quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A invenção do "o"



A Invenção do “O”



Na era da pedra lascada


da língua falada


antes de inventarem a letra


que imitava a lua


as palavras diziam nada


e nada levava a nada


(aliás, nem precisava rua).




A frase ficava estática


de maneira majestática


a grandes falas presumíveis


permaneciam indizíveis


- imagens invisíveis


a distâncias invencíveis.




Vivia-se em cavernas mentais


numa inércia dramática.


Ir e vir, nem pensar


ninguém mudava de lugar


que dirá de sintática.




Aí inventaram o “O”


e foi algo portentoso.


Assombroso, maravilhoso.


Tudo começou a rolar


e a se movimentar.




O Homem ganhou “horizontes”


e palavras viraram pontes


e hoje existe a convicção


que sem a sua invenção


não haveria Civilização.




Um dia, como o raio inaugural


sobre aquela célula no pantanal


que deu vida a tudo,


veio o acento agudo.




E o homem pôde cantar vitória.


E começou a História.


(Depois ficamos retóricos e até um pouco gongóricos).




Luis Fernando Verissimo

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