Em princípio, tenho um pé atrás com essas pessoas que apresentam sua mulher assim: “Esta é minha esposa”. Minha desconfiança se deve a que “minha mulher” não tem de ser trocada pela expressão “minha esposa”. É pernosticismo, é afetação chamar “minha mulher” de minha esposa.
Já sei que os objetadores de plantão irão contrapor que, então, as mulheres não devem dizer “meu marido”, e sim “meu homem”. É diferente. No caso, “meu homem” é chocante, porque na nossa língua e no nosso costume vernacular “meu homem” quer dizer “meu macho”. E não fica bem a uma mulher classificar seu marido de seu macho porque, como se sabe, o homem, para a mulher, tem mais de 1001 utilidades do que ser macho. “Meu esposo”, para mim também é uma expressão pedante. A colocação politicamente certa é “meu marido”.
Da mesma forma, desconfio de todas as pessoas, homens e mulheres, que chamam suas empregadas domésticas de “secretária”. Empregada doméstica é uma profissão honrosa, digna, de grande utilidade social. Não precisa da classificação de “secretária”, que é outra coisa completamente diferente. E o pior é que quase todas as pessoas que chamam suas empregadas domésticas de secretárias não lhes dão salários de secretárias, mas sim de empregadas domésticas. Secretária só no nome. Enquanto muita gente que chama suas empregadas domésticas de “empregadas domésticas” paga-lhes o salário superior de secretárias.
Além disso, nesse caso de empregada doméstica e secretária, mulher e esposa, cada dupla de palavras não se constitui de sinônimos, portanto não têm o mesmo sentido. Já a expressão “minha patroa”, no lugar de “minha mulher”, é muito simpática, é a cordial e bem resignada manifestação do marido de que é dominado pela mulher. Exatamente por isso é que soaria muito mal a uma mulher apresentar seu marido como “meu patrão”. Indevido. Porque nenhum marido manda na mulher.
Por sinal, esta palavra “patroa” só se aplica bem no feminino, como mostrei acima. Ninguém gosta de apresentar numa roda alguém como “meu patrão”. Não sei bem por que, mas parece pejorativo a quem é empregado. Eu, de minha parte, desde o tempo em que trabalhei na feira livre até os dias de hoje, em que sou jornalista, apresento meus patrões assim, circunstancialmente, em uma roda:
– Apresento-lhe meu ‘amigo’.
Talvez seja porque nunca consegui trabalhar de empregado de alguém por algum tempo sem torná-lo meu amigo. Sempre que meu patrão deixou de ser meu amigo, pedi demissão de meus empregos. Não tem sentido trabalhar com um “inimigo” ou um “indiferente” como patrão. Só há sentido, principalmente em empresas pequenas, trabalhar para patrão de quem a gente se orgulhe e o mesmo serve para o patrão: tem de se orgulhar de seu empregado. Em caso contrário, vai e vem e se instala o conflito.
Mas os tempos mudaram. E hoje é muito comum que aquilo que é certamente uma relação entre marido e mulher seja classificado assim por um dos dois parceiros: “Apresento-lhe meu namorado”. Às vezes, dura há anos a relação conjugal e os dois se apresentam para o meio social como “namorados”. Os que fazem isso para mim são sábios: têm convicção de que não é perpétua aquela relação e assim se previnem contra o fatalismo quase inarredável da separação. Se nunca se separarem, melhor. Ou pior.
Paulo Sant'Ana
Já sei que os objetadores de plantão irão contrapor que, então, as mulheres não devem dizer “meu marido”, e sim “meu homem”. É diferente. No caso, “meu homem” é chocante, porque na nossa língua e no nosso costume vernacular “meu homem” quer dizer “meu macho”. E não fica bem a uma mulher classificar seu marido de seu macho porque, como se sabe, o homem, para a mulher, tem mais de 1001 utilidades do que ser macho. “Meu esposo”, para mim também é uma expressão pedante. A colocação politicamente certa é “meu marido”.
Da mesma forma, desconfio de todas as pessoas, homens e mulheres, que chamam suas empregadas domésticas de “secretária”. Empregada doméstica é uma profissão honrosa, digna, de grande utilidade social. Não precisa da classificação de “secretária”, que é outra coisa completamente diferente. E o pior é que quase todas as pessoas que chamam suas empregadas domésticas de secretárias não lhes dão salários de secretárias, mas sim de empregadas domésticas. Secretária só no nome. Enquanto muita gente que chama suas empregadas domésticas de “empregadas domésticas” paga-lhes o salário superior de secretárias.
Além disso, nesse caso de empregada doméstica e secretária, mulher e esposa, cada dupla de palavras não se constitui de sinônimos, portanto não têm o mesmo sentido. Já a expressão “minha patroa”, no lugar de “minha mulher”, é muito simpática, é a cordial e bem resignada manifestação do marido de que é dominado pela mulher. Exatamente por isso é que soaria muito mal a uma mulher apresentar seu marido como “meu patrão”. Indevido. Porque nenhum marido manda na mulher.
Por sinal, esta palavra “patroa” só se aplica bem no feminino, como mostrei acima. Ninguém gosta de apresentar numa roda alguém como “meu patrão”. Não sei bem por que, mas parece pejorativo a quem é empregado. Eu, de minha parte, desde o tempo em que trabalhei na feira livre até os dias de hoje, em que sou jornalista, apresento meus patrões assim, circunstancialmente, em uma roda:
– Apresento-lhe meu ‘amigo’.
Talvez seja porque nunca consegui trabalhar de empregado de alguém por algum tempo sem torná-lo meu amigo. Sempre que meu patrão deixou de ser meu amigo, pedi demissão de meus empregos. Não tem sentido trabalhar com um “inimigo” ou um “indiferente” como patrão. Só há sentido, principalmente em empresas pequenas, trabalhar para patrão de quem a gente se orgulhe e o mesmo serve para o patrão: tem de se orgulhar de seu empregado. Em caso contrário, vai e vem e se instala o conflito.
Mas os tempos mudaram. E hoje é muito comum que aquilo que é certamente uma relação entre marido e mulher seja classificado assim por um dos dois parceiros: “Apresento-lhe meu namorado”. Às vezes, dura há anos a relação conjugal e os dois se apresentam para o meio social como “namorados”. Os que fazem isso para mim são sábios: têm convicção de que não é perpétua aquela relação e assim se previnem contra o fatalismo quase inarredável da separação. Se nunca se separarem, melhor. Ou pior.
Paulo Sant'Ana
Zero Hora 12/11/2006.
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