quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Para isso fomos feitos



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Se eu soubesse




Se algum dia eu soubesse que nunca mais veria você...

eu lhe daria um abraço mais forte.
Se eu soubesse que seria a última vez a ver você...

eu lhe daria um beijo e a chamaria para dar mais um.


Se eu soubesse que seria a última vez a ouvir a sua voz...

eu gravaria cada movimento e cada palavra,

para revê-los depois todos os dias.


Se eu soubesse que seria a última vez

que eu poderia parar mais um ou dois minutos

para dizer-lhe: "gosto de você"...

eu diria, ao invés de deixar que você presumisse.


Se eu soubesse que hoje seria o último dia

a compartilhar com você...

o sentiria muito mais intensamente

em vez de deixá-la simplesmente passar.


Sempre acreditamos que haverá o amanhã

para corrigir um descuido...

para ter uma segunda chance de acertar.


Será que haverá uma chance para dizer:

"posso fazer alguma coisa por você"?


O amanhã não é garantido para ninguém,

seja para jovens, ou mais velhos,

e hoje pode ser a última chance de abraçarmos

aqueles que amamos.
Então, se estamos esperando pelo amanhã,

por que não agirmos hoje?


Assim, se o amanhã nunca chegar,

não teremos arrependimentos

de não termos aproveitado um momento para um sorriso,

para um abraço, para um beijo, uma gentileza,

porque estávamos muito ocupados para dar a alguém

o que poderia ser o seu último desejo.


Abracemos hoje aqueles que amamos,

sussurremos em seus ouvidos,

dizendo-lhes o quanto nos são caros

e que sempre os amamos.


Encontremos tempo para dizer:

"Desculpe-me", "Perdoe- me", "Obrigado", "Eu perdôo você".


Sempre há tempo para amarmos.
Sempre haverá tempo para dizer o quanto eu gosto de você!


Geraldo de Azevedo

sábado, 26 de novembro de 2011

Medíocres e brilhantes




Existem muitos medíocres triunfantes. Assim como existem muitos brilhantes fracassados. A vida nesse ponto é justa: não basta ser brilhante para ter êxito, assim como nada assegurará que o medíocre não terá sucesso. Se fosse o contrário, bastaria ser brilhante para atirar-se nas cordas, o sucesso viria ao natural. Ou, então, um medíocre estaria condenado desde o nascimento ao fracasso.

Existem até, por incrível que pareça, algumas atividades em que basta ser medíocre para alcançar sucesso. E outras em que, sendo brilhante, não há nenhuma chance de triunfar nelas. Sem falar na luta que obrigatoriamente se estabelece, em qualquer organização, entre os medíocres e os brilhantes. A característica dos medíocres é que, sendo medíocres, sozinhos não enfrentam os brilhantes. Por isso é que os medíocres são muito unidos. Unidos eles se tornam fortes e podem derrotar os brilhantes.

Já os brilhantes, por serem raros, enfrentam solitariamente os medíocres. O perigo que se corre em qualquer organização reside em que os medíocres venham a vencer os brilhantes. E os espantem ou os anulem. Não existe nada mais desolador do que uma empresa ou qualquer conglomerado vir a ser dominado pelos medíocres.

Porque muitas vezes os medíocres vestem a capa de brilhantes, embora ali adiante possam ser desmascarados. É necessário que as lideranças de qualquer agrupamento humano se acautelem contra os medíocres e contra os falsos brilhantes.

O segredo é que, em qualquer grupo, sejam colocados nos lugares devidos os medíocres. E também os brilhantes. Botar um medíocre num lugar que deveria ser dado a um brilhante é um desastre. E botar um brilhante num lugar em que o medíocre desempenharia é um desperdício.

Mas tem uma coisa muito importante: um líder medíocre não oportuniza liderados brilhantes. E um líder brilhante só faz multiplicar os brilhantes entre seus liderados.

Mudando de assunto. Foi um jogo de futebol tão violento, que até o juiz e os bandeirinhas usaram caneleiras protetoras.

O chato pode ser surdo, pena é que, se o for, será mais chato ainda. O que o chato não pode ser é mudo: quem é mudo não é chato (toda pessoa que só escuta acaba se tornando agradável, principalmente aos falantes que dominam as rodas de conversa).






Paulo Sant'Ana




Zero Hora 25/02/2011








quinta-feira, 24 de novembro de 2011



A noite

acendeu as estrelas


porque

tinha medo

da própria

escuridão..!!!

Mário Quintana

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Detalhes




O fio do bordado
O som do miado
O brilho prateado
O passo caminhado

O menino educado
A dor do passado
Aquele bom carteado
Foi bom, mas mudado

Detalhes da vida
Eu quero juntar
Com a linha de costura
(Outro detalhe a considerar!)

Um ponto ali
E outro acolá
Cruz e arroz
Para juntar

Vidas detalhistas
Detalhes da vida
Um grão de areia
Ou a praia inteira.




Lara Vic

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

As nuvens



Nuvem, que me consolas e contristas,

Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato:

Essas arquiteturas imprevistas

São como as construções em que me mato...


Nunca vemos, misérrimos artistas,

A vitória deste ímpeto insensato:

A um sopro benfazejo, que conquistas!

A um hálito cruel, que desbarato!


Nuvens de terra e céu, brincos do vento,

Vai-se-nos breve a essência no ar varrida...

Irmã, que importa? ao menos, num momento,


No fastígio falaz da nossa lida,

Tu, nas miragens, e eu, no pensamento,

Somos a força e a afirmação da Vida!




Olavo Bilac

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tentações à solidão




Em realidade, a criatura humana debate-se em torno de seus dois grandes flagelos: a solidão e a vida em comum. A solidão pode ser para o homem a sua grande vitória ou sua grande frustração.

A solidão não é a vocação do homem, que nasce com a tendência para a vida em comum, embora nasça só. Tanto a solidão é incompatível com o homem, que só as pessoas com pendores singulares, entre elas os sacerdotes e as religiosas, fazem voto de castidade e celibato. Tanto a solidão é uma violência ao homem, que é necessário aos religiosos prometer sob juramento que não vão casar-se. Da mesma forma, a vida em comum tanto se parece com uma adversidade forçada, que nas cerimônias matrimoniais os nubentes são obrigados a jurar perpétua fidelidade.

Quando o homem procura a companhia de um animal para livrar-se da solidão, é quase certo que fará somente bem à sua companhia – e esta a ele. Já quando o homem procura a companhia de outro humano para fugir da solidão, é grande o risco de que faça mal a ele ou dele o receba.

O homem só tenta se livrar da solidão quando sente que já está fazendo má companhia a si próprio. E o homem só tenta se livrar da vida em comum quando percebe que, mesmo acompanhado, retornou à condição aflitiva da solidão. Não há pior aflição do que estar-se na companhia de outrem e sentir-se só, assim como estar-se só sentindo a falta de outrem.

A boa solidão conduz ao céu, a má companhia ao inferno. Assim como a solidão ruim é o pedágio da estrada do inferno, a boa companhia pode ser o passaporte para o céu. É preferível a eloqüência da solidão que o silêncio de uma companhia.

Só sente-se em vida recompensado aquele que, depois de sentir-se só em meio à multidão, sentir-se acalorado pelas multidões quando está recolhido à solidão.

Já não me basta e portanto me enfara a serenidade da solidão, aguça-me a tentação do entusiasmo do companheirismo, apesar de todos os seus riscos.

Ou será que daqui a pouco estarei enojado das incompreensões, ingratidões e deslealdades do companheirismo e estarei querendo me arremessar para o descanso e segurança da solidão, apesar do seu tédio?

A única intranquilidade que me inspira a solidão é a de que eu possa cair sem ter ninguém que me erga e o único horror da vida em comum é que, em caso da minha queda, a minha companhia recuse-se a me erguer ou se mostre inepta para isso.

Atribula-me a solidão tanto quanto a vida gregária, se estou lá, tenho que vir, se estou aqui eu tenho de voltar.

Se quanto maior for o número de pessoas com quem convivemos no tumulto da civilização, maior será o perigo que corremos, parece então que, quanto mais sós estivermos, mais nos sentiremos seguros. Mas de que vale a vida sem riscos da solidão, se uma das maiores tentações da existência é correr riscos? Ou será que o maior risco é o da solidão?

Confesso que me assombra a dúvida: a solidão como refúgio ou a vida em comum como guarida? O ideal talvez fosse saborear fortes doses de solidão na vida em comum ou permitir-se rápidas licenciosidades de convivência como lapsos da solidão.



Paulo Sant'Ana


Zero Hora 03/04/2005

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Veja se você é ciumento



(Teste infalível)

( ) Ciumento mesmo não diz alô ao telefone, já sai falando: “Onde você está?”. É um GPS movido a energia solar.

( ) Ciumento mesmo não pergunta, dá a resposta no lugar do outro. Não oferece tempo para sua companhia pensar.

( ) Ciumento mesmo não questiona seu destino, é ansioso demais para acreditar em qualquer coisa. Ele aparece de repente em seu trabalho.

( ) Ciumento mesmo conversa com a sogra mais do que com a mãe.

( ) Ciumento mesmo condena primeiro para julgar depois. A ofensa é preventiva.

( ) Ciumento mesmo odeia os amigos solteiros do seu marido/esposa, e deseja sempre casar os próprios amigos.

( ) Ciumento mesmo enxerga a culpa como uma vantagem. Pressiona que sejam feitas promessas a todo instante. O objetivo é colecionar desfeitas.

( ) Ciumento mesmo confere os bolsos antes de pôr as roupas na máquina de lavar.

( ) A sentença preferida do ciumento: “Você não me valoriza”. A ameaça preferida do ciumento: “Você acha que sou idiota e não vi?”.

( ) Ciumento mesmo não liga uma só vez. Deixará várias chamadas não atendidas no curto intervalo de três minutos.

( ) Ciumento mesmo é uma câmera escondida dentro da rotina. Não tem lembranças, e sim reprises.

( ) Ciumento mesmo (mulher) chama qualquer ex dele de vaca. Ciumento mesmo (homem) chama qualquer ex dela de boiola.

( ) Ciumento mesmo é um operador de cartão de crédito, nunca termina de confirmar informações.

( ) Ciumento mesmo espalha pertences pelo carro do seu par a fim de marcar território. Não estranhe se aparecer, da ala feminina, lingerie no bolso do banco, secador no porta-luvas, liquidificador no assento de trás, porção de cabides no porta-malas. Da ala masculina, o costume é plantar artigos esportivos no veículo (taco de beisebol, capacete de rúgbi e bolinhas de golfe).

( ) Ciumento mesmo não “mexe” nas gavetas, mas “arruma” as gavetas e ainda espera agradecimento.

( ) Ciumento mesmo fecha o Facebook, o Orkut e o Twitter para obrigar o(a) parceiro(a) a também apagar as contas na rede. Assim como recusa convite para beber ou dançar determinado a cobrar a retribuição do gesto.

( ) Ciumento mesmo joga verde para colher os podres. Alega que ninguém alertou nada, ele é que tem sexto sentido e vive descobrindo sozinho.

( ) Ciumento mesmo não discute a relação. No seu entendimento, ele é forçado a brigar para salvar o relacionamento.


Fabricio Carpinejar

Zero Hora, 15/11/2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011



Dentro de um abraço é sempre quente,

é sempre seguro.


Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e,
se faltar luz,

tanto melhor.



Tudo o que você pensa e sofre,

dentro de um abraço se dissolve."

Martha Medeiros

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Espinhos









Caminho no denso jardim
Amasso flores no caminho
Atravesso canteiros inocentes
Em busca apenas da flor.


Vermelha, a quero vermelha
Cor do sangue e paixão
Também quero perfume
Que ilude o coração.


Mas ao pegá-la, que surpresa,
O vermelho agora é de sangue
Espinhos fincam minha carne
Dor, amor... Mas é dor.


Solto a flor ingrata
E volto ao meu jardinzinho
Cuido das flores menores
Que suportaram a falta de carinho.





Lara Vic.

terça-feira, 8 de novembro de 2011



“Algumas pessoas têm amor por você, outras têm raiva.



O que sentem nem sempre depende de seu comportamento.



As reações delas às vezes são justas, outras vezes são injustas.



Dê sem contabilizar.



E esteja atento às necessidades delas”.




Dalai Lama

sexta-feira, 4 de novembro de 2011



Li em uma revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico.
Aprendi, por exemplo, que se tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, nos últimos quarenta anos, teria economizado 30mil reais. Se tivesse deixado de comer uma pizza por mês, 12 mil reais. E assim por diante.
Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas. Para minha surpresa, descobri que hoje poderia estar milionário. Bastaria não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei.
Principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.
Ao concluir os cálculos, percebi que hoje poderia ter quase 500 mil reais na minha conta bancária. É claro que não tenho este dinheiro.
Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?
Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar em itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que quisesse e tomar cafezinhos à vontade.
Por isso, me sinto muito feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro por prazer e com prazer. E recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que fiz. Caso contrário, chegarão aos 61 anos com uma montanha de dinheiro, mas sem ter vivido a vida.

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim ele saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO"

Que tal um cafezinho?



Max Gehringer

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A morte não é nada




"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.


Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.


Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,

sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua,
linda e bela
como sempre foi."

Santo Agostinho

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Felicidade





Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça que a felicidade



é um sentimento simples,
você pode encontrá-la
e deixá-la ir embora



por não perceber sua simplicidade.

Mário Quintana