segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Chatos com grife


Escrevi sobre os chatos anteontem, mas para mim o tema não se esgota.
O chato possui muito mais tempo do que a gente. Aliás, só não suportamos os chatos porque não temos tempo.
Se tivéssemos tempo, nós também seríamos chatos: toda pessoa que tem tempo e não se entrega por isto à solidão é uma chata.
Podem olhar: todas as pessoas que não usam relógio no pulso são chatas. Por isto é que se diz que o chato não tem noção do tempo. Eu, por exemplo, conheço um sujeito que sempre foi considerado o “chato do seu tempo”.
O chato parece que desfruta de mais de 24 horas por dia. Para chatear.
Outra coisa: o chato pode ser chato, mas ele é sempre polido. Ele sempre se apresenta cheio de mesuras para nos chatear.
Nunca se ouviu dizer que um chato foi grosseiro. Eles são até delicados demais, a menos que o finjam para nos engrupir com sua abordagem.
É que o chato precisa empregar delicadeza e jeito para puxar conversa conosco e exercitar sua chatice.
Se não tiver habilidade, será rechaçado pelos maus modos, o que o impedirá de nos chatear.
Sendo assim, não existe chato calado. Nem existe chato antipático. A única coisa antipática no comportamento de um chato é a sua chatice. Não fosse ela, o chato seria uma amizade sedutora.
Os chatos são tão visados que adquirem grife. Existe, por exemplo, o Chato do Barranco, também o Chato do Gambrinus, o Chato do Galeto do Marquês. O Chato do Pampulhinha, o Chato do Dado Bier.
No Panchos, por exemplo, o Chato do Panchos é sempre posto pelo dono do restaurante na pior mesa, aquela do canto, lá longe, para causar-lhe mais dificuldade nas abordagens com os outros clientes.
A pior coisa que pode acontecer a um restaurante é ter mais de um chato, em seguida ele se esvazia.
Um chato por restaurante é uma dose razoável.
O pior é quando o chato é o dono do restaurante. A primeira atitude do chato que é dono do restaurante é a de sentar à mesa do cliente, pedindo ou não licença.
Esses dias, me encontrei num restaurante com um cara que me chateou tão arduamente, que ameacei: “Se continuar me chateando, vou chamar o dono deste restaurante”.
E o chato: “Sou eu mesmo, estás falando com ele”.
Levantei e fui para outro restaurante, onde pelo menos o chato não era o dono.
Eu estou ficando chato de tanto colecionar chatos. Talvez eu detecte tão bem os chatos por pertencer à categoria deles.
Casaram-se esses dias o otorrinolaringologista Sady Selaimen da Costa e a fonoaudióloga Sílvia Dornelles, dois ases em suas profissões.
Sabem como é, se conhecem nas clínicas e nos hospitais, vão fazendo amizade, coleguismo, daí para o amor é um passo.
Foi assim que o Sady e a Sílvia se casaram este ano.
Sempre que me encontro com os dois, só eu falo, ele por se otorrino e ela fonoaudióloga, só escutam.
O casal comigo é todo ouvidos.

Paulo Santana
Zero Hora

2 comentários:

  1. Beijão Silvia qquerida, um ano novo cheinho de amor!!!!

    Bjs do Zé Carlos

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  2. Texto super engraçado! tantas habilidades eles possuem, mas falta a de se perceberem inconvenientes, né? Um Ano Novo maravilhoso pra vc, querida!!!

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