quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A hora do cansaço


As coisas que amamos,

as pessoas que amamos

são eternas até certo ponto.

Duram o infinito variável

no limite do nosso poder

de respirar a eternidade.


Pensá-las é pensar que não acabam nunca,

dar-lhes moldura de granito.

De outra matéria se tornam, absoluta,

numa outra (maior) realidade.


Começam a esmaecer quando nos cansamos,

e todos nós cansamos, por um ou outro itinerário,

de aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.

Restituimos cada ser e coisa à condição precária,

rebaixamos o amor ao estado de inutilidade.


Do sonho de eterno fica esse gosto acre

na boca, na mente,sei lá, talvez no ar.


Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Acredito que na eternidade dos sentimentos verdadeiros, na essência permanente de todos a que amamos verdadeiramente. Grande abraço.

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