terça-feira, 8 de junho de 2010

Poesia Oculta


Não, hoje não vou trabalhar. Acordei tão cedo que consegui ver os primeiros raios solares refletidos nos vidros dos edifícios, dando a eles uma coloração rósea que deixou a cidade com uma cara diferente da que ela costuma ter. Havia ali, naquele instante, 6h47 da manhã, poesia. Uma poesia com a qual nossos olhos desacostumaram. Hoje não vou trabalhar, preciso procurar por ela, essa poesia oculta.
E sei que vou encontrá-la em todo lugar, bastando pra isso a minha intenção. Começou. Já consigo vê-la na lombada dos livros que estão dispostos na estante, vários, um ao lado do outro, compondo um mosaico de cores e possibilidades. E vejo também na xícara de cafezinho, a louça branca, ao lado do jornal aberto, em cima da mesa, e um copo d´água, os três em colóquio matinal, clássicos do cotidiano. Ali: a poesia da caixa de fósforos quietinha na cozinha. Da mulher passando o batom na frente do espelho fingindo que não está vendo que seu marido a espia escondido, ele próprio também fingindo que já não se deslumbra com a cena.
A letra caprichada da criança na primeira folha do caderno. A fila de táxi no ponto em frente ao parque, enquanto os motoristas conversam e fumam aguardando os passageiros. O carrinho de supermercado abandonado no meio do estacionamento depois que todos se foram, esquecido na noite. Os cachos ruivos que estão no chão de um salão de beleza mixuruca, onde alguém cortou o cabelo e
se arrependeu. A poesia oculta não é tão oculta assim.
Um varal com roupas puídas, penduradas numa janela de um edifício antigo. A torcida de um estádio explodindo ao ver entrar em campo o seu time. Duas adolescentes de cabelos longos cochichando e rindo à saída do cursinho. O olhar perdido da mulher dentro do ônibus. Um guarda-chuva preto.
Sua amiga que piscou o olho pra você lá do outro lado da festa, o afeto atravessando o salão e desviando dos convidados que separam vocês duas. A chama da vela que balança porque você está gargalhando. O casal que caminha na noite escura na beira da praia, agasalhados e agarrados, achando que ninguém os vê. Um resto de bolo dentro da geladeira.
O canhoto do cartão de embarque no fundo da bolsa. A almofada que caiu do sofá da varanda por causa do vento. O vapor que embaçou o espelho do banheiro depois do banho. A mochila em cima da cama da sua filha. Seu filho dormindo.
A poesia é uma fatalidade do olhar. Basta um frame de segundo e ela se revela, para então se esconder novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do hábito, do medo do ridículo que paralisa todos nós. Eu hoje não vim aqui para trabalhar, vim estimular o mistério.

Martha Medeiros

Um comentário:

  1. ******************************
    Boa noite!!!
    Silvia, minha querida!
    Vim deixar-te uma beijoca
    e um abraço com saudades!
    Sônia Silvino's Blogs
    Vários temas, um só coração!
    ******************************
    SIMPLES

    Quando tudo na vida
    perde um pouco o encanto,
    quando os problemas se avolumam
    dando vazão ao desânimo,
    faça silêncio íntimo e deixe falar
    a voz profunda, nosso Deus interno.
    Para toda adversidade
    sempre haverá uma solução...
    Todas as respostas estão dentro de nós
    à espera de que as procuremos,
    porque tudo nos foi dado pelo Criador
    para que vivamos com simplicidade e fé,
    alicerçados no bem e no otimismo
    que a tudo contagia...
    Não precisamos complicar a vida
    para vivermos com dignidade e sabiamente...
    Pois a vida é demasiadamente simples
    para aqueles que carregam o brilho do amor no olhar!

    Denise Flor©
    ******************************************************
    Meus blogs te esperam cheios de novidades!

    ResponderExcluir

Adoro saber tua opinião!
Obrigada por participar.