículos em que um ladrão desiste de roubar o carro ao perceber que Byafra está no banco de trás, com um microfone na mão, pronto para cantar. O ladrão põe as mãos nos ouvidos e se manda. E a propaganda do momento é o ator Ricardo Macchi, com seu 1m90cm, dizendo para a câmera o mesmo texto que o baixinho Dustin Hoffman, numa comparação cênica evidentemente desigual. O produto é um carro compacto, cujo slogan é “Não basta ser grande para ser bom” ou algo assim.
Byafra e Ricardo Macchi estariam passando vergonha? Duvido. Não conheço nenhum dos dois e pode ser que tenham aceitado a empreitada por questões financeiras e para voltar à mídia, já que andavam desaparecidos, mas há outros dois componentes a serem levados em consideração, e o bom humor é um deles. Óbvio que ambos estavam conscientes de que seriam satirizados, mas levaram fé no espírito de galhofa do brasileiro e apostaram que sairiam com a imagem inabalada. Ou abalada para melhor: em geral, aplaudimos quem não se leva tão a sério. Esse bom humor não é exigido apenas dos outsiders da fama: há pouco tempo, os galãs Reynaldo Gianecchini, Vladimir Brichta e Marcio Garcia toparam ser esnobados por uma estranha em prol de uma marca de margarina.
O outro componente é o da vaidade controlada. Não sei se Byafra e Ricardo Macchi são tão pavões, a ponto de não recusarem uma oferta de aparecer na TV, seja da forma que for, mas acredito que a vaidade deles seja do tipo normal, sem megalomania: eles não brigam contra a imagem pública que possuem, logo, não se estressam. O que importa é quem eles são por trás das câmeras, sujeitos provavelmente de bem com a vida.
Esse é o papel de Macchi no momento: mostrar que sua grandeza não está no seu 1m90cm, mas no desprendimento em saber brincar.
Martha Medeiros
Zero Hora 07/09/2011
No entanto, há uma nova tendência na utilização de artistas que pode parecer vexatória, mas não é. Mês passado entrou no ar um comercial de seguradora de veículos em que um ladrão desiste de roubar o carro ao perceber que Byafra está no banco de trás, com um microfone na mão, pronto para cantar. O ladrão põe as mãos nos ouvidos e se manda. E a propaganda do momento é o ator Ricardo Macchi, com seu 1m90cm, dizendo para a câmera o mesmo texto que o baixinho Dustin Hoffman, numa comparação cênica evidentemente desigual. O produto é um carro compacto, cujo slogan é “Não basta ser grande para ser bom” ou algo assim.
Byafra e Ricardo Macchi estariam passando vergonha? Duvido. Não conheço nenhum dos dois e pode ser que tenham aceitado a empreitada por questões financeiras e para voltar à mídia, já que andavam desaparecidos, mas há outros dois componentes a serem levados em consideração, e o bom humor é um deles. Óbvio que ambos estavam conscientes de que seriam satirizados, mas levaram fé no espírito de galhofa do brasileiro e apostaram que sairiam com a imagem inabalada. Ou abalada para melhor: em geral, aplaudimos quem não se leva tão a sério. Esse bom humor não é exigido apenas dos outsiders da fama: há pouco tempo, os galãs Reynaldo Gianecchini, Vladimir Brichta e Marcio Garcia toparam ser esnobados por uma estranha em prol de uma marca de margarina.
O outro componente é o da vaidade controlada. Não sei se Byafra e Ricardo Macchi são tão pavões, a ponto de não recusarem uma oferta de aparecer na TV, seja da forma que for, mas acredito que a vaidade deles seja do tipo normal, sem megalomania: eles não brigam contra a imagem pública que possuem, logo, não se estressam. O que importa é quem eles são por trás das câmeras, sujeitos provavelmente de bem com a vida.
Esse é o papel de Macchi no momento: mostrar que sua grandeza não está no seu 1m90cm, mas no desprendimento em saber brincar.
Martha Medeiros
Zero Hora 07/09/2011
Gosto de ler Martha Medeiros. Passei para desejar um bom domingo e uma excelente semana.
ResponderExcluir"Viva o hoje, porque o ontem já passou e o amanhã talvez nem chegue."
(Antoine de Saint-Exupéry)
Beijinhos
Maria