terça-feira, 29 de junho de 2010

Pintassilgo




O pintassilgo diz:
- nada me consola,
eu não sou feliz

nesta gaiola.

Do céu azul e da amplidão
eu sinto muitas saudades.
Não quero esta solidão
cada minuto e segundo.

Crianças, quebrem as grades
de todas as gaiolas do mundo.




Sidónio Muralha

Queixa antiga


É uma dor que me dói muito longe...
Dor antiga, separada do corpo.

É uma dor que me dói não sei onde,
meio física, metade celeste.

Um tanto minha, outro tanto da terra.

Veja o galho cortado a uma fronde
e que ainda dá flores sentidas
e que assim à sua árvore responde.

Seu futuro parece o meu passado:
minhas longas raízes ficaram
no chão duro de onde fui arrancado.

(No chão duro onde arroios felizes
ainda cantam pelos vãos do passado).

Cassino Ricardo

domingo, 27 de junho de 2010

Passando dos cinquenta


Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.


E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.


E as pálpebras
apertadas no sol.

Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.


Marina Colassanti

Um prícipe entre os Zulus

Diziam, os contemporâneos da espanhola Eugênia, que ela era a mulher mais linda da Europa. Seus longos cabelos maravilhavam toda a gente. Eram de uma cor exótica, conhecida como castanho-ticiano, um tom de castanho empregado pelo pintor Ticiano mais de 300 anos antes. Conheço uma mulher com cabelos castanho-ticiano. Ela tem pernas longas e… Mas estou tergiversando. Voltemos a Eugênia.

Foi educada em Paris. Frequentava a corte francesa. O imperador Napoleão III, sobrinho do Napoleão quente, enamorou-se dela. Uma noite, aproximou-se e lhe sussurrou com voz rouca ao lóbulo da orelha:

- Qual é o caminho mais curto para os seus aposentos?

E Eugênia, impávido colosso:

- Pela capela, meu senhor. Pela capela.

Deu certo. Casaram-se, ela se tornou imperatriz e deu-lhe um filho, o príncipe Eugênio.

Quando Napoleão III foi derrubado, o que os franceses fizeram muito bem, a família exilou-se na Inglaterra. Em 1879, estourou a guerra entre o império britânico e os zulus aqui desta região de Durban, onde o Brasil conquistou o primeiro lugar em seu grupo na Copa da África. O príncipe Eugênio, já em idade de servir o exército, foi mandado para o conflito. Os comandantes ingleses, porém, receberam instruções para não submetê-lo a riscos.

De nada adiantaram as orientações. Um dia, o príncipe foi autorizado a incorporar-se a uma coluna de vanguarda. Adiantou-se, ladeado por dois oficiais. E caiu numa emboscada. Os ferozes guerreiros zulus os cercaram, o cavalo do príncipe testavilhou, e ele caiu. Ao levantar-se para deter o cavalo, viu-se presa dos inimigos. Que não se deram o trabalho de capturá-lo. Mataram-no ali mesmo, junto com seus dois companheiros, como se fossem David Villa executando um goleiro.

A morte do filho único ensombreceu a vida da imperatriz. Eugênia, antes tão vivaz, caiu em tristeza profunda e passou a vestir-se unicamente de preto. Pediu à rainha Vitória permissão para viajar à África do Sul para resgatar o corpo do filho. Vitória concedeu-lhe esta mercê. Eugênia atravessou o oceano e foi até o local onde o filho havia sido abatido. Mas ninguém sabia dizer onde o corpo fora enterrado - o mato crescera e tomara conta do local. Os soldados procuravam e não conseguiam encontrar vestígios da cova. De repente, Eugênia os chamou. Voltaram-se para ela. Estava tesa.

- Estou sentindo cheiro de violetas - disse a imperatriz. - Violetas sempre foram as flores preferidas do meu filho. O cheiro vem de lá.

Eugênia encaminhou-se para o lugar de onde vinha o cheiro de violetas. Apontou-o. E, realmente, era lá que o filho estava sepultado. O sentimento de uma mãe faz milagres acontecerem.


David Coimbra

ZH 26/06/2010

sábado, 26 de junho de 2010

Sapatos novos


A situação estava razoavelmente sob controle: se minha condição de extra mensalista do IAPC me sujeitava a um salário baixo, o cartão falso de estudante, que me permitia almoçar no Calabouço por dois cruzeiros, aliviava a barra. Uma vaga de quarto na pensão da rua Carlos Sampaio não custava muito. E ainda havia os trocados que pingavam da colaboração eventual no suplemento literário do Correio da Manhã ou do Diário de Notícias. O meu único terno, comprado a prestações num alfaiate da rua do Resende, estava pago. O problema grave no momento eram os sapatos, cujos solados gastos já me deixavam sentir diretamente no pé a aspereza das calçadas do Rio. Em bom português: estavam furados.
Por isso mesmo, não resisti ao ver, na vitrine de uma sapataria da Lapa, um par de sapatos por 150 cruzeiros. Maravilha! Hoje, após tantos cortes de zeros no cruzeiro e até a mudança do nome da moeda, será difícil para o leitor avaliar o preço desses sapatos. Mas eram baratos, sem dúvida alguma. Entrei, experimentei-os e decidi que devia comprá-los, embora estivessem um pouco apertados. Um pouco, foi o que disse a mim mesmo, porque aquela pechincha era minha salvação.
Estavam de fato muito apertados, tanto que, ao chegar à redação da revista do IAPC, onde trabalhava, ali na rua Alcindo Guanabara, meus pés ardiam em brasa. Com alívio, tirei-os dos pés e calcei de novo os sapatos furados que, providencialmente, trouxera comigo. Fui até o banheiro, molhei bem os sapatos novos e deixei-os ali, certo de que, quando secassem, estariam mais macios. Era verão e foi sob um sol de fogo que caminhei até o Calabouço para almoçar aquele dia. À tarde dei uma volta pelas livrarias, só pra ver os livros, e à noite tomei o meu cuba-libre com os amigos no então famoso Vermelhinho, em frente à ABI. Dormi pensando em meus sapatos novos.
Acordei pensando neles. Certamente ia poder calçá-los agora. Quase aflito, rumei para o IAPC, subi de elevador, abri a porta da repartição, dirigi-me ao banheiro onde deixara os sapatos sobre a pia. E lá estavam eles, secos, melhor dizendo: ressequidos, isto é, duros, rijos como casco de burro. Mesmo assim, tratei de calçá-los, o que só consegui com enorme esforço. "Pronto", disse, terminando de lhes amarrar o cordão. Meu pé soltava faísca espremido ali dentro. Senti que não conseguiria dar um passo. Só há um jeito, pensei, e fui logo à prática: bati violentamente com o pé calçado no chão para forçar o couro a alargar-se. Foi uma patada só e o sapato explodiu.




Ferreira Gullar

Curso


E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixe seu ritmo onde passa.

Venho de longo e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute ?

Ah! se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que algum ouvido me escute ?

Ah! se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim ?
Cecilia Meireles

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Chuva de vento

Imagem:www.paisagismobrasil.com.br
De que distância
chega essa chuva
de asas, tangida
pela ventania?

Vem de que tempo?
Noturna agora
a chuva morta
bate na porta.

(As biqueiras da infância, as lavadeiras
correm, tiram as roupas do varal,
relinchos do cavalo na campina,
tangerinas e banhos no quintal,
potes gorgolejando, tanajuras,
os gansos, a lagoa, o milharal.)

De onde vem essa
chuva trazida
na ventania?

Que rosas fez abrir?
Que cabelos molhou?

Estendo-lhe a mão: a chuva fria.


Mauro Mota

terça-feira, 22 de junho de 2010

Os excluídos


Ao contrário do que o título desta crônica possa sugerir, não vou falar sobre aqueles que vivem à margem da sociedade, sem trabalho, sem estudo e sem comida. Quero fazer uma homenagem aos excluídos emocionais, os que vivem sem alguém para dar as mãos no cinema, os que vivem sem alguém para telefonar no final do dia, os que vivem sem alguém com quem enroscar os pés embaixo do cobertor. São igualmente famintos, carentes de um toque no cabelo, de um olhar admirado, de um beijo longo, sem pressa pra acabar.

A maioria deles são solteiros, os sem-namorado. Os que não têm com quem dividir a conta, não têm com quem dividir os problemas, com quem viajar no final de semana. É impossível ser feliz sozinho? Não, é muito possível, se isso é um desejo genuíno, uma vontade real, uma escolha. Mas se é uma fatalidade ao avesso - o amor esqueceu de acontecer - aí não tem jeito: faz falta um ombro, faz falta um corpo.

E há aqueles que têm amante, marido, esposa, rolo, caso, ficante, namorado, e ainda assim é um excluído. Porque já ultrapassou a fronteira da excitação inicial, entrou pra zona de rebaixamento, onde todos os dias são iguais, todos os abraços, banais, todas as cenas, previsíveis. Não são infelizes e nem se sentem abandonados. Eles possuem um relacionamento constante, alguém para acompanhá-los nas reuniões familiares, alguém para apresentar para o patrão nas festas da empresa. Eles não estão sós, tecnicamente falando. Mas a expulsão do mundo dos apaixonados se deu há muito. Perderam a carteirinha de sócios. Não são mais bem-vindos ao clube.


Como é que se sabe que é um excluído? Vejamos: você passa por um casal que está se beijando na rua - não um beijinho qualquer, mas um beijo indecente como tem que ser, que torna tudo em volta irrelevante - você inclusive. Se lhe bate uma saudade de um tempo que parece ter sido vivido antes de Cristo, se você sente uma fisgada na virilha e tem a impressão que um beijo assim é algo que jamais se repetirá em sua vida, se de certa forma este beijo que você assistiu lhe parece um ato de violência - porque lhe dói - então você está fora de combate, é um excluído.

A boa notícia: você não é um sem trabalho, sem estudo e sem comida - é apenas um sem-paixão. Sua exclusão pode ser temporária, não precisa ser fatal. Menos ponderação, menos acomodação, e olha só você atualizando sua carteirinha. O clube segue de portas abertas.

Martha Medeiros

Saber viver


Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar !


Cora Coralina

O menos vendido


Custa muito
pra se fazer um poeta.
Palavra por palavra,
fonema por fonema.


Às vezes passa um século
e nenhum fica pronto.


Enquanto isso,
quem paga as contas,
vai ao supermercado,
compra o sapato das crianças?


Ler seu poema não custa nada.
Um poeta se faz com sacrifício.
É uma afronta à relação custo-benefício.

Ricardo Silvestrin

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O amor dos outros

O amor dos outros
é indiferente.
Só o da gente
é especial,
fosforescente,
brilha no escuro.

O amor dos outros
é tão pequeno,
nem vale a pena
pichar o muro.

Ninguém entende
o amor alheio;
não é bonito
e não é feio.
O amor dos outros
é tão efêmero!
Estão amando?
Fazendo gênero?

O amor dos outros
é muito pouco:
só o da gente,
direito ou torto,
alegre ou triste,
sereno ou louco,
lascivo ou puro,
céu ou inferno
— só o da gente
será eterno.

Olha pro rosto
do amor alheio:
são só dois olhos,
nariz no meio,
cadê a boca?
Olha pra cara
do amor da gente:
que coisa louca!

Betty Vidigal

Tua fala



Tua fala parecia
uma rede de varandas,
branca,
no meio da sala.

(Uma coisa que envolve
e, ao mesmo tempo, se esquiva):
gesto seco de uma chama,
morrendo,
e sempre mais viva.

Era assim, tua palavra:
escorreita, sem medida.
Falas como pés descalços,
presos à relva macia.
Ou um cheiro de curral
quando a manhã principia.

(Tua fala parecia
a rede, toda bordada,
onde a noite amanhecia).


Everardo Norões

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Amizade, amor


Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo.

Amor: quando o silêncio a dois se torna cômodo.
Mario Quintana

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fuga em azul menor


O meu rosto de terra
ficará aqui mesmo
no mar ou no horizonte.
Ficará defronte
à casa onde morei.
Mas o meu rosto azul,
O meu rosto de viagem,
esse, irá pra onde irei.

Todo o mundo físico
que gorjeia lá fora
não me procure agora.
Embarquei numa nuvem
por um vão de janela
dos meus cinco sentidos.
E que adianta a alegria
dizer que estou presente
com o meu rosto de terra
se não estou em casa?

Inútil insistência.
Cortei em mim a cauda
das formas e das cores.
(A abstração é uma forma
de se inventar a ausência)
e estou longe de mim
nesta viagem abstrata
sem horizonte e fim.

Um dia voltarei
qual pássaro marítimo,
numa tarde bem mansa
à hora do sol posto.
Então, loura criança,
Ouvirás o meu ritmo
e me perguntarás:
quem és tu, pobre ser?
Mas, eu vim de tão longe
e tão azul de rosto
que não me podes ver.

A graça de quem mora
no país da ausência
certo consiste nisto:
ficar azul de rosto
pra não poder ser visto.

Cassiano Ricardo

Outro Epigrama


Se perdi a inocência
para ganhar o pão de cada dia,
com o suor do próprio rosto
lamento apenas tenha sido tão escassa
a inocência de que eu era servido.

Para que tão facilmente eu a houvesse perdido
e o pão de cada dia, em conseqüência,
me seja, agora, uma simples migalha.

Por que não foi maior minha inocência?


Cassiano Ricardo

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Posso errar?


Há pouco tempo fui obrigada a lavar meus cabelos com o xampu errado.

Foi num hotel, onde cheguei pouco antes de fazer uma palestra e, depois de ver que tinha deixado meu xampu em casa, descobri que não havia farmácia nem shopping num raio de 10 quilômetros. A única opção era usar o dois-em-um (xampu com efeito condicionador) do kit do hotel.
Opção? Maneira de dizer.


Meus cabelos, superoleosos, grudam só de ouvir a palavra “condicionador”. Mas fui em frente. Apliquei o produto cautelosamente, enxaguei, fiz a escova de praxe e... surpresa! Os cabelos ficaram soltos e brilhantes — tudo aquilo que meus nove vidros de xampu “certo” que deixei em casa costumam prometer para nem sempre cumprir.


Foi aí que me dei conta do quanto a gente se esforça para fazer a coisa certa, comprar o produto certo, usar a roupa certa, dizer a coisa certa — e a pergunta que não quer calar é: certa pra quem? Ou: certa por quê?
O homem certo, por exemplo: existe ficção maior do que essa?


Minha amiga se casou com um exemplar da espécie depois de namorá-lo sete anos. Levou um mês para descobrir que estava com o marido errado. Ele foi “certo” até colocar a aliança. O que faz surgir outra pergunta: certo até quando?
Porque o certo de hoje pode se transformar no equívoco monumental de amanhã. Ou o contrário: existem homens que chegam com aquele jeito de “nada a ver”, vão ficando e, quando você se assusta, está casada — e feliz — com um deles.


E as roupas? Quantos sábados você já passou num shopping procurando o vestido certo e os sapatos certos para aquele casamento chiquérrimo e, na hora de sair para a festa, você se olha no espelho e tem a sensação de que está tudo errado? As vendedoras juraram que era a escolha perfeita, mas talvez você se sentisse melhor com uma dose menor de perfeição.
Eu mesma já fui para várias festas me sentindo fantasiada. Estava com a roupa “certa”, mas o que eu queria mesmo era ter ficado mais parecida comigo mesma, nem que fosse para “errar”.


Outro dia fui dar uma bronca numa amiga que insiste em fumar, apesar dos problemas de saúde, e ela me respondeu: “Eu sei que está errado, mas a gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem graça. O que eu queria mesmo era trair meu marido, mas isso eu não tenho coragem. Então eu fumo”. Sem entrar no mérito da questão — da traição ou do cigarro —, concordo que viver é, eventualmente, poder escorregar ou sair do tom. O mundo está cheio de regras, que vão desde nosso guarda-roupa, passando por cosméticos e dietas, até o que vamos dizer na entrevista de emprego, o vinho que devemos pedir no restaurante, o desempenho sexual que nos torna parceiros interessantes, o restaurante que está na moda, o celular que dá status, a idade que devemos aparentar.


Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado.
O filósofo Mario Sergio Cortella conta que muitas pessoas se surpreendem quando constatam que ele não sabe dirigir e tem sempre alguém que pergunta: “Como assim?! Você não dirige?!”. Com toda a calma, ele responde: “Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios — tem um punhado de coisas que eu não faço”.


Não temos que fazer tudo que esperam que a gente faça nem acertar sempre no que fazemos. O certo ou o “certo” pode até ser bom. Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso.


Leila Ferreira

domingo, 13 de junho de 2010

Perguntas



Quantas vezes você andava na rua e sentiu um perfume e lembrou de alguém que gosta muito?
Quantas vezes você olhou para uma paisagem em uma foto, e não se imaginou lá com alguém...
Quantas vezes você estava do lado de alguém, e sua cabeça não estava ali?
Alguma vez você já se arrependeu de algo que falou dois segundos depois de ter falado?
Você deve ter visto que aquele filme, que vocês dois viram juntos no cinema, vai passar na TV...
E você gelou porque o bom daquele momento já passou...
E aquela música que você não gosta de ouvir porque lembra algo ou alguém que você quer esquecer mas não consegue?
Não teve aquele dia em que tudo deu errado, mas que no finzinho aconteceu algo maravilhoso?
E aquele dia em que tudo deu certo, exceto pelo final que estragou tudo?
Você já chorou por que lembrou de alguém que amava e não pôde dizer isso para essa pessoa?
Você já reencontrou um grande amor do passado e viu que ele mudou?
Para essas perguntas existem muitas respostas...
Mas o importante sobre elas não é a resposta em si...
Mas sim o sentimento...
Todos nós amamos, erramos ou julgamos mal...
Todos nós já fizemos uma coisa quando o coração mandava fazer outra...
Então, qual a moral disso tudo?
Nem tudo sai como planejamos portanto, uma coisa é certa...
Não continue pensando em suas fraquezas e erros, faça tudo que puder para ser feliz hoje!
Não deite com mágoas no coração.
Não durma sem ao menos fazer uma pessoa feliz!
E comece com você mesmo!!!


Martha Medeiros

sábado, 12 de junho de 2010

Believe

I believe in love, it's all we got
Eu acredito no amor,é tudo que nós temos
Love has no boundaries, costs nothing to touch
O amor não tem fronteiras,não custa nada alcançá-lo
War makes money, cancer sleeps
A guerra faz dinheiro,o câncer adormece
Curled up in my father and that means something to me
Enrolado em meu pai, e o que significa algo para mim
Churches and dictators, politics and papers
Igrejas e ditaduras,polícias e papéis
Everything crumbles sooner or later
Tudo se desintegra,mais cedo ou mais tarde
But love, I believe in love
Menos o amor, eu acredito no amor

I believe in love, it's all we got
Eu acredito no amor, é tudo que nós temos
Love has no boundaries, no borders to cross
O amor não tem fronteiras,sem limites para cruzar
Love is simple, hate breeds
O amor é simples, o ódio se origina
Those who think difference is the child of disease
Daqueles que pensam que diferente,é a criança doente
Father and son make love and guns
Pais e filhos fazem amor e armas,
Families together kill someone
Famílias juntas matam alguém
Without love, I believe in love
Sem amor, eu acredito no amor

Without love I wouldn't believe
Sem amor eu não acreditaria
In anything that lives and breathes
Em qualquer coisa que vive e respira
Without love I'd have no anger
Sem amor eu não teria raiva
I wouldn't believe in the right to stand here
Eu não acreditaria no direito de permanecer aqui
Without love I wouldn't believe
Sem amor eu não acreditaria
I couldn't believe in you
Eu não poderia acreditar em você
And I wouldn't believe in me
E não acreditaria em mim
Without love
Sem amor

I believe in love
Eu acredito no amor
I believe in love
Eu acredito no amor
I believe in love
Eu acredito no amor

ELTON JOHN

O fim do amor


Será possível esquecer um grande amor, mesmo que não sobreviva mais o amor?

Mais fortes que o desejo de esquecer são as transformações físicas que se abatem sobre quem terminou um grande amor, coração batendo a mil, adrenalina, borboletas no estômago.

Os médicos dizem que quem terminou um grande amor tem de reforçar as emoções negativas ligadas à pessoa e mudar o foco.

Em suma, dá para traduzir, para se esquecer um grande amor e expulsá-lo das nossas entranhas só existe uma receita: arranjar um outro grande amor.

Caso contrário, vai se repetir o ramerrão.

E diz mais um famoso neurologista: ficar só, não amar mais, não ajuda a superar o caso.

Vejam que mão de obra: seu amor pode ter azedado, mas as lembranças negativas permanecem e fazem disparar as reações físicas adversas. Ou seja, o amor perdido permanece no ser da gente, ainda que as lembranças últimas que se tenha dele sejam negativas.

Porque as impressões do namoro permanecem inalteradas.

Quando se acaba um grande amor, as impressões residuais, inclusive as manifestações físicas delas decorrentes, sequestram os pensamentos, não precisa que a gente se recorde do ex, o córtex pré-frontal traz à tona as lembranças da relação perdida, mesmo que a pessoa não faça mais parte da sua vida.

É tão grande o dano causado a uma pessoa que terminou uma relação de amor, que dificilmente ele se apagará.

O que remete ao risco que todo grande amor encerra: o do fim. Encerrar um caso de amor, portanto, não é dar fim à dor. É dar trânsito a ela com o distanciamento.
O tempo, pois, não apaga a lembrança de um grande amor. Essa recordação incômoda ou cruciante é como os vícios, não se pode livrar-se deles.

Por isso é que às vezes constatamos pessoas que praticamente tiveram suas vidas tortas ao findarem um relacionamento: por mais que dissimulem, não é difícil notar que a vida para elas se acabou.

Por onde for alguém que teve um grande amor interrompido, a lembrança dolorida do caso irá também trilhando as mesmas ruas.

Um grande amor perdido se cola ao corpo, senão como tatuagem, então como cicatriz.

É impossível apagar a sua marca. Porque ele deixou vestígios irremovíveis.

Se não arranjar um outro grande amor, você será para sempre um ser arrastado e inútil.

Pressentindo isso é que muitas pessoas revelam um temor, que chega quase à ojeriza, em se apaixonarem: sabiamente intuem que o amor pode terminar um dia e será impossível sustentar a dor da lembrança dele, repito, mesmo que já não se ame mais a outra pessoa.

É o tal de medo do amor, medo do envolvimento.

Não amar, por incrível que pareça, é melhor do que ter o coração dilacerado pela separação amorosa.

Paulo Sant'Ana
Zero Hora 12/06/2010

Felicidade


Felicidade
- o título tão comprido
deste poema tão pequeno!
Felicidade
- substantivo comum,
feminino,
singular,
polissilábico.

Tão polissilábico.
Tão singular.
Tão feminino.
E tão pouco comum.

Substantivo complicado,
metafísico,
que cabe todo na beleza clara
de alguém que eu sei
e no sorriso sem dentes
de meu filho

Abgar Renault

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mãe e filho


Mãe ! A teu filho muitas vezes dissestes
Que o céu tem anjos e o há
Só alegrias no viver celeste
E que é melhor viver por lá;
Que é um zimbório de pilastras belas,
Tenda de ricas cores;
Jardim de anil e lúcido de estrelas
Que se abrem como flores;
Que é o mundo dos seres invisíveis
Do qual Deus é o autor,
De místico azul, de inexauríveis
Gozos, do eterno amor;
Que é doce lá, num êxtase que encanta,
Sentir que a alma se abrasa,
E viver com Jesus e a Virgem Santa
Numa tão linda casa...


Mas nunca lhe disseste, inconsolável
Mãe, chorosa mulher,
Que ele, o pequeno, te era indispensável,
Que ele te era necessário;
Que pelos filhos, quando são pequenos,
Muito as mães se consomem,
Mas que a mãe com seu filho conta ao menos
Quando for velha, e ele homem.


Nunca disseste que no escuro trilho
Da vida, Deus, que é pai
Quer que o filho a mãe guie, e a mãe ao filho,
Pois um sem o outro cai...
Nunca disseste! e agora, morto, apertar
Nos braços teu filhinho!
Deixaste as portas da gaiola aberta,
Voou o passarinho...

Victor Hugo

A bela adormecida



Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação,
porque aos 50 anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão,
aprender a nadar como se deve.


No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.

O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.

Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?


Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.


Eu fico tão atenta que adormeço
a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
tenho 18 anos. Incompletos.


Adelia Prado

terça-feira, 8 de junho de 2010

Poesia Oculta


Não, hoje não vou trabalhar. Acordei tão cedo que consegui ver os primeiros raios solares refletidos nos vidros dos edifícios, dando a eles uma coloração rósea que deixou a cidade com uma cara diferente da que ela costuma ter. Havia ali, naquele instante, 6h47 da manhã, poesia. Uma poesia com a qual nossos olhos desacostumaram. Hoje não vou trabalhar, preciso procurar por ela, essa poesia oculta.
E sei que vou encontrá-la em todo lugar, bastando pra isso a minha intenção. Começou. Já consigo vê-la na lombada dos livros que estão dispostos na estante, vários, um ao lado do outro, compondo um mosaico de cores e possibilidades. E vejo também na xícara de cafezinho, a louça branca, ao lado do jornal aberto, em cima da mesa, e um copo d´água, os três em colóquio matinal, clássicos do cotidiano. Ali: a poesia da caixa de fósforos quietinha na cozinha. Da mulher passando o batom na frente do espelho fingindo que não está vendo que seu marido a espia escondido, ele próprio também fingindo que já não se deslumbra com a cena.
A letra caprichada da criança na primeira folha do caderno. A fila de táxi no ponto em frente ao parque, enquanto os motoristas conversam e fumam aguardando os passageiros. O carrinho de supermercado abandonado no meio do estacionamento depois que todos se foram, esquecido na noite. Os cachos ruivos que estão no chão de um salão de beleza mixuruca, onde alguém cortou o cabelo e
se arrependeu. A poesia oculta não é tão oculta assim.
Um varal com roupas puídas, penduradas numa janela de um edifício antigo. A torcida de um estádio explodindo ao ver entrar em campo o seu time. Duas adolescentes de cabelos longos cochichando e rindo à saída do cursinho. O olhar perdido da mulher dentro do ônibus. Um guarda-chuva preto.
Sua amiga que piscou o olho pra você lá do outro lado da festa, o afeto atravessando o salão e desviando dos convidados que separam vocês duas. A chama da vela que balança porque você está gargalhando. O casal que caminha na noite escura na beira da praia, agasalhados e agarrados, achando que ninguém os vê. Um resto de bolo dentro da geladeira.
O canhoto do cartão de embarque no fundo da bolsa. A almofada que caiu do sofá da varanda por causa do vento. O vapor que embaçou o espelho do banheiro depois do banho. A mochila em cima da cama da sua filha. Seu filho dormindo.
A poesia é uma fatalidade do olhar. Basta um frame de segundo e ela se revela, para então se esconder novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do hábito, do medo do ridículo que paralisa todos nós. Eu hoje não vim aqui para trabalhar, vim estimular o mistério.

Martha Medeiros

O velho e a flor


Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Cântico I


Não queiras ter Pátria.
Não dividas a terra.
Não dividas o céu.
Não arranques pedaços ao mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto.
Que as coisas todas são tuas.
Que alcançará todos os horizontes.
Que o teu olhar, estando em toda parte
Te ponhas em tudo,
Como Deus.


Cecília Meireles

sábado, 5 de junho de 2010

Água Mineral


Valtão chegou na roda com a notícia de que tinha largado todos os vícios. Como o Valtão tinha mesmo todos os vícios, foi recebido com incredulidade barulhenta. Vaias, risadas, “Tá bom” e “Conta outra, Valtão”. Mas Valtão estava sério. Para dramatizar sua nova disposição, pediu ao garçom:
- Alberico: uma mineral.
Alberico hesitou. Servia a turma há dez, doze anos e nunca ouvira um pedido igual. Talvez tivesse ouvido errado.
- Uma quê?
- Uma mineral. Água mineral. Mi-ne-ral.
Alberico de boca aberta. Na falta de precedentes, precisava de mais detalhes.
- Com ou sem gás?
Valtão não respondeu em seguida. Ficou olhando para Alberico, como se a resposta estivesse em algum lugar do seu rosto. Estava decidido a largar todos os vícios, começando pela bebida. Era um homem novo. Um homem que tomava mineral. Mas com ou sem gás?
- Sem – disse Valtão.
Houve um murmúrio na mesa. O próprio Valtão se assustou com o que tinha dito. Água mineral sem gás era água pura. Ele queria água pura? Queria. Tinha que ser assim. Um corte limpo. De todas as bebidas para a água pura. Estava certo.
Como o Alberico continuasse na sua frente, em estado de choque, Valtão repetiu:
- Sem.
Mas quando o Alberico se virou para ir buscar a água, Valtão fraquejou. Talvez fosse melhor… Chamou o Alberico de volta.
- Olha aí: traz com gás.
E para os outros, racionalizou:
- Nessas coisas é melhor ir por etapas.
O alívio na mesa foi evidente. Ninguém ali estava preparado para radicalismos. Não assim, não num fim de tarde de domingo. A água pura seria uma intrusa na mesa. Um constrangimento. A virtude com gás era manejável. Era recorrível.
Com bolinha ainda tinha papo.

Luis Fernando Verissimo

Ainda que mal



Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.

Carlos Drummond de Andrade

Corpo

Teu corpo
se enxuga em minha água:
calafeta,
enxágua.
Completa
o que não vem de mim.
E por ser água e calma,
sonâmbula
como a
distraída voz do lume,
lembra um vago perfume
de jasmim.

Everardo Norões

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Balõezinhos


Na feira do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
- "O melhor divertimento para as crianças!"


Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.


No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.


Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.


Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.


Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a
[única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
- "O melhor divertimento para as crianças!"


E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um
círculo inamovível de desejo e espanto.

Manuel Bandeira

Canção de Baú

Imagem: internet
Sempre -viva ... Sempre-morta ...

Pobre flor que não teve infância!

E que a gente, às vezes , pensativo encontra

Nos baús das vovozinhas mortas ...


Uma esperança que um dia eu tive

Flor sem perfume, bem assim que foi:

Sempre morta ... Sempre viva ...

No neio da vida caiu e ficou!


Mario Quintana

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os retratos


Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.

Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizam de todo

Jamais te voltes pra trás de repente.
Não, não olhes agora!

O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido...

Dessas que a gente inventava
enganar a solidão dos caminhos sem lua.


Mário Quintana

terça-feira, 1 de junho de 2010

As estrelas



Lá, nas celestes regiões distantes,
No fundo melancólico da Esfera,
Nos caminhos da eterna Primavera
Do amor, eis as estrelas palpitantes.

Quantos mistérios andarão errantes,
Quantas almas em busca de Quimera,
Lá, das estrelas nessa paz austera
Soluçarão, nos altos céus radiantes.

Finas flores de pérolas e prata,
Das estrelas serenas se desata
Toda a caudal das ilusões insanas.

Quem sabe, pelos tempos esquecidos,
Se as estrelas não são os ais perdidos
Das primitivas legiões humanas?!


Cruz e Sousa