quarta-feira, 23 de julho de 2014

A terrível lista do mercado





A esposa já desistiu de me preparar a lista para o mercado. Meu aproveitamento foi caindo de 80% para 60% para 40%. É impossível acertar os produtos. Trata-se de um exagero de detalhes, uma personalização extremada. É muita especificidade a ser exigida de uma mente masculina. Não tenho que comprar um xampu, mas resolver uma charada. Além da marca, preciso acertar mais cinco categorias do rótulo. É xampu para cabelos semioleosos, loiros, para o sol ou sombra, para o inverno ou verão, de exposição prolongada ou reduzida ou intensa, sei lá mais o quê.

Não é mais lista de mercado, é uma tese. Logo virá com notas de rodapé e referências bibliográficas.

Se erro qualquer item, minha mulher ainda me cobra que não a conheço, que não presto atenção. Gera discussão de relacionamento e quiz show sobre tudo o que sei dela.

Perco horas conferindo as informações. Vou ao mercado de manhã e volto só de noite.

Ou trabalho ou faço super. Minha vida é este dilema.

Fabricio Carpinejar

domingo, 20 de julho de 2014

Amigo

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha 
lembranças, 

crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha 
segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. 
Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, 
empresta o calor e a jaqueta. Um amigo não recomenda 
apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um 
emprego, recomenda um país. 
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro 
mundo dele, e topa conhecer o teu.
 Um amigo não passa apenas cola. 
Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. Um
 amigo não caminha apenas no shopping. Anda em 
silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso 
ao teu lado.
 Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão,
 a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o 
palavrão, segura o elevador.

Martha Medeiros

sábado, 19 de julho de 2014

Melhor






 Ah, bem melhor seria 

Poder viver em paz 


Sem ter que sofrer 


Sem ter que chorar 


Sem ter que querer 


Sem ter que se dar 





Vinícius de Moraes

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Saudade





Saudade! Palavra que dizem só existir no português,
mas que, com certeza,  todos sentimos.
Seja criança ,seja adulto,homem ou mulher,idoso.


Sentimos saudade da infância,dos cheiros que nos remetem a  coisas boas e ruins que já vivemos.

Sentimos saudades dos amigos que fizemos ao longo de nossas vidas e que foram ficando pelo caminho.
Sentimos saudades dos lugares onde já fomos e ate dos que queremos ir .
Sentimos saudades dos primos com quem   não brincamos mais.
Sentimos saudades das festinhas de garagem.
Sentimos saudades da comida da vovó.

Sentimos saudades de não ter nem uma preocupação a não ser estudar e brincar.
Sentimos saudades até da escola, de estudar,kkk.
Sentimos saudades dos professores .


Sentimos saudades de comidas que já comemos ou que queremos comer ainda.
Sentimos saudades de quem mora longe.
Sentimos saudades do silêncio e também do barulho.
Sentimos saudades de momentos felizes e até  dos tristes.
Sentimos saudades de pessoas que não veremos mais nesta vida.
Saudade significado : jeito gostoso de reviver momentos.


Clivia Calvet

domingo, 13 de julho de 2014

Proibido




Mαntenhα-se αtrás dα fαixα αmαrelα, 

não chegue muito perto,

não αcerque-se de meus trαumαs, 

não invαdα meus mistérios, 

não αtrite-se com o meu pαssαdo, 

não tente entender nαdα: 


é proibido tocαr no sαgrαdo de cαdα um.



Martha Madeiros

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Soneto do gato morto



Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

Vinicius de Moraes