sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O chato


Se você quiser irritar um chato, finja que não o está escutando. O chato passa, então, para o terreno em que ele é mestre, o da repetição.

Continue fingindo que não está ouvindo o que o chato diz, o chato entra, então, em exasperação.

Se você for tenaz e se mantiver firme no fingimento, o chato se entrega e vai embora.

Há chato que diz: “Impressionante! É o terceiro surdo que encontro hoje. É muito azar. Mas vamos em busca do próximo”.

Encontro célebre entre mim e um chato, anteontem:

CHATO – Tu poderias me conceder 30 minutos do teu tempo, Sant’Ana?

EU – 30 minutos?

CHATO – É que eu tenho muitos assuntos para tratar contigo.

EU – O problema é a diversificação.

CHATO – Eu poderia abordar um só assunto, mas com profundidade.

EU – Não dá para reduzir a explanação do teu assunto para 15 minutos?

CHATO – Só se eu fizer um resumozinho.

O chato acabou me ocupando por 15 minutos, contados no relógio. Quando terminou o tempo, ele não tinha nem chegado ao âmago. Eu o interrompi e disse que não havia remédio, tinha de ir embora, estavam esgotados os 15 minutos.

E o chato desolado: “Mas não tem prorrogação?”.

O que melhor constrói a constância é a paciência. O que melhor constrói a ternura é a humildade. E o que melhor constrói a confiança é a experiência.

Já o que melhor constrói a coragem é a honradez. O que melhor constrói a inteligência é a clareza. E, por outra parte, o que melhor constrói a clareza é a simplicidade.

O que melhor constrói o ódio é a vingança. E o que melhor constrói a inconsciência é o esquecimento.

Já a amizade, o que melhor a constrói é a cumplicidade.

O que melhor constrói a desconfiança é a inconfidencialidade.

O que de mais doce e mais amargo ao mesmo tempo há na lembrança é a saudade.

O que ilumina a verdade é a lucidez.

O que se embute na perversidade é a mentira.

O que melhor constrói a adversidade é o erro na escolha.

O que melhor constrói a vibração é o entusiasmo.

O que melhor constrói a grandeza é a renúncia.

O que melhor constrói a pequeneza é a ardilosidade.

E o que melhor constrói a rudeza é o mau humor.

O que de mais característico há na chatice é a repetição.

O que melhor destrói a ansiedade é o cigarro.

Assim como o que mais destrói os alvéolos e os brônquios é o cigarro.

E de que adianta espantar a ansiedade se vão se destruindo os pulmões?

O que melhor constrói a malvadeza é a implacabilidade.

E, como se sabe, o que melhor constrói a eternidade é o amor.


Paulo Sant'Ana

Zero Hora 06/09/2010

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