sábado, 25 de janeiro de 2014

Pampianas: A algariada tagarelice dos pintos



O dia empurrava a carreta das sombras, e os primeiros raios de luz se embrenhavam nos ramos do arvoredo. E lá estávamos, à porta das casas, como acontece um dia sim e outro também, eu e a Mozinha, dileta esposa, deitando mate nos queixos.
De minha parte, um dizer de coisas curtas. Da parte dela, assunteios mais nutridos e prolongados. Lá pelas tantas, passa aquela procissão festiva da galinha com sua ninhada de pintinhos.
Altivo, tomando posse de um galho da figueira, lá estava o Lorito, meu papagaio de estimação. Volta e meia me estendia o seu atencioso “bom dia Dr. Laurindo”, quase sempre emendado com a solicitação de um mate, posto que tornara-se arregimentado às tradições gaudérias.
Lembrei aquele humilde santo que alardeava aos quatro ventos “os animais são nossos irmãos menores”.
Concordo em partes, dos bichos de penas sou irmão dos passarinhos. De escamas, dos peixes. De guampas, dos touros. Agora, não me venham conferir irmandade ou parentesco com jararacas e caranguejeiras que eu estabeleço minha recusa em atropeladas discordâncias.
Logo larguei a escaramuçar meu pensamento:“O Lorito fala pelas tripas porque tem a língua pontuda. Na ninhada, os pintinhos todos de língua redonda redondinha pelas voltas e beiradas”.
– Mozinha, traz a tua tesourinha de bordados que vou fazer um experimento!
E fui formatando a língua dos bichinhos nas linhas das circunferências com precisão e cuidado, sem esquecer do algodão e mercúrio para espantar padecimentos. Mas não é que num repente a pintalhada se reuniu e saiu alvoroçada, num corre-corre faceiro, rindo e gritando: “Obrigado Dr. Laurindo!”.
Um dia desses, a Mozinha com seu sábio pensar me lembrou que a invencionice é tudo.
– Não fosse um tal de Édson, a gente teria de assistir televisão à luz de velas.
Para mim, as duas grandes invencionices da inteligência humana são o avião e o descascador de espiga de milho. Bueno, a conversa tá boa, mas chegou a hora de ganhar campo que hay que recontar a gadaria.
Luiz  Coronel
Zero Hora 25/01/2014

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