sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pedidos dos animais

"Se servimos para aplacar sua solidão

Se servimos para que te sintas importante quando voltas para casa

Se servimos para lamber tuas lágrimas quando estás triste

Se servimos para que não caminhes sozinho nos finais de tarde

Se servimos para te proteger da violência dos teus semelhantes

Se servimos para proteger teus filhos quando não estás por perto

Se servimos para que teu coração não seja o único a bater dentro de tua casa

Se servimos para que te divirtas brincando conosco

Se servimos para alegrar teu silêncio com nossa voz

Se servimos para que tua mão afague um pêlo macio

Se servimos para carregar alimentos e outras cargas em nossas costas

Se servimos para que teus olhos se encham com a beleza de nossas plumagens

Se servimos para chorar tua morte quando ninguém mais lamenta tua partida

Então não nos maltrate

Não desconte tuas tristezas e frustrações em nossos corpos frágeis

Não nos abandone à própria sorte

Não se afaste tanto a ponto de não conseguirmos te encontrar

Respeite nossos sentimentos, pois todos nós chamados "irracionais" temos sentimentos

Basta olhares bem dentro de nossos olhos para veres o quanto é verdade que temos alma

Cuide de mim e de meus filhos como cuido dos teus

Seja nosso amigo e te seremos eternamente gratos

E no dia em que partirmos, chore de saudades e não por arrependimento por ter nos maltratado

Somos um cão, um gato, um cavalo, uma ave...

Somos todos os animais do mundo e aqui estamos e vivemos pelas mãos de Deus"

Autor desconhecido



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Senhora minha mãe


Ouvi meu amigo Manoel Soares conversando com sua mãe.

— Sim, Senhora
— Não, Senhora
Aquilo me arrepiou. Não me emociono quando um filho chama sua mãe de mãezinha, mainha, mamãe.
Eu me comovo quando um filho chama sua mãe de Senhora.

Não importa que ele esteja apressado, paciente, psicótico, nervoso, aflito, carente: chamará de Senhora em qualquer hora.

Dirigir a palavra para mãe como Senhora pode sugerir distanciamento, formalidade, solenidade. Pode indicar uma relação de frieza e ausência de diálogo. Por que não o nome? Um apelido? Ou simplesmente mãe?

Não vejo assim. É mais do que respeito: é reverência. É mais do que intimidade: é cuidado.

Senhora é um “com licença” e “eu te amo” misturados. É segurar o braço para atravessar a rua e as palavras.

Senhora é uma demonstração de afeto, uma homenagem às lições do passado, prova que fomos bem educados.
Quem usa nunca levantará a voz para a mãe. Nunca vai desrespeitar os mais velhos.
Só filhos muito chegados e próximos chamam a mãe de Senhora.
Preservam a influência maternal dentro de casa. Obedecem à sua opinião. Confiam nos seus conselhos.

Mãe que é senhora nunca termina abandonada num asilo.

Mãe que é senhora pede para falar e a família escuta com silêncio.

Senhora é dizer para a mãe que ela é muito importante. Que ela é insubstituível. Que ela nunca será dispensada.

Obrigado, senhora minha mãe.

Fabricio Carpinejar
Daqui

domingo, 25 de novembro de 2012

Em Marte




A Nasa está escondendo, mas a tal sonda-robô mandada a Marte já encontrou sinais de vida no planeta vermelho. Mais do que sinais de vida, encontrou um ser vivo. Mais do que um ser vivo, encontrou vários seres vivos, que, no momento, cercam o artefato que pousou entre eles de surpresa e tentam comunicar-se com ele. A Nasa tem censurado as fotos mandadas pelo robô em que aparecem os marcianos à sua volta e está tentando interpretar o que eles dizem, numa língua que parece o ídiche com mais consoantes.

Até agora os técnicos da Nasa conseguiram decifrar apenas alguns trechos do que os marcianos estão dizendo para o robô e comentando entre si. Já identificaram frases inteiras, como: “Alô, como é seu nome?”, “De onde você veio?” e “Quem vai pagar este estrago no meu quintal?”.

Os marcianos parecem amistosos, mas ficam cada vez mais impacientes com o laconismo do robô, que não responde nem a perguntas simples como “Você quer água?” ou “Tem fome?” ou “Precisa ir ao banheiro?”.


Os marcianos estão perto de concluir que o estranho em seu meio vem de um planeta em que ainda não desenvolveram a fala, o que dirá a boa educação. Comentam a aparência física do estranho.

– Rodas em vez de pernas. Interessante.

– Odiei a roupa.

– Como será que eles se reproduzem?

– Só você para pensar nisso...

– Curiosidade científica!

– Devem usar esta haste com uma bola na ponta.

– Não, isso é o olho.

– Vocês já notaram que até agora ele não piscou?

– Deve estar aterrorizado. Não sabe onde veio cair.

– Vamos fazer uma demonstração de paz, para ele sentir que está entre amigos. Atenção: abraço coletivo. Todo mundo. Iei!

– Cócegas não, que ele pode ficar irritado.

– Vocês viram só? Nenhuma reação.

– Ele parece uma máquina!


O consenso entre os marcianos é que o ser que caiu do céu vem daquele planeta azul que eles chamam de Schlops, que – isto é pura especulação dos tradutores da Nasa – também é a palavra deles para “titica”. Os marcianos nunca tiveram muito interesse em conhecer melhor o planeta azul e agora, depois da experiência ruim com aquele seu antipático representante, têm menos interesse ainda. Não querem nem imaginar como são seus semelhantes.

Decidem levar o visitante para um hospital, para ele se recuperar do choque, se alimentar e, se possível, começar a se comportar com um pouco mais de civilidade. Só quem protesta é o dono do terreno onde o estranho pousou.

– Quero ver quem vai pagar os estragos no meu quintal!

Luis Fernando Verissimo

Zero Hora 26/08/2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A bomba atômica






A atômica é triste

Coisa mais triste não há

Quando cai, cai sem vontade

Vem caindo devagar

Que dá tempo a um passarinho

De pousar nela e voar...

Coitada da bomba atômica

Que não gosta de matar



Coitada da bomba atômica

Que não gosta de matar

Mas que ao matar mata tudo

Animal e vegetal

Que mata a vida da terra

E mata a vida do ar

Mas que também mata a guerra...

Bomba atômica que aterra!

Pomba atônita da paz!   Pomba tonta, bomba atômica

Tristeza, consolação

Flor puríssima do urânio

Desabrochada no chão

Da cor pálida do hélium

E odor de rádium fatal

Loelia mineral carnívora

Radiosa rosa radical.



Nunca mais, oh bomba atômica

Nunca, em tempo algum ,jamais

Seja preciso que mates

Onde houve morte de mais:

Fique apenas tua imagem

Aterradora miragem

Sobre as grandes catedrais:

Guarda de uma nova era

Arcanjo insigne da paz!

( Vinícius de Moraes )

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O tempo




Com o tempo, você vai percebendo que

para ser feliz com uma outra pessoa,

você precisa, em primeiro lugar,

não precisar dela.

Percebe também

que aquela pessoa que você ama

(ou acha que ama) e que não quer

nada com você, definitivamente, não é o

homem ou a mulher da sua vida.

Você aprende a gostar de você,

 a cuidar de você e, principalmente,

a gostar de quem também gosta de você.

O segredo é não correr atrás das borboletas .....

É cuidar do jardim

para que elas venham até você.

No final das contas,

você vai achar não quem você estava procurando,

mas quem estava procurando por você!

Mário Quintana

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sem medo de amadurecer



Estará chegando em breve às livrarias a nova obra do filósofo argentino Sergio Sinay, cujo título é A Sociedade que Não Quer Crescer. Tema bastante atual e que merece atenção. Não há alarmismo em afirmar que viramos uma sociedade de adolescentes vitalícios, todos preocupados em manter a juventude até os 80 anos.


Uma coisa é praticar esportes e exercícios físicos, proteger a pele, se alimentar bem, manter cuidados para garantir a saúde, investir em lazer. Outra bem diferente é se comportar de forma irresponsável, não assumir autoridade, não dar um rumo à própria vida, viver encostado nos parentes. Há quem considere mais cômodo ser criança para sempre.

De fato, é. Temos por aí uma quantidade absurda de crianções e criançonas de 40 anos, de 50 anos, até mais. O que esperar de seus descendentes?

Não é fácil lidar com desejos, fazer escolhas, sustentar decisões. Nos momentos de aperto, gostaríamos de não precisar enfrentar coisa alguma e chamar um “adulto” para resolver as questões sérias em nosso lugar. Porém, não temos mais cinco anos. Nem 15. Não há mais justificativa para desrespeitar as leis, dirigir de forma inconsequente, se embebedar, fugir aos compromissos. Essa rebeldia juvenil até possui um certo romantismo, é a porção James Dean de cada um. Só que o ator não viveu o suficiente para virar um homem, mas você, sim.

Amadurecer é respeitar os ciclos da vida e deixar a adolescência para trás a fim de assumir seu lugar no mundo. O que não significa virar um adulto chato e prepotente. É permitido divertir-se na maturidade. Muito, inclusive. Adultos curtem a vida mais do que a garotada justamente porque não estão mais testando limites, já viraram essa página. O que fragiliza a sociedade são pessoas que, uma vez crescidas em estatura, não cresceram emocionalmente.

Um adulto de verdade é aquele que não age em busca de uma recompensa – ele faz o que tem que fazer porque é o certo. Pra chegar a esse encontro saudável com o dever moral, é preciso que ele tenha consciência de quem é, de tudo o que viveu, de como suas experiências o moldaram, e adote uma atitude firme diante de seus filhos, de seus pares, da sociedade toda. Se considerar que isso significa “envelhecer”, que pena: seguirá sendo um garoto mimado, uma garota bobinha, sem brio para herdar o bastão de seus pais e sem consistência para passar o bastão adiante.

Pessoas maduras também têm incertezas, vacilam, fraquejam. Porém sabem a hora de cortar o laço com suas carências infantis e de interagir com o mundo a fim de torná-lo melhor, mais digno. São agentes de transformação, e não de estagnação. Quando se tornarem idosos, poderão olhar pra trás com a consciência de ter dado um sentido à sua vida, em vez de terem percorrido anos e anos inúteis, acreditando que poderiam ser jovens para sempre só pelo fato de andarem com a aba do boné virada pra trás.


Martha Medeiros

Zero Hora  28/10/2012