sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Lendas brasileiras - O Avestruz













No tempo em que somente os bichos povoavam a terra, as funções 
que hoje são desempenhadas pelos homens eram desempenhadas 
pelos bichos.

O Jaguar, por ser muito valente, era delegado de polícia; o Quero-quero era sentinela; o João-de-Barro era construtor de casas; e assim por diante. O Avestruz, proteger pernas compridas e ser muito rápido, era carteiro. Sim, carteiro! Lá ia ele, de ranchinho em ranchinho, levando cartas. Certa ocasião, a mulher do Avestruz estava chocando ovos, do quais, depois, nasceram uns avestruzinhos muito bonitinhos. Mas a mulher do Avestruz adoeceu. Então o marido foi à venda do Capincho buscar remédio para a mulher que não podia sair de casa, pois precisava estar chocando os ovos. Na venda, que era um ambiente de gente meio vagabunda, estavam festejando a chegada de um Tangará muito cantador, tocador de viola, que tinha vindo de Cima da Serra. A festa se animou quando o Tangará começou a trovar em desafio com o Anu, que era também muito cantador. O Avestruz – que tinha ido lá somente para buscar o remédio para a mulher – começou a se entusiasmar com a festa; bebeu cachaça, se embriagou e só acordou no dia seguinte, quando o sol já estava alto. Só, então, se lembrou da mulher. 

Comprou o remédio e voltou depressa, o quanto a perna dava. Mas, quando chegou à casa a mulher tinha morrido. Louco de remorso, o Avestruz pôs-se sobre os ovos para terminar de chocá-los. Um tempo depois nasceram os filhotes, mas piando muito tristes porque não tinham mãe, eram guaxos. E desde aí – para que se lembrem dos deveres de família – os avestruzes passaram a chocar os ovos, isto é, o macho é que choca e não a fêmea. 
É a mesma coisa que se, num galinheiro, o galo fosse para o choco e a galinha ficasse cantando: có-co-ró-co-có... 

 Barbosa Lessa 
Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul

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