terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal


Canto de Natal
O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino,
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

Manuel Bandeira

Natal


Três Presentes de fim de ano

Querida, mando-te
uma tartaruguinha de presente
e principalmente de futuro
pois viverá uma riqueza de anos
e quando eu haja tomado a estígia barca
rumo ao país obscuro
ela te me lembrará no chão do quarto
e te dirá em sua muda língua
que o tempo, o tempo é simples ruga
na carapaça, não no fundo amor.

II

Nem corbeilles nem
letras de câmbio
nem rondós nem
carrão 69
nem festivais
na ilha d’amores
não esperes de mim
terrestres primores.
Dou-te a senha para
o dom imperceptível
que não vem do próximo
não se guarda em cofre
não pesa, não passa
nem sequer tem nome.
Inventa-o se puderes
com fervor e graça.

III

Sempre foi difícil
ah como era difícil escolher
um par de sapatos, um perfume.
Agora então, amor, é impossível.
O mau gosto
e o bom se acasalaram, catrapuz!
Você acha mesmo bacana esse verniz abóbora
ou tem medo de dizer que é medonho?
E aquele quadro (objeto)? Aquela pantalona?
Aquela poesia? Hem? O quê? Não ouço
a sua voz entre alto-falantes, não distingo
nenhuma voz nos sons vociferantes...
Desculpe, amor, se meu presente
é meio louco e bobo
e superado:
uns lábios em silêncio
(a música mental)
e uns olhos em recesso
(a infinita paisagem).

Carlos Drummond de Andrade

Natal


Poema De Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

Natal


Monólogo do Natal


Eu não gosto de vancê, Papai Noé!
Tamém não gosto desse seu papé de vendê ilusão pra tar
da burguesia.
Se os meninu pobre da cidade soubessem o desprezo qui
o se tem, pelos humirde, pela humirdade eu acho que eles
jogava pedra em sua fantasia.
Você talvez vancê nem se alembra mais.
Eu cresci, me tornei rapaz, sem nunca me esquecê,
daquilo que passô.
Eu lhe escrevi um biete, pedindo um presente a noite
inteira eu esperei contente, chegou o sor, mais vancê
num chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado, me trouxe um
trenzinho véio, enferrujado, e me ponhou ansim na
minha mão e me oiando baixinho me falou: toma, é pra
vancê, foi papai noé que mandou. E vi quandu ele
adisfarçou umas lágrima cum a mão.
Eu alegre e inocente nesse caso, pensei que o meu
biete embora cum atraso tinha chegadu em suas mão, no
fim do mês.
Limpei ele bem limpado, dei corda, o trem partiu, deu
muitas vorta, meu pai então se riu e me abraçô pela
urtima vez.
O resto, eu só pude cumpreender quando cresci e
comecei a ver as coisa com a realidade.
Um dia meu pai chegou ansim, cum quem tá cum medo e
falou pra mim: me dá aqui aquele seu brinquedo daqui
vou trocá por outro na cidade . Entônce eu entreguei
pra ele o meu trenzinho quase a soluçá.
e, como quem não quer abandoná um mimo, um mimo que
lhe deu, quem lhe qué bem, eu supriquei medroso: ?ô
pai eu só tenhu ele! Eu num quero outro brinquedo, eu
quero aquele. por favor pai, num vá levá meu trem?.
Meu pai calô e pelo seu rosto veio descendo uma
lágrima que, inté hoje creio, tão pura e santa ansim
só Deus chorou!
Ele saiu correnu bateu a porta, ansim como um doido
varido minha mãe gritou; pra ele: José! ele num deu
orvido. Foi embora e nunca mais vortô.
Vancê, Papai Noé, vancê me transformou num homem que
hoje a infância arruinô. Sem pai e sem brinquedo.
Afiná, dos seus presentes, num ai um que sobre da
riqueza do menino pobre que sonha o ano inteiro com a
noite de natá.
Meu pobre pai coitado, mar vestido, pra num me vê
naquele dia desiludido, pagô bem caro a minha inlusão,
num gesto nobre, humano e dicisivo, ele foi longe
demais pra me trazer aquele lenitivo, tinha robado
aquele trem do filho do patrão.
Quando ele sumiu, pensei que tinha viajadu, no
entanto, minha mãe despois deu grande, me contou em
pranto que ele foi preso coitado e tranformadu em réu.
Ninguém pra absolvê meu pai se atrevia.
Ele foi definhando na cadeia, inté,qui um dia, Deus
entrou na sua cela e o libertô pro céu.


Aldemar Paiva

Música interpetada por Rolando Boldrin

Natal


Uma pequena crônica de natal....


Os embrulhos mal cabiam em seus braços...
A felicidade estampada em seu olhos...
Ao sair de casa um semblante caído, desanimado
Triste...
Na volta ao lar, aquele sentimento de vitória,
Do guerreiro que vence a última das guerras...
E então a pergunta:...afinal o que acontecera??
Naquele momento ele, que estava a olhar,
Disse, como se lesse pensamentos:
“não, eu não ganhei na loteria, consegui um emprego!!”
Não, não haviam bebidas, nem cerveja...apenas presentes...

Natal é isso, é quando Jesus se mostra através dos homens e a felicidade se multiplica, porque felicidade é assim,ela nunca É sozinha, só funciona em rede!
Jesus sabe disso, por isso esse pai de família voltou aquele dia,
Com presentes na mão e emprego no bolso...
Nós que estamos sempre a procurá-Lo, só podemos encontrá-Lo,
Dentro de nós e no máximo, ao nosso lado....sempre!!


Valéria Trindade

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Chegou o Verão !


VERANEIOS

Toda vestida de rendas
ela corre pelas praias
e as sereias invejosas
rogam pragas que ela caia.
---
A tua beleza é tanta
que a mais arrogante maré
humildemente se deita
para beijar os teus pés.
---
Quando te entregas ao mar
deixas no Sol certa mágoa.
Tua melhor intimidade
é um convívio só das águas.
---
Ah, se um dia ela se desse
pra mim com tanta alegria
com que entrega seu corpo moreno
às ondas do mar, tão frias.
---
Enxaguado de água doce
teu biquíni nos varais.
Parece que ali pousaram
andorinhas e pardais.
---
Quando chegas à praia
na manhã azul de janeiro
as ondas jogam carreira
pra ver quem te beija primeiro.
---
Tua inimizade com as nuvens
é ciúmes de passarela.
Hoje o Sol já não te envolve.
Ele é das nuvens. Só delas.

Luiz Coronel

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Epitáfio

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

Sérgio Brito / Titãs






sábado, 12 de dezembro de 2009

A Concha das Horas


Leva o teu sorriso, por favor leva pra longe.
Leva o que puderes, leva as minhas dores todas.
Leva o teu olhar e leva o que mais achares
e eu acolherei, desta vez, o teu silêncio.

Guarda o teu amor, num lugar que não existe.
Deixa, eu mesma lavo o que nos sobrou de triste.
Pelo nosso quarto, pela cama no deserto
eu vou sacudir o que dizem ser adeus.

Leva teu rancor, teu espelho mais antigo.
Leva o que couber no teu corpo tão vazio.
Deixa meus escudos. Deixa, eu fugirei do frio
mesmo que viaje à neve das cordilheiras.

Mas a noite é longa, nas malas e nas tristezas.
Leva tudo agora, que a manhã não se demora.
Deixa, eu mesma espanto o que tanto ainda me cala e o teu desamor me dói mais quando nem falas.

Mas quem sabe amigo...
um dia eu te lembre
no beijo esquecido
na palma do tempo
na concha das horas.

Jaime Vaz Brasil

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Você


O Que Eu Adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

Manuel Bandeira

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Reflexões

Quando eu me pergunto quem sou eu,
sou o que pergunta
ou o que não sabe a resposta?
Geraldo Eustáquio


Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.
Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar.
Johann Goethe



É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Clarice Lispector

"a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais...."
Clarice Lispector

domingo, 6 de dezembro de 2009

Poesia


Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.


Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.


Mário Quintana

Reflexões


Língua Portuguesa


Considero a nossa língua portuguesa uma das línguas mais fascinantes do planeta. Bem, talvez tenha que se levar em conta que é uma das poucas que conheço. Mas, independente da minha limitada capacidade de avaliação, posso garantir que é uma língua bonita, cheia de palavras interessantes e com uma sonoridade especial. O que talvez explique porque tantas canções em português viraram clássicos da cultura mundial.


Tanta beleza, é claro, só pode ser apreciada se ela for usada corretamente. Você não deve dizer "seje", por exemplo. Nem que "seja" num bate-papo de botequim. Tampouco deve usar "esteje". Mesmo que você já "esteja" na quarta cerveja e todo mundo na mesa "esteje" falando assim.


Se você for do sexo feminino e trabalhou o dia inteiro, não pode falar pro namorado que não quer sair porque está "meia" cansada. Meia é aquilo que se usa no pé. Você provavelmente está "meio" cansada e, cá entre nós, deve estar cansada mesmo é do namorado. Porque quando a gente gosta de verdade, sempre encontra forças para um jantar a dois.


Nunca diga "de menor" ou "de maior". A pessoa é menor ou maior de idade. E se alguém falar "menas" laranjas, pode cair na risada à vontade. A não ser que você esteja numa solenidade e o equívoco tenha sido cometido por uma autoridade governamental. O que não é impossível de acontecer.


O R é uma letra traiçoeira, é preciso tomar cuidado. Anote aí: fustrado, cocrodilo, ededron, largartixa, estrupo, cardarço. Tá tudo errado. Confira no dicionário.


Se alguém chegou tarde à reunião, não reclame dizendo "fazem 2 horas que estamos te esperando". O correto é "faz 2 horas". É o mesmo caso de "haviam muitas pessoas no local". É sempre no singular: "havia muitas pessoas". Mesmo que fosse uma multidão.


"Para mim gostar" é coisa de índio. Quem conjuga o verbo é o pronome pessoal reto: "para eu gostar, para tu gostares, para ele gostar…".


Se você escutar alguma secretária falar "vou estar anotando o seu recado" não se irrite . Use o bom humor e diga que vai "estar perdendo a paciência" se ela continuar falando assim. O gerundismo virou uma praga. Vem de traduções mal feitas do inglês e contaminou algumas áreas, principalmente o telemarketing.


Nossa língua portuguesa é realmente fascinante. Produziu poemas e romances da melhor qualidade. Mas, como tudo na vida, também tem as suas estranhezas. Por exemplo: porque "embaixo" é uma palavra só e "em cima" são duas?


E a pergunta que não quer calar e me tira noites de sono: porque "tudo junto" é separado e "separado" é tudo junto?


Kledir Ramil
http://www.cantadoresdolitoral.com.br/k/kl21.htm#79

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sumi

Sumi porque só faço besteira em sua presença,
fico mudo quando deveria verbalizar,

digo um absurdo atrás do outro

quando melhor seria silenciar,

faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes,

durante e depois de te encontrar.

Sumi porque não há futuro

e isso não é o mais difícil de lidar,

pior é não ter presente e o passado

ser mais fluido que o ar.

Sumi porque não há o que se possa resgatar,

meu sumiço é covarde mas atento,

meio fajuto meio autêntico,

sumi porque sumir é um jogo de paciência,

ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado,

mas sumi para estar para sempre do seu lado,

a saudade fará mais por nós dois

que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida

permanência.”


MARTHA MEDEIROS

Quais suas manias?

Manias
Tenho horror a chamados, principalmente da campainha da minha casa ou do meu telefone celular.
Quando um dos dois toca, estremeço: ali vem notícia ruim.

Nunca a campainha da minha casa tocou para surgir uma pessoa que vá me ajudar.
Quase sempre a campainha da minha casa toca para me pedirem ajuda.
E o meu telefone celular quase sempre toca para me trazer uma má notícia.

Já tentei jogar fora o celular e tentei desligar a campainha da minha casa. Mas não consegui.
Parece que estou viciado em más notícias, acostumado a complicações.

Assim é uma mania que tenho nas sinaleiras. Há dias em que estou para não dar esmolas. Saio de casa com a firme determinação de não dar óbolos para ninguém.
E, por mais que me peçam ou implorem nas sinaleiras os mendigos ou inconvenientes, não dou esmola para nenhum deles.

Mas há dias em que dou esmola em todas as sinaleiras. São 17 sinaleiras da minha casa até Zero Hora. Então, separo 17 moedas e as guardo para dar aos pedintes.

Há dias em que estou tão à flor da pele, que, quando o mendigo me ataca na sinaleira, sinto ímpetos de sair do carro e deixar o veículo para o mendigo dirigir e fazer dele o que bem quiser, até mesmo vendê-lo.
E há dias em que brutalmente fecho o vidro do meu carro quando me aproximo da sinaleira. Não quero saber de mendigos.
Definitivamente, eu sou um ciclotímico.

E há dias em que estou para conversas. Chego a atacar pessoas para conversar com elas. Deito e me reviro nos assuntos.
Mas há dias, em contrapartida, em que não quero falar com ninguém, só quero ir pra casa fumar e dormir.

E, estranhamente, há dias em que estou para pagar contas. Pago tudo que está para ser pago, pago até contas atrasadas, acrescidas dos malditos juros.
Mas há dias em que me recuso de tal maneira a pagar contas, que não pago nem as contas que vencem naquele dia e vão me causar problemas de quitação depois.
Não pago, não pago e... pronto: vão cobrar do diabo!

São manias que tenho e não sei por que as tenho.
São manias, são princípios, enlouquecidos princípios.
Por exemplo, outra mania que tenho: nunca janto fora aos domingos e às segundas-feiras. Não adianta, se os jantares são em festas que caem na segunda ou no domingo, deixo de ir à festa.
Nos outros cinco dias da semana, saio para jantar fora em todos eles, estou gordo acho que por essa mania.

Mania é conduta que não se explica. Esta que tenho de só pegar e acender o isqueiro, sempre, com os dedos da mão esquerda, eu que sou destro, não tem explicação.
Outra mania que tenho, quando falando comigo uma pessoa joga perdigotos em meu rosto, delicadamente pergunto a ela se tem lenço. Ela pergunta por quê. E eu respondo que é para limpar os perdigotos que ela lançou no meu rosto.

Sei lá por que nós temos manias...

Paulo Santana
ZH 29/10/2009

Nomes


Sabrina - Feminino de Sabra (judeu nascido em Israel).
Safira - Grego: Pedra preciosa.
Salete - Francês: Referente à N. Sra de Salete.
Samanta - Aramaico: A ouvinte.
Samara - Hebraico: Protegida por Deus.
Sandra - Diminutivo de Alessandra.
Sara - Hebraico: Soberana.
Selena - Grego: A lua.
Selma - Árabe-celta: Pacífica, justa.
Serena - Latim: Calma, tranqüila.
Sueli - Germânico: Luz.
Susana - Hebraico: Lírio gracioso.
Sílvia - Latim: Da selva.
Simone - Hebraico: Ouvinte.
Sônia - Russo: Sabedoria.

Fonte:http://www.farmaciadepensamentos.com/

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Você


VOCÊ É...

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.

Martha Medeiros

Sossega



Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.


Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!


Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Reflexões



E se

E se o oceano incendiar
E se cair neve no sertão
E se o urubu cocorocar
E se o botafogo for campeão
E se o meu dinheiro não faltar
E se o delegado for gentil
E se tiver bife no jantar
E se o carnaval cair em abril
E se o telefone funcionar
E se o pantanal virar pirão
E se o Pão-de-açucar desmanchar
E se tiver sopa pro peão
E se o oceano incendiar
E se o Arapiraca for campeão
E se à meia-noite o sol raiar
E se o meu país for um jardim
E se eu convidá-la pra dançar
E se ela ficar assim assim
E se eu lhe entregar meu coração
E meu coração for um quindim
E se o meu amor gostar então
De mim


Francis Hime/Chico Buarque

sábado, 28 de novembro de 2009

Tempo


O relógio e o espelho


Até o máximo possível e permitido, nunca se deve dar relógio de presente para crianças. O primeiro passo para a aflição do homem é o relógio. A criança é feliz porque não tem noção das horas, do compromisso, do dever com hora marcada.

Nunca vi em minha vida uma criança acordar-se e ver que horas são. Este é o reflexo imediato de qualquer adulto. Depois do sono reparador, do desligamento da vida, retornamos às nossas preocupações.

O sono é o céu do vazio, do nirvana, o relógio traz-nos de volta ao inferno das obrigações.

Consulte seu passado, o tempo mais feliz de sua vida foi aquele em que não usava relógio, indiscutivelmente.

O relógio é o instrumento que mede a vida e dá-nos a consciência da morte, a pior desgraça dos humanos. Os animais são felizes porque não sabem que terão de

pagar o preço da morte. O homem começa a ter noção de que sua vida terá um fim quando põe pela primeira vez um relógio no pulso, ignorando que aquela é a algema que o amarra ao tempo, portanto à finitude.

Eu nunca daria de presente um relógio a uma criança. Gostaria que ela permanecesse indiferente e imune aos prazos, solta, que não tivesse nem noção do dia e da noite, apenas fosse dormir e despertasse quando tivesse sono ou dele se saciasse.

Ter hora para dormir, para acordar-se, para trabalhar, para comparecer à audiência ou ao encontro, estas horas fatais todas é que vão destruindo as pessoas e aproximando-as da morte, senão pelo fato, mas pela perspectiva.

O paraíso de Adão e Eva dá-se exatamente porque não havia lá um relógio, nem o casal primevo conhecia quem o antecedera, o que significaria a morte.

Os tempos da infância e da juventude são os mais felizes pela inconsciência da morte. Até quando fiz 40 anos, eu pensava que era imortal. E essa é a sensação de todos os jovens.

O jovem sabe que vai morrer, mas está tão distante da morte, que consegue ignorá-la, ela não passa de uma utopia diante da vida estuante que se oferece à sua frente. Tem mais é que pensar na vida, o prazo da morte desaparece em meio à delícia existencial.

Não há instante mais crucial da vida que aquele em que o homem se olha no espelho e vê que não é mais aquele. O primeiro inimigo do homem é o relógio, o segundo é o espelho.

Reparem que as crianças nunca se olham no espelho, a não ser quando cobiçam idiotamente tornaremse adultas. Já o adulto olha-se no espelho sempre com um pé atrás, sabendo que seu aspecto só pode retroceder.

O homem que olha para o relógio ou para o espelho está sendo aos poucos aniquilado pela maior adversária do homem, que é a pressa.

Não conheço pessoa madura que não seja escrava prestativa do relógio ou do espelho, instrumentos da sua agonia.

Nunca dê um relógio ou um espelho para uma criança. Ela só é feliz porque estes dois objetos sãolhe absolutamente dispensáveis.


Crônica publicada em 5 de dezembro de 1999 ZH

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Plaravas ???


As plaravas

Rceebi uma megnseam cruisoa com a inrfoãmaço de que uma usinidavdere ienslga fez uma pqesusia e dreobiscu que, praa a letirua, não inrestesa a odrem em que as lrteas de uma plravaa etãso, "a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e a útmlia lrtea etejasm no lgaur crteo". Não me pentruge pouqre. Ahco mituo eqsuitsio, mas a vdaerde é que fciunona. E se fcionuna em iglêns e pugortêus, dvee fiouncnar até em hgarúno, "a úicna lgínua que o dabio reeispta".


Gotsei da noíctia e rsloevi erevscer um ranomce iteinro com essa nvoa otorafgria. Psenei na iédia de um prseoagnem dsléixcio, dodato de uma ingêteclinia etraoxrdnáiira, ctanondo a hóistria na preiimra pssoea. A dsleiixa é uma dfunçisão metanl que faz com que o sueitjo, etnre otuars coaiss, eambrahle as ltreas de uma plavara. O que não o imedpe de dnveseovelr hilabdadies epesaciis. Tom Cuirse, por emxelpo, é dléixciso e tnooru-se um dos maoreis arosts de Hywoollod de tdoos os tpemos.


Meu raomnce treia uma luingaegm prórpia, com essa oratogrfia eastrhna, e nesitacesria um ctero esrfoço praa ser apacomhnado. As alçõteraes em cada sqüeiênca de lraets, segriauim uma liógca picartular ciarda pelo pronistotaga, com um cdigóo seetcro emdbutio no seu porsceso de elaçaborão. Um tpio de critopfigraa que, desdanveda, revilaera sreoegds de eastdo. Mias tdare, qanduo a hóriista fsose aptdaada praa o cemina, Tom Ciusre prodeia fzear o ppeal pciprinal. Ddese que acsitaese o cchaê.


As pvralaas são cmoo os fmiles. A gtene lebrma do cmeoço, do hpapy end e é caapz de ctaonr a htórisia tdoa, mmeso que não coignsa dcreveser exentatame a sqüncieêa de coters, o endeacamnteo em que faorm modantas as ceans.


A vdia de tdoo mduno tabémm é aissm. Qnduao a gtene nscae, aguélm dá um gitro de agleria. No fim, esvecrem uma fasre bionta nmua lidápe deizndo que fooms baancas e dxameios sdaaude. E rigeastrm as daats: nimasntceo e mrtoe. O que vieo no mieo dsiso foi um mtone de csaois muistdraas, baos e riuns, e nguéinm lebrma mias deitiro em que oderm eals faorm apacenredo. Ou sjea, não itmpora msmeo.


Pblao Nuerda dziia que "eevscrer é siplmes, coçmea com uma maúsciula, tinerma com um ptono e no mieo vcoê coocla as iéidas". É uma blea fsrae que coirmnfa essa tieora. O que iesntersa é cmoo a csoia ceçoma e cmoo trmiena.


Dsdee que, é calro, vcoê tnhea aumlga iédia intsanereste praa colaocr etrne a maslciúua e o potno fianl.


Kledir Ramil

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Jardim


A MENINA E O JARDIM

Angelina tinha um sonho
Ter um jardim pra brincar
Pois seu mundo era tristonho
Era sem cor o lugar.

Morava numa cidade
Onde ninguém conhecia
O sentimento bondade
A paz, lá não existia.

Um dia um missil caiu
Sobre sua feia casa
E em seu corpinho surgiu
Um par de bonitas asas.

Ela voou para o ceu
Com ela um querubim
De voz doce como mel
E a levou pra seu jardim.

Com a oração de Angelina
O bom Jesus diz amem!
Olhando a linda menina
Vinda de Jerusalem.

Hull de La Fuente

Pérolas


PÉROLAS DE SENTIMENTOS

Com tua flor predileta
Com a gentil palavra discreta
Reuni todos os elogios
Uni-os em vários fios


Fiz destas pérolas, um colar
Para melhor poder te falar
E em todo mar ressoa
A galhardia da tua pessoa

Assim como o oceâno infinito
Teu coração tão bonito
Atrai, encanta e prende


Peguei carona nos ventos
São portadores destes sentimentos
Que a toda alma se rende.

Versa Linden em 23/11/2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O culpado

Eu me declaro culpado de não ter
feito, com estas mãos que me deram,
uma vassoura.

Por que não fiz uma vassoura?
Por que me deram mãos?
Para que me serviram
se só vi o rumor do cereal,
se só tive ouvidos para o vento
e não recolhi o fio
da vassoura,
verde ainda na terra
e não pus para secar os talos ternos
e não os pude unir
num feixe áureo
e não juntei um caniço de madeira
à saia amarela
até dar uma vassoura aos caminhos?

Assim foi!
Não sei como
me passou a vida
sem aprender, sem ver,
sem recolher e unir
os elementos.

Nesta hora não nego
que tive tempo,
tempo,
mas não tive mãos,
e assim, como podia
aspirar com razão à grandeza
se nunca fui capaz
de fazer
uma vassoura
uma só,
uma?

Pablo Neruda

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Literatura


Quem são os leitores no Brasil ?

Na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 95,6 milhões (55% da população estudada) declararam ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses (outros 6 milhões leram em meses anteriores e não foram computados).
Dentre esses, 47,4 milhões (50%) dos leitores são estudantes que leem livros indicados pelas escolas (inclusive didáticos). Do soutros 41,1 milhões que não são estudantes:

- 7,3 milhões (9%) têm até a 4ª série do Ensino Fundamental.
- 10,6 milhões (27%) têm de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental.
- 14,9 milhões (37%) têm Ensino Médio.
- 8,5 milhões (55%) têm Ensino Superior.

- 1/3 dos leitores afirma ler frequentemente.
- 55% são mulheres.
Mulheres leem mais que homens em todos os gêneros, exceto em História, Política e Ciências Sociais.
- 6,9 milhões (7%) dos leitores estavam lendo a Bíblia.

Ensinamento


Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Adelia Prado

Aninha


Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.


Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.


Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.


Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.


Vem a estas páginas
E não entraves seu uso
aos que têm sede.


Cora Coralina

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O permanente e o provisório


O Permanente e o Provisório


O casamento é permanente, o namoro é provisório.
O amor é permanente, a paixão é provisória.
Uma profissão é permanente, um emprego é provisório.
Um endereço é permanente, uma estada é provisória.
A arte é permanente, a tendência é provisória.
De acordo? Nem eu.

Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem, anteontem, já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem pra agora, hoje é o meu dia, nenhum outro.
Amor permanente... como a gente se agarra nesta ilusão. Pois se nem o amor pela gente mesmo resiste tanto tempo sem umas reavaliações. Por isso nos transformamos, temos sede de aprender, de nos melhorar, de deixar pra trás nossos imensuráveis erros, nossos achaques, nossos preconceitos, tudo o que fizemos achando que era certo e hoje condenamos. O amor se infiltra dentro da nós, mas seguem todos em movimento: você, o amor da sua vida e o que vocês sentem. Tudo pulsando independentemente, e passíveis de se desgarrar um do outro.
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.

Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós.

Martha Medeiros

Amar


Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor.
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem.
Agora vejo em parte, mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.


Legião Urbana - Renato Russo

sábado, 21 de novembro de 2009

Sentir


SENTIR PRIMEIRO


Sentir primeiro,
pensar depois
Perdoar primeiro,
julgar depois
Amar primeiro,
educar depois
Esquecer primeiro,
aprender depois
Libertar primeiro,
ensinar depois
Alimentar primeiro,
cantar depois
Possuir primeiro,
contemplar depois
Agir primeiro,
julgar depois
Navegar primeiro,
aportar depois
Viver primeiro,
morrer depois

(Mário Quintana)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Idades



Três Idades

A vez primeira que te vi,
Era eu menino e tu menina.
Sorrias tanto… Havia em ti
Graça de instinto, airosa e fina.
Eras pequena, eras franzina…




A ver-te, a rir numa gavota,
Meu coração entristeceu
Por que? Relembro, nota a nota,
Essa ária como enterneceu
O meu olhar cheio do teu.



Quando te vi segunda vez,
Já eras moça, e com que encanto
A adolescência em ti se fez!
Flor e botão… Sorrias tanto…
E o teu sorriso foi meu pranto…




Já eras moça… Eu, um menino…
Como contar-te o que passei?
Seguiste alegre o teu destino…
Em pobres versos te chorei
Teu caro nome abençoei.




Vejo-te agora. Oito anos faz,
Oito anos faz que não te via…
Quanta mudança o tempo traz
Em sua atroz monotonia!
Que é do teu riso de alegria?




Foi bem cruel o teu desgosto.
Essa tristeza é que mo diz…
Ele marcou sobre o teu rosto
A imperecível cicatriz:
És triste até quando sorris…



Porém teu vulto conservou
A mesma graça ingênua e fina…
A desventura te afeiçoou
À tua imagem de menina.
E estás delgada, estás franzina…




Manuel Bandeira

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nêmese

Enem e Nêmese

Os gregos antigos não podiam sequer imaginar um mundo em que os limites não estivessem bem definidos. Para eles, a desmedida e o excesso levavam o indivíduo ou um povo inteiro à ruína e à destruição, e não é por acaso que a literatura e a mitologia grega estejam repletas de personagens que foram implacavelmente punidos por seus delírios de grandeza. Esta preocupação com o autocontrole aparece, por exemplo, no mito de Dédalo, que fabricou um par de asas para que Ícaro, seu filho, pudesse voar. Como pai, e como grego, aconselhou-o a manter-se a meia altura, numa distância prudente tanto do Sol quanto do mar; o jovem, no entanto, embriagado pela nova sensação, tentou subir o mais alto possível: o calor derreteu a cera, as asas se desmancharam no ar e Ícaro encontrou seu fim lá embaixo, na profundeza do oceano.

Imagem: Internet

Para viver feliz, o homem tinha de reconhecer que havia uma ordem natural nas coisas que se sobrepunha ao orgulho dos indivíduos; aqueles que transgrediam esta ordem com sua soberba e arrogância acabavam atraindo sobre si a vingança de Nêmese, a inflexível divindade encarregada de recolocar tudo em seus justos limites. Isso explica a forma que os gregos escolheram para comemorar a vitória sobre os persas em 490 a.C.: convencidos de que nada deteria o seu avanço, os exércitos invasores tinham trazido, com grande dificuldade, um imenso bloco do inconfundível mármore de Paros, com o qual pretendiam erguer um monumento no dia em que a Grécia caísse diante do Império Persa. Na batalha de Maratona, no entanto, foram fragorosamente derrotados pelos atenienses, que aproveitaram o mesmo bloco para que Fídias, o mais famoso escultor de Atenas, fizesse uma grande estátua desta deusa exatamente no lugar em que a louca confiança dos persas tinha finalmente encontrado o seu limite.




Imagem: Internet
Continua ...
( Leia o texto completo em http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2689811.xml&template=3916.dwt&edition=13351§ion=999 )

Claudio Moreno (Zero Hora 20/10/09)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pais e Filhos


É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar, pra pensar.
Na verdade não há

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?


Renato Russo (Pais e Filhos)

domingo, 8 de novembro de 2009

Para ser feliz



A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num SPA cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça,como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está demais, reduza-a.
Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a
felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz, e não sentimentos fortes, que nos atormentam e provocam inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.


Martha Medeiros

sábado, 7 de novembro de 2009

Pinguim

Imagem:Internet
O Pinguim

Bom-dia, Pinguim
Onde vai assim, Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado, Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu de jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca.

Vinícius De Moraes

São Francisco




São Francisco

Lá vai São Francisco

Pelo caminho

De pé descalço

Tão pobrezinho

Dormindo à noite

Junto ao moinho

Bebendo a água

Do ribeirinho.



Lá vai São Francisco

De pé no chão

Levando nada

No seu surrão

Dizendo ao vento

Bom-dia, amigo

Dizendo ao fogo

Saúde, irmão.



Lá vai São Francisco

Pelo caminho

Levando ao colo

Jesuscristinho

Fazendo festa

No menininho

Contando histórias

Pros passarinhos.


Vinícius De Moraes

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Decisão


"A alegria de amanhã ou o desespero de amanhã tem suas raízes nas decisões que tomamos hoje. Talvez algumas pessoas pensem consigo mesmas: 'eu sei que preciso mudar algumas coisas em minha vida. Talvez mais tarde, mas não agora.'.
Aqueles que ficam de pé no limiar da vida sempre esperando pelo momento certo para mudar são como o homem em pé à beira de um rio esperando que a água passe para que ele consiga atravessar em terra seca.
Hoje é o dia da decisão."


Joseph B. Wirthlin

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Anjos do Mar

Imagem: Silvia
Anjos do Mar
As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d’escuma revolvem-se nus!
E quando, de noite, vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear...
E a trança luzente da nuvem flutua...
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham... e o vento dos céus
Vem tépido, à noite, nos seios beijar!...
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar...
São beijos que queimam... e as noites deliram
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar...
Por que não consentes, num beijo de amor,
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?

Alvares de Azevedo

Óculos

Imagem: internet
Os óculos escuros


Dizem que os olhos são as janelas da alma. Então, os óculos escuros são as venezianas.

Sempre desconfiei de quem não tira os óculos escuros. Parece que quer esconder dos outros algo que oculta na alma por vergonha.

Se eu não tivesse meu olho esquerdo afetado por antiga paralisia facial, o que impede que suas pálpebras fechem por intuição, só por ato volitivo, nunca usaria óculos escuros. Só os uso para proteger o olho esquerdo do sol ou da luminosidade.

Mas, sempre que alguém se aproxima de mim para conversar, tiro depressa os óculos escuros. Os meus interlocutores não os merecem.

Quem usa óculos escuros esconde uma traição: já feita ou que está por vir.

Por sinal, há três profissões em que são intrínsecos os óculos escuros: cantor de rock ou de pop, segurança de casa noturna e general norte-americano ou brasileiro.

E segurança de casa noturna, além de óculos escuros, usa também indefectível traje inteiramente preto.

Experimente arrancar desses marmanjões possantes os seus óculos escuros. Como Sansão de quem rasparam a cabeleira, ele ficará tonto, sem saber o que fazer, parece que lhe tiraram a força, a energia do utilitário físico que ele representa, enfim, arrancam-lhe a personalidade.

Uma vez perguntei a uma freira por que usava óculos escuros. Ela me disse que para atenuar a visão ofuscante das injustiças do mundo e para lhe parecerem mais sombrios os brilhos que emanam dos rostos dos maus quando eles triunfam diante dos bons.

Outra vez perguntei a um general por que ele usava óculos escuros e ele me respondeu: “Porque não posso suportar o fulgor do meu tenente-coronel diante dos recrutas”.

Os atores da Globo também usam óculos escuros. Os banqueiros de jogo do bicho também usam óculos escuros. Os atores da Globo, deve ser porque lhes ofusca o próprio brilho. Os banqueiros de jogo do bicho, cogito que usam óculos escuros com medo de se encontrarem na rua com apostador a quem calotearam num prêmio ou com um policial honesto, que não pertence à sua lista de suborno.


Mas há profissões e situações que não comportam em nenhuma hipótese óculos escuros.

Caso de um casamento a que assisti esses dias, em que o padre oficiava o sacramento de óculos escuros. Parecia ter vergonha da encrenca em que estava metendo o pobre do noivo.

E juro para vocês que no cemitério São Miguel e Almas, em agosto, estava sendo velado em uma capela um defunto de óculos escuros, eu nunca tinha visto algo igual.

Talvez um parente piedoso do defunto tenha lhe colocado os óculos escuros para livrá-lo do rigor das labaredas do inferno com que ele dali a pouco se defrontaria.


Ocorre-me que só há dois tipos humanos que nunca vi com óculos escuros: os bebês e os hipnotizadores.

E, a uma pessoa que disse a um homem que este parecia um canalha de óculos escuros, o homem respondeu: “Só pareço um canalha? Se você visse meus olhos nuamente, então teria certeza de que eu sou um canalha”.


Paulo Santana

Zero Hora 31/10/09

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Reflexões


A gente pode morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos,
numa cidade mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.


A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos,
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.


A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

Tudo bem!


O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos,
namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Chico Xavier

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?,
Está sem mulher
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...


Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...


Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...


Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.


E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.


O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Simpatia


O que é - simpatia

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longo às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agosto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!


Casimiro de Abreu

1857.

Canção do Tamoio

Imagem:http://www.meionorte.com/imagens/

Canção do Tamoio


Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.


Gonçalves Dias

domingo, 25 de outubro de 2009

Pedaços


Pedaços de Mim


Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.


Martha Medeiros

sábado, 24 de outubro de 2009

O campeão

O carrinho e O Campeão


Não chorei quando assisti ao filme O Campeão lá no longínquo desfecho dos anos 70. Prova de macheza. Todo mundo saía do cinema com os olhos injetados, assoando o nariz, ou em pranto desbragado. Eu, não.

Mas reconheci que a história é comovente. Jon Voight é um boxeador peso-pesado que lesiona o cérebro de tanto levar jabs, uppercuts, cruzados e ganchos. Tem de abandonar os ringues no auge, e se entrega ao jogo e à bebida. Arruína-se financeiramente, a mulher, uma jovem Faye Dunaway, separa-se dele, todos o consideram um fracasso, menos o filhinho de oito anos, que o venera e o chama de Campeão.

O eixo do filme é a relação entre o pai e o filho. O curioso é que o Jon Voight de verdade, não o personagem, enfrentou problemas com a filha, que, você sabe, é ninguém menos do que a Angelina Jolie. Ela o acusava de ter abandonado a mãe (dela, claro), emburrou-se, não o procurou mais, levou seis anos para se falarem de novo. Uma vez, tentando a reconciliação, Jon decidiu elogiar a filha de Angelina durante uma cerimônia. No discurso, chamou-a de Shakira. Angelina ficou fula: o nome da menina é Zahara. Para ver como Angelina é injusta. Bota na criança um nome desses e depois a culpa é do pai, se ele se confunde.

Mas o filme. Dias atrás, deparei com uma reprise na TV. Colhi a história pelo meio e não troquei de canal. Aí chegou o momento em que Jon se envolve numa briga, é preso, e conclui que o mundo tem razão: ele, de fato, se trata de um fracasso. Resolve entregar o filho à mãe, agora casada com um nababo. O menino não aceita, chora, implora para ficar com o pai. In extremis, Jon o esbofeteia e manda-o embora. Sente-se arrasado, mas acha que fez o que devia fazer. Sacrificou-se por amor ao filho. Só que o menino não consegue ficar longe do pai, e tanto insiste, tanto clama pelo Campeão, que Faye o leva de volta para casa. Na cena do reencontro, o menino, vestido com apuro, o cabelo loiro bem penteado, carrega uma malinha que o torna a imagem do desamparo. Acha o pai parado ao pé de uma arquibancada vazia de estádio, deprimido, cabisbaixo. Então, o pai ergue a cabeça. E eles se avistam. Caminham vacilantes um para o outro. Param a metro e meio de distância. Encaram-se. Abraçam-se, enfim, e juram jamais se separar. E eu, aboletado no sofá da sala, sinto uma bola de sentimentos se formando no meu peito, e a bola escala até a garganta, e logo me embaça o olhar, e percebo que, maldição!, não vou conseguir me controlar, e as lágrimas já me despencam rosto abaixo, e eu choro sem pudor, feito uma bandeirante adolescente.

Depois de ter filhos, a gente fica suscetível a dramas infantis. Que saudade do David durão do longínquo desfecho dos anos 70.


David Coimbra


Zero Hora 23/10/09

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bolsa


Bolsa de mulher


Você seria capaz de dizer tudo que tem em uma bolsa de mulher ?
O básico é fácil: maquiagem, perfume, absorvente, carteira, celular, remédios para dor de cabeça e cólicas.

Mas coisas inéditas e inusitadas podem completar a lista. Algumas não saem sem sua água mineral ou suco, uma barra de cereais, biscoitinhos, balinhas.

Perguntei para algumas mulheres e encontrei também na lista alicates para fazer as unhas, esmaltes, tesoura, grampeador, canetas diversas, caderninho de anotação, carnês de pagamento das mais variadas lojas, preservativos, calcinha extra, creme para as mãos e muito mais.

Outra coisa interessante é a troca de bolsas, mulher troca a bolsa para combinar com a roupa ou sapato, para dar um estilo novo ao visual. Temos tantas bolsas quanto possuímos sapatos, ou quase. Pelo menos uma de cada cor básica. Não esqueça que bege não é marrom, que pode ser claro, escuro, café, ocre e muitos outros matizes. É difícil combinar a bolsa com precisão.

Não resistimos a uma oferta e as bolsas costumam aparecer em todas as liquidações e variando o tamanho também, outro requisito básico. Particularmente não gosto de bolsa muito grande porque costumo ocupar todo o espaço e fico com dor nas costas, ainda mais que na minha bolsa sempre tem livros. No plural, afinal não costumo ler um só de cada vez.

Não gosto das muito pequenas também, pois o meu básico vai além do celular e da carteira, preciso do caderninho de anotações para algum eventual assunto que não posso esquecer. Isso me faz usar duas bolsas às vezes, a titular e uma de tecido para os livros e lanche. Não sou a única, muitas mulheres usam duas bolsas, é comum.

Uma amiga que já foi assaltada carrega spray de pimenta, e um aparelho que dá choque. Perguntei se ela não tem medo de machucar alguém no susto, achando que é assalto. Ela diz que não, azar de quem tiver atitude suspeita. Isso ia muito bem, até que um namorado novo resolveu fazer uma surpresa para ela e agarrou-a na chegada de casa. Quase ficou cego e ainda com a maior dor nas partes íntimas.

O namoro não terminou, mas tenho certeza que ele morre de medo dela. Tentei convencê-la de que isso não era bom em uma relação. Ela riu e disse que homem bom é homem constrangido. Sei lá se é brincadeira ou não, essa eu não arrisco contrariar.

Ana Mello


http://www.sortimentos.com/gente/ana_mello-091019-bolsa-de-mulher.htm