quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Não me deixes


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!


"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"


E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"


E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"


Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.


A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"


Gonçalves Dias

Um comentário:

  1. Chorei muito muito quando reli este poema, procurei tanto e só lembrava do trecho "...não me deixes não..."primeiro poema impresso na minha memória ainda quando criança, me remeteu a lembranças impagáveis de tempos de inocência e pureza, e meu pai já há tanto tempo que se foi...obrigada Silvia. Um grande abraço.

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