terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nêmese

Enem e Nêmese

Os gregos antigos não podiam sequer imaginar um mundo em que os limites não estivessem bem definidos. Para eles, a desmedida e o excesso levavam o indivíduo ou um povo inteiro à ruína e à destruição, e não é por acaso que a literatura e a mitologia grega estejam repletas de personagens que foram implacavelmente punidos por seus delírios de grandeza. Esta preocupação com o autocontrole aparece, por exemplo, no mito de Dédalo, que fabricou um par de asas para que Ícaro, seu filho, pudesse voar. Como pai, e como grego, aconselhou-o a manter-se a meia altura, numa distância prudente tanto do Sol quanto do mar; o jovem, no entanto, embriagado pela nova sensação, tentou subir o mais alto possível: o calor derreteu a cera, as asas se desmancharam no ar e Ícaro encontrou seu fim lá embaixo, na profundeza do oceano.

Imagem: Internet

Para viver feliz, o homem tinha de reconhecer que havia uma ordem natural nas coisas que se sobrepunha ao orgulho dos indivíduos; aqueles que transgrediam esta ordem com sua soberba e arrogância acabavam atraindo sobre si a vingança de Nêmese, a inflexível divindade encarregada de recolocar tudo em seus justos limites. Isso explica a forma que os gregos escolheram para comemorar a vitória sobre os persas em 490 a.C.: convencidos de que nada deteria o seu avanço, os exércitos invasores tinham trazido, com grande dificuldade, um imenso bloco do inconfundível mármore de Paros, com o qual pretendiam erguer um monumento no dia em que a Grécia caísse diante do Império Persa. Na batalha de Maratona, no entanto, foram fragorosamente derrotados pelos atenienses, que aproveitaram o mesmo bloco para que Fídias, o mais famoso escultor de Atenas, fizesse uma grande estátua desta deusa exatamente no lugar em que a louca confiança dos persas tinha finalmente encontrado o seu limite.




Imagem: Internet
Continua ...
( Leia o texto completo em http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2689811.xml&template=3916.dwt&edition=13351§ion=999 )

Claudio Moreno (Zero Hora 20/10/09)

2 comentários:

  1. Olá querida
    Obrigada pelas palavras lindas que deixa no meu blog.
    O texto é muito bom, sem limites a confusão e geral.
    Com muito carinho e alegria BJS.

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  2. O equilíbrio é tudo, assim como o bom senso. Às vezes, quando o caos se instala, é preciso algo trágico para ajustar as arestas. Belo texto. Beijos e obrigada por sua visita ao meu blog.

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