quinta-feira, 7 de junho de 2012

Confiteor

Quanto tempo que perdi dormindo.

Quanto tempo que perdi pensando.
Quanto tempo que perdi em dúvida.
Quanto tempo que perdi em pânico.
Quando havia tanta coisa melhor para fazer!


Quanto tempo que perdi disputando com outros.
Quanto tempo que perdi não entregando os pontos.
Tempos largos em que não tive humildade.
Quanto tempo gasto com orgulho,
Ocupando-me mais em gostar de mim próprio.


Quanto tempo gasto sem pensar nos outros
E sem oferecer ajuda aos que por ela clamavam.


Quanto tempo gasto com o medo da desgraça.
E, mesmo ela não vindo, continuava o medo.


Quanto tempo tentando driblar o inevitável.
Quanto tempo perdi em não confiar nos outros.
E mais tempo ainda em confiar nos inconfiáveis.


Juventude triste a minha, desdenhei dos sonhos.
Entreguei minha sorte à própria sorte,
Sem esforço para mudar o meu destino.
Tempo puramente gasto em crer nas promessas,
Quando o certo era prometer a mim mesmo.
Quanto teimei em mergulhar na rotina,
Quando o certo era transformar meu cotidiano.


Quanto tempo acreditei tolamente
Que a felicidade só viria por acaso.

Quanto tempo cruzei os braços na contemplação,
Quando o certo era partir resoluto para a ação.
Quanto tempo gostei mais de mim do que dos outros,
Quando o certo era entregar-me dedicadamente
Ao primeiro que necessitasse.


Tempos perdidos, meu Deus,
Ocupados somente em lamentar-me,
Sem atirar-me depressa às mãos à obra.
Oh, Deus, devolvei-me aqueles tempos desperdiçados
Para que eu possa, se há tempo, consertá-los.

Havia mais tempo para eu chorar os meus fracassos
Do que para tentar vitórias.
Quanto tempo gastei em busca de aplausos fúteis,
Em vez somente do reconhecimento silencioso.
Nenhum tempo gastei para ser jovem.
E gasto tanto tempo em deplorar a velhice.

Assim é que agora aflitamente
Arrependo-me de não ter-me arrependido antes.

PAULO SANT’ANA
Zero Hora 05/06/ 2012


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