quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A arte de ser avô


Netos são como heranças: Você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu...
É como dizem os ingleses, um "Ato de Deus". Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade.
E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho, mais filho que filho mesmo...
Cinqüenta anos, cinqüenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro.
A velhice tem suas alegrias, as suas compensações; todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não tenha descoberto, mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores com paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervecência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade...
Bracinhos de criança.

O tumulto da presença infantil ao seu redor.

Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas...
São homens e mulheres, não são mais aqueles que você se recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.

Completamente grátis - nisso é que está a maravilha.
Sem dores, nem choro, aquela da qual você morria de saudades, símbolos ou penhor da mocidade perdida.
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido.
E o espanto é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância.
Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado no seu coração.

Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico deixado pelos arroubos juvenis.
E quando você embala o(a) menino(a) e ele(a), tonto(a) de sono abre o olho e diz "VÔ,VÓ !" seu coração estala de felicidade, como pão no forno!"



Rachel de Queiroz

3 comentários:

  1. Silvia, ainda não sou avó, mas já me disseram que ser avó é ser mãe duas vezes.
    Rachel de Queiroz foi muito feliz quando escreveu esse texto, parabéns pela escolha.
    Um abraço!

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  2. Silvia, recebi este texto em power point, muito bonito, aliás, no momento em que eu acabava de me tornar avó (setembro passado) de um menino lindo! Bem verdade que eu nao estava preparada pois minha filha é muito jovem, mas.... Bem, o texto é lindo e confortante.
    Beijos e um feliz final de semana!

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  3. Olá meu querida amiga Silvia! Como você está? Tenha uma linda semana! Se você tiver tempo, dê uma olhada na revista meu filho está editando. Obrigado. PULSEmagazine

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