quarta-feira, 3 de abril de 2013

Amor em números quebrados




Com início de namoro ou com filho pequeno, contamos os  meses. Comemora-se a convivência a prestações. Não deixamos de nos surpreender  e festejar a permanência de alguém novo em nossa vida.

É  complicado localizar quando esfriamos o encantamento. Por preguiça  no raciocínio matemático ou por acatar o senso comum, desistimos de aniversariar o amor diariamente.

Até os dois anos da criança conta-se a idade dela desse jeito.Quando ela junta os dedos, a data se dilata para a distância dos anos e nunca mais os número quebrados, longos e definitivos.  Eu fio i emocionado ao ouvir uma mãe e um pai, neste período, ao soletrar  a idade inacabada do filho. O cuidado em ser preciso, exato, a preocupação ligeira em mostrar o quanto o nascimento não é esquecido, nem  por 24 horas. Posso descobrir o mês do aniversário e, com sorte, o signo da criança. Nenhum dia parece em vão, nenhum dia é descartado.

De modo semelhante, no namoro, o casal se deslumbra ao repetir a descrição de como se encontrou. Entra em falência com mimos e lembranças dados. Não se importa em exagerar, descobrir afinidades e propor jogos e enigmas. Todo  mês os namorados reafirmam que estão juntos, não cansam de jurar fidelidade e perguntar, perguntar, perguntar o que um sente pelo outro. Não que não saibam, mas é reconfortante ouvir de novo. Ouvir o que se gosta até assobiar a melodia e misturar a letra com algumas recordações.

O casamento deveria ser refeito mensalmente. Não fechar para balanço, não ser encerrado em um número inteiro. Que pudesse ser sempre insuficiente, inseguro, para que não perdêssemos  a tenção um minuto sequer e cuidássemos para que ele sobreviva ao nosso lado. Sem folga, sem compensação, sem demora.

Aceito férias no intervalo de um ano, aceito décimo terceiro no intervalo de um ano, mas esperar tanto temo para comemorar o aniversário de um amor é injusto. Que a soma seja diferente, não dizer mais que o casamento tem dez anos, mas 120 meses. E, se possível, contem os dias, as horas, entortem o bigude do relógio, virem as pálpebras pelo avesso.

Se já sofremos quando não declaramos o que nos incomoda, sofreremos o dobro se não declararmos o que nos alegra.

Merecemos aprender a contar os dias em que estamos livres, ao invés de enumerar com uma cruz os dias em que estamos presos.

Fabrício Carpinejar
Canalha

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