sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Atchim



Minha mulher até hoje se assusta com meu espirro. É que sou um adepto do espirro criativo. Espirro criativo é uma performance artística áudio-coreográfica, que aproveita a oportunidade para transformar um simples ato reflexo do corpo humano em uma obra de arte.

Como sou um sujeito que convive com um processo crônico de sinusite alérgica – que fecha meu nariz ao contato com mofo, poeira, ácaro e perfumes em geral – costumo desfrutar ao máximo toda vez que a vida me proporciona a liberdade de um espirro, um mini furacão que chega a atingir a espantosa velocidade de 150 km/h.

Aprendi desde criança que trancar espirro é um perigo, pode descer pro... pras partes de baixo. Quando vem aquela vontade, tem que deixar sair. E aproveitar a ocasião. Um espirro bem dado é quase um orgasmo. Comentei isso com um amigo e ele me retrucou: “ou eu não sei espirrar direito, ou você nunca transou na vida”.

Acho um desperdício soltar apenas um Atchim discreto, quando se pode criar uma ópera, uma peça sinfônica. Ontem mesmo soltei um Rasqutiamaniafructieblon!!! Em alto e bom som. Minha alma, em enorme euforia, saiu junto pelas fossas nasais. Graças a Deus consegui agarrá-la a tempo e fazê-la retornar às suas funções de origem. Às vezes, aproveito para prestar alguma homenagem, lembrando celebridades como “Rachmaninoff”, “Dostoiévski” ou até mesmo para exorcizar alguns demônios como “Olarticoechea”.

Em cada país, o espirro tem uma sonoridade típica. Na França se diz Atchum, na Alemanha, Hatschi e nos Estados Unidos, Atchoo. No Japão é Hacushon, na China, Penti e na Tailândia, Hutchew. Ou seja, quando você for viajar, procure estudar a maneira correta de espirrar em língua estrangeira, senão você vai ficar sem as respostas simpáticas, do tipo “Saúde”, “Deus te crie” (“pro bem, porque pro mal já está criado”).

O nome do espirro é uma onomatopéia que tenta reproduzir o som que é emitido na hora do orgasmo, quer dizer, do ato reflexo. E, como toda onomatopéia, é passível de interpretações variadas. É aí que entra o espirro criativo. Qualquer um tem direito de escolher o som que sai do seu corpo. Você não precisa ficar condicionado ao tradicional Atchim. Liberte sua alma. Invente seu próprio espirro. Personalize, customize. Enfim, divirta-se um pouco. Afinal, o mundo vai acabar em 2012.

Kledir Ramil

Um comentário:

  1. Oi Sílvia,
    hoje mais cedo "engoli" um espirro para não ser indiscreta. Mas depois do seu post, que achei ótimo, vou deixar a criatividade tomar conta dos meus espirros.
    Terei, ou melhor, darei espirros com outras concepções.
    Beijos.

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