domingo, 30 de janeiro de 2011

A arte de comer picolé de chocolate


Você já viu um menino de três anos de idade comendo picolé de chocolate na praia?

Um desastre.

Picolé de chocolate derrete com líquida facilidade. Muito cremoso. E a praia tem vento e sol em abundância, o que faz derreter com ainda maior rapidez os picolés de chocolate.

O problema é que tenho um menino de três anos de idade que só quer comer picolé de chocolate, não aceita nenhum outro menos derretível.

Então é aquilo:

– Papai, me dá um picolé?

– Tcherto. Que tal um picolé de uva?

– Não. Eu quero de chocolate.

– E coco? Coco é tão bom... Adoro tudo com coco. Cocada, doce de coco, quindim...

– Quero de chocolate.

– Tangerina? Sabia que tangerina é o mesmo que bergamota?

– Chocolate!

Aí é aquela lambuzeira. O guri fica todo melado de chocolate, é chocolate na testa, no cabelo, nas bochechas e no nariz, chocolate escorrendo pelo queixo abaixo, chocolate no pescoço, no peito e na barriga, tem chocolate até nas pernas. Como pode um picolé tão pequeno conter tanto chocolate??? Vou reclamar com a fábrica.

Depois de toda essa melecação, sempre tento levá-lo para se lavar no mar, mas alguns meninos de três anos de idade, além de ter adoração por picolé de chocolate, têm medo das ondas. O meu não entra no mar de jeito nenhum. Quer dizer: dá o maior trabalho carregá-lo até o chuveirinho da rua, lá adiante, até porque tenho que pegá-lo no colo no meio do trajeto, o que faz com que eu também fique melecado de chocolate.

Agora mesmo, lá estávamos nós na areia da praia, e o Bernardo, ao ver o carrinho do sorveteiro, não se limitou a pedir um picolé: disparou atrás, pegou a corneta do homem, começou a apertá-la, fazendo todo mundo rir. Fui lá.

– Quer um picolé de limão, filhinho?

– Não. Quero de chocolate.

– E melão? Tem de melão, moço?

– CHOCOLATE!

– O problema do picolé de chocolate é que derrete e te deixa todo melecado. Aí vêm as abelhas.

Ele me olhou. O sorveteiro também me olhou.

– Abelhas? – perguntou o Bernardo.

– É. Aqui na Orla há milhares de abelhas. Milhões, até. A Orla é assim. E elas adoram doce. Sempre atacam quem está lambuzado de doce, sobretudo de chocolate. É horrível.

– Holível?

– É. Até porque essas abelhas daqui são abelhas assassinas.

O sorveteiro arregalou os olhos. O Bernardo também.

– Abelhas... assassinas??? – espantou-se ele.

– Assassinas! Muitos já foram mortos por elas. Morrem embolotados como se fossem pizzas de calabresa gigantes.

Nesse ponto, o Bernardo sorriu. Depois riu. Por fim, emitiu uma gargalhadinha de três anos de idade. E concluiu, usando a forma de tratamento que aprendeu na TV:

– Você é englaçado, papai...

Preciso admitir duas coisas:

Coisa número 1: meu filho me conhece.

Coisa número 2: ele mereceu aquele maldito picolé de chocolate.

David Coimbra

ZH 29/01/2011

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