sábado, 11 de setembro de 2010

Não se faz ...


Não se faz omelete sem ovos, não se faz quindim sem coco, não se faz mocotó sem vinho, nem se faz coluna sem entusiasmo.

Não se faz panqueca sem guisado moído, guisado graúdo é incompatível com a panqueca, não se faz arroz de leite sem canela, não se faz polenta sem milho, não se faz churrasco sem calor. São, por sinal, necessários dois calores para fazer churrasco: o calor das brasas e o calor humano.

Não se faz justiça sem clemência, não se faz administração sem planejamento, não se deve fazer filhos sem amor, não se faz investimento sem crédito, não se faz gemada sem açúcar, não se sente inveja sem admiração, não se faz espaguete sem água quente nem se faz doce de coco que não seja desfiado.
Não se deve fazer texto sem conteúdo, não se faz birra sem motivo, não se faz pandorga sem cordão nem se faz compota sem calda.

Não se pratica crime sem intenção, não se faz presídio sem associação do público com o privado (não é, doutor Tarso Genro?), não se faz jogo de carta sem valer dinheiro, ainda que seja pouco, não se faz Mega Sena sem sonho.

Não se faz, pelo menos não se deve fazer, saia sem decote, não se faz fumódromo sem fumantes, não se fazem drogas sem usuários.

Não se faz remédio sem prevenção, nem polícia sem prevenção, não se faz administração pública sem sonegação, não se criam impostos sem sonegação.
Não se faz música popular sem letra, não se faz suor sem catinga, não se faz SUS sem médicos, não tem sentido existirem doentes e não existirem leitos nos hospitais.

Não se faz demanda sem fila, não se faz banco sem dinheiro, tampouco se faz banco sem assalto (ao banco ou aos clientes).

Não se faz polícia sem cassetete, dizia-se e hoje não se diz mais, depois das aventuras do Bruno, que não se faz crime sem cadáver.

Não se deve fazer provimento de cargos sem concurso, não se faz dívida sem previsão nem se faz lombinho de porco sem pingar gotas de limão.

Não se faz merengue mole sem uma lasca de casca de laranja, não se fazem doces de Pelotas sem ovos, não se faz denúncia sem comprovação.

Não se faz sexo sem camisinha e, do jeito que a coisa anda, deve-se usar camisinha até quando se faz sexo sozinho.

Não se faz agudo sem tenor nem grave sem contralto, não se faz presidente da República sem voto, os feitos com as armas eram ilegítimos.
Não se faz samba sem pandeiro nem tango sem bandoneon, apesar de que no tempo de Gardel não existia bandoneon, era só na base de guitarras.

Não se faz bíblia sem profetas, não se faz calvário sem cruz nem se faz libelo sem provas.

E a partir de hoje fica definitivamente provado que é possível fazer uma ótima coluna sem assunto.

Paulo Santana
Zero Hora 12/09/2010

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