quinta-feira, 10 de setembro de 2009

India

Imagem: www.whala.com.br/tag/historia-india/

Dizem que foi o rei Manu quem outorgou prestígio divino às castas da Índia.
De sua boca brotaram os sacerdotes. De seus braços, os reis e os guerreiros. De suas coxas, os comerciantes. De seus pés, os servos e os artesãos.

E a partir de então construiu-se a pirâmide social, que na Índia tem mais de três mil andares.
Cada um nasce onde deve nascer, para fazer o que deve fazer. Em seu berço está a sua tumba, sua origem é o seu destino: sua vida é a recompensa ou o castigo que merecem suas vidas anteriores, e a herança determina seu lugar e sua função.

O rei Manu aconselhava a corrigir o mau comportamento: se uma pessoa de casta inferior escuta os versos dos livros sagrados, há que derramar chumbo derretido em seus ouvidos; e se os recita, há que cortar a sua língua. Estas pedagogias já não são aplicadas, mas até hoje quem sai de seu lugar, no amor, no trabalhou ou no que seja, corre o risco de enfrentar escarmentos públicos que poderiam matá-lo ou deixá-lomais morto que vivo.

Os sem-casta, um de cada cinco hindus, estão abaixo do mais baixo. São chamados de intocáveis, porque contaminam: malditos entre os malditos, não podem falar com os demais, nem caminhar seus caminhos, nem tocar seus copos ou seus pratos. A lei os protege, a realidade os expulsa. Qualquer um os humilha e qualquer um as viola, e é assim que as intocáveis acabam sendo tocáveis.

No final do ano de 2004, quando o tsunami atacou a Índia, os intocáveis se ocuparam recolhendo o lixo e mortos.
Como sempre.


Eduardo Galeano/ Espelhos

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