quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mar azul





mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul


Ferreira Gullar

sábado, 18 de fevereiro de 2012



A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.

Por isso, cante, dance, chorre, ria e viva intensamente,

antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.



Charles Chaplin

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Imagem: Sushi


Devo aos gatos o poder da honrosa dissimulação,

um grande autocontrole,

a instintiva aversão por ruídos

e a necessidade de me calar por longos períodos.


(Collete)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Poema ideal



Poema
ideal
é o
que
de cima para baixo e
de baixo para cima
quer dizer o mesmo
como este que
quer dizer o mesmo
de baixo para cima
de cima para baixo e
que
é o
ideal
poema.

Luis Fernando Verissimo

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Lagoa



Eu não vi o mar
Não sei se o mar é bonito,
Não sei se lê é bravo.
O mar não me importa

Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
E calma também.



Na chuva de cores
Da tarde que explode
A lagoa brilha
A lagoa se pinta
De todas as cores.
Eu não vi o mar.


Eu vi a lagoa

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Anzol




Ao entardecer
afio meu anzol de pescar
palavras .

No ar azul meu corpo
flutua livre da gravidade
misturado com as flores
que habitam os telhados,
misturado com os anjos
e os pássaros.


Letra por letra,
desejo por desejo,
a palavra amor lateja
na primeira estrela.



Roseana Murray

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Atchim



Minha mulher até hoje se assusta com meu espirro. É que sou um adepto do espirro criativo. Espirro criativo é uma performance artística áudio-coreográfica, que aproveita a oportunidade para transformar um simples ato reflexo do corpo humano em uma obra de arte.

Como sou um sujeito que convive com um processo crônico de sinusite alérgica – que fecha meu nariz ao contato com mofo, poeira, ácaro e perfumes em geral – costumo desfrutar ao máximo toda vez que a vida me proporciona a liberdade de um espirro, um mini furacão que chega a atingir a espantosa velocidade de 150 km/h.

Aprendi desde criança que trancar espirro é um perigo, pode descer pro... pras partes de baixo. Quando vem aquela vontade, tem que deixar sair. E aproveitar a ocasião. Um espirro bem dado é quase um orgasmo. Comentei isso com um amigo e ele me retrucou: “ou eu não sei espirrar direito, ou você nunca transou na vida”.

Acho um desperdício soltar apenas um Atchim discreto, quando se pode criar uma ópera, uma peça sinfônica. Ontem mesmo soltei um Rasqutiamaniafructieblon!!! Em alto e bom som. Minha alma, em enorme euforia, saiu junto pelas fossas nasais. Graças a Deus consegui agarrá-la a tempo e fazê-la retornar às suas funções de origem. Às vezes, aproveito para prestar alguma homenagem, lembrando celebridades como “Rachmaninoff”, “Dostoiévski” ou até mesmo para exorcizar alguns demônios como “Olarticoechea”.

Em cada país, o espirro tem uma sonoridade típica. Na França se diz Atchum, na Alemanha, Hatschi e nos Estados Unidos, Atchoo. No Japão é Hacushon, na China, Penti e na Tailândia, Hutchew. Ou seja, quando você for viajar, procure estudar a maneira correta de espirrar em língua estrangeira, senão você vai ficar sem as respostas simpáticas, do tipo “Saúde”, “Deus te crie” (“pro bem, porque pro mal já está criado”).

O nome do espirro é uma onomatopéia que tenta reproduzir o som que é emitido na hora do orgasmo, quer dizer, do ato reflexo. E, como toda onomatopéia, é passível de interpretações variadas. É aí que entra o espirro criativo. Qualquer um tem direito de escolher o som que sai do seu corpo. Você não precisa ficar condicionado ao tradicional Atchim. Liberte sua alma. Invente seu próprio espirro. Personalize, customize. Enfim, divirta-se um pouco. Afinal, o mundo vai acabar em 2012.

Kledir Ramil

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Marido e mulher



Em princípio, tenho um pé atrás com essas pessoas que apresentam sua mulher assim: “Esta é minha esposa”. Minha desconfiança se deve a que “minha mulher” não tem de ser trocada pela expressão “minha esposa”. É pernosticismo, é afetação chamar “minha mulher” de minha esposa.

Já sei que os objetadores de plantão irão contrapor que, então, as mulheres não devem dizer “meu marido”, e sim “meu homem”. É diferente. No caso, “meu homem” é chocante, porque na nossa língua e no nosso costume vernacular “meu homem” quer dizer “meu macho”. E não fica bem a uma mulher classificar seu marido de seu macho porque, como se sabe, o homem, para a mulher, tem mais de 1001 utilidades do que ser macho. “Meu esposo”, para mim também é uma expressão pedante. A colocação politicamente certa é “meu marido”.

Da mesma forma, desconfio de todas as pessoas, homens e mulheres, que chamam suas empregadas domésticas de “secretária”. Empregada doméstica é uma profissão honrosa, digna, de grande utilidade social. Não precisa da classificação de “secretária”, que é outra coisa completamente diferente. E o pior é que quase todas as pessoas que chamam suas empregadas domésticas de secretárias não lhes dão salários de secretárias, mas sim de empregadas domésticas. Secretária só no nome. Enquanto muita gente que chama suas empregadas domésticas de “empregadas domésticas” paga-lhes o salário superior de secretárias.

Além disso, nesse caso de empregada doméstica e secretária, mulher e esposa, cada dupla de palavras não se constitui de sinônimos, portanto não têm o mesmo sentido. Já a expressão “minha patroa”, no lugar de “minha mulher”, é muito simpática, é a cordial e bem resignada manifestação do marido de que é dominado pela mulher. Exatamente por isso é que soaria muito mal a uma mulher apresentar seu marido como “meu patrão”. Indevido. Porque nenhum marido manda na mulher.

Por sinal, esta palavra “patroa” só se aplica bem no feminino, como mostrei acima. Ninguém gosta de apresentar numa roda alguém como “meu patrão”. Não sei bem por que, mas parece pejorativo a quem é empregado. Eu, de minha parte, desde o tempo em que trabalhei na feira livre até os dias de hoje, em que sou jornalista, apresento meus patrões assim, circunstancialmente, em uma roda:

– Apresento-lhe meu ‘amigo’.

Talvez seja porque nunca consegui trabalhar de empregado de alguém por algum tempo sem torná-lo meu amigo. Sempre que meu patrão deixou de ser meu amigo, pedi demissão de meus empregos. Não tem sentido trabalhar com um “inimigo” ou um “indiferente” como patrão. Só há sentido, principalmente em empresas pequenas, trabalhar para patrão de quem a gente se orgulhe e o mesmo serve para o patrão: tem de se orgulhar de seu empregado. Em caso contrário, vai e vem e se instala o conflito.

Mas os tempos mudaram. E hoje é muito comum que aquilo que é certamente uma relação entre marido e mulher seja classificado assim por um dos dois parceiros: “Apresento-lhe meu namorado”. Às vezes, dura há anos a relação conjugal e os dois se apresentam para o meio social como “namorados”. Os que fazem isso para mim são sábios: têm convicção de que não é perpétua aquela relação e assim se previnem contra o fatalismo quase inarredável da separação. Se nunca se separarem, melhor. Ou pior.

Paulo Sant'Ana



Zero Hora 12/11/2006.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Poema brasileiro



No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

Ferreira Gullar