segunda-feira, 25 de março de 2013

Os seguidores



Estava no aeroporto outro dia, conversando com um ator e um blogueiro. Um deles se virou para o outro e perguntou: "Quantos seguidores você tem ?". A resposta: "Novecentos, e você?" Resposta: "Um pouco menos, uns 650 mil".

Músicos têm ouvintes, atores têm plateias, escritores têm leitores, mas pelo visto issi já não diz muita coisa, não há tanto mérito, é uma relação quase passiva. Bem-sucedido mesmo, é quem tem seguidores, ao menos é o que dizia o slogan de um produto anunciado em comercial de tevê recentemente, e nem era anúncio de  equipamento eletrônico.  Não lembro o produto mas lembro da promessa: "Você com cada vez mais seguidores". Que blusa eu uso, em que loja compro, que shopping devo frequentar para ter tantos seguidores assim? A ambição, agora, é ser messiânico.

Jesus tinha seguidores, assim como Renato Russo. Mas agora qualquer um pode ter o seu rebanho, ser um pastor. O Twitter fundou  uma nova tribo. Soube que Caio Fernando Abreu, falecido há mais de 10 anos , tem hoje 60 mil seguidores. E seus leitores? Já não estão com esse cartaz todo.

É apenas uma questão de semântica, claro. Renovam-se as palavras para perpetuar a sensação de modernidade, de atualização, mas, no fundo, é tudo a  mesma coisa. Só que não se pode negligenciar o sentido do termo: a palavra seguidor sugere um refém intelectual, enquanto que o leitor pensa, reflete, concorda, discorda. O seguidor não se d á esse trabalho. Apenas xereta.

Eu sei que é apenas uma expressão, eu  sei, eu sei, mas acho estranho, fazer o quê? Já me perguntaram: quantos seguidores tu tens? Ora, nem às minhas filhas desejo tal destino.Se eu tivesse um caminhão, escreveria no para-choque: "Não sugam ninguém, que estão todos perdidos também.".

É só um termo atual para definir a prática inofensiva de twittar, mas não sei se é mesmo tão banal, tão sem significado. Os equipamentos eletrônicos hoje já dispensam  o plugue da tomada, mas seus usuários, em efeito contrário, estão criando uma corrente de interligação que despreza a privacidade e a introspecção. O pensamento alheio virou uma espécie de asilo. Livro serve pra isso também, mas é uma relação a dois: você que lê  e o escritor que lhe inspira.Há uma certa sacralidade  nesse encontro.Algo de muito pessoal é preservado. Aquilo que lhe emocionou,  que iluminou seu pensamento e que despertou seu raciocínio é exclusivo, secreto: uma  relação  obviamente mais romântica.  Por mais popular que seja um escritor, ele é consumido no particular.Mas se ele tem 564.238 seguidores conectados ao mesmo tempo,, puf, evapora-se o mistério.

Todos viram gurus uns dos outros.Me siga que eu te sigo. Mas para onde?

Martha Medeiros
Zero Hora 03/07/2011  

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