
Você já viu um menino de três anos de idade comendo picolé de chocolate na praia?
Um desastre.
Picolé de chocolate derrete com líquida facilidade. Muito cremoso. E a praia tem vento e sol em abundância, o que faz derreter com ainda maior rapidez os picolés de chocolate.
O problema é que tenho um menino de três anos de idade que só quer comer picolé de chocolate, não aceita nenhum outro menos derretível.
Então é aquilo:
– Papai, me dá um picolé?
– Tcherto. Que tal um picolé de uva?
– Não. Eu quero de chocolate.
– E coco? Coco é tão bom... Adoro tudo com coco. Cocada, doce de coco, quindim...
– Quero de chocolate.
– Tangerina? Sabia que tangerina é o mesmo que bergamota?
– Chocolate!
Aí é aquela lambuzeira. O guri fica todo melado de chocolate, é chocolate na testa, no cabelo, nas bochechas e no nariz, chocolate escorrendo pelo queixo abaixo, chocolate no pescoço, no peito e na barriga, tem chocolate até nas pernas. Como pode um picolé tão pequeno conter tanto chocolate??? Vou reclamar com a fábrica.
Depois de toda essa melecação, sempre tento levá-lo para se lavar no mar, mas alguns meninos de três anos de idade, além de ter adoração por picolé de chocolate, têm medo das ondas. O meu não entra no mar de jeito nenhum. Quer dizer: dá o maior trabalho carregá-lo até o chuveirinho da rua, lá adiante, até porque tenho que pegá-lo no colo no meio do trajeto, o que faz com que eu também fique melecado de chocolate.
Agora mesmo, lá estávamos nós na areia da praia, e o Bernardo, ao ver o carrinho do sorveteiro, não se limitou a pedir um picolé: disparou atrás, pegou a corneta do homem, começou a apertá-la, fazendo todo mundo rir. Fui lá.
– Quer um picolé de limão, filhinho?
– Não. Quero de chocolate.
– E melão? Tem de melão, moço?
– CHOCOLATE!
– O problema do picolé de chocolate é que derrete e te deixa todo melecado. Aí vêm as abelhas.
Ele me olhou. O sorveteiro também me olhou.
– Abelhas? – perguntou o Bernardo.
– É. Aqui na Orla há milhares de abelhas. Milhões, até. A Orla é assim. E elas adoram doce. Sempre atacam quem está lambuzado de doce, sobretudo de chocolate. É horrível.
– Holível?
– É. Até porque essas abelhas daqui são abelhas assassinas.
O sorveteiro arregalou os olhos. O Bernardo também.
– Abelhas... assassinas??? – espantou-se ele.
– Assassinas! Muitos já foram mortos por elas. Morrem embolotados como se fossem pizzas de calabresa gigantes.
Nesse ponto, o Bernardo sorriu. Depois riu. Por fim, emitiu uma gargalhadinha de três anos de idade. E concluiu, usando a forma de tratamento que aprendeu na TV:
– Você é englaçado, papai...
Preciso admitir duas coisas:
Coisa número 1: meu filho me conhece.
Coisa número 2: ele mereceu aquele maldito picolé de chocolate.
David Coimbra
Um desastre.
Picolé de chocolate derrete com líquida facilidade. Muito cremoso. E a praia tem vento e sol em abundância, o que faz derreter com ainda maior rapidez os picolés de chocolate.
O problema é que tenho um menino de três anos de idade que só quer comer picolé de chocolate, não aceita nenhum outro menos derretível.
Então é aquilo:
– Papai, me dá um picolé?
– Tcherto. Que tal um picolé de uva?
– Não. Eu quero de chocolate.
– E coco? Coco é tão bom... Adoro tudo com coco. Cocada, doce de coco, quindim...
– Quero de chocolate.
– Tangerina? Sabia que tangerina é o mesmo que bergamota?
– Chocolate!
Aí é aquela lambuzeira. O guri fica todo melado de chocolate, é chocolate na testa, no cabelo, nas bochechas e no nariz, chocolate escorrendo pelo queixo abaixo, chocolate no pescoço, no peito e na barriga, tem chocolate até nas pernas. Como pode um picolé tão pequeno conter tanto chocolate??? Vou reclamar com a fábrica.
Depois de toda essa melecação, sempre tento levá-lo para se lavar no mar, mas alguns meninos de três anos de idade, além de ter adoração por picolé de chocolate, têm medo das ondas. O meu não entra no mar de jeito nenhum. Quer dizer: dá o maior trabalho carregá-lo até o chuveirinho da rua, lá adiante, até porque tenho que pegá-lo no colo no meio do trajeto, o que faz com que eu também fique melecado de chocolate.
Agora mesmo, lá estávamos nós na areia da praia, e o Bernardo, ao ver o carrinho do sorveteiro, não se limitou a pedir um picolé: disparou atrás, pegou a corneta do homem, começou a apertá-la, fazendo todo mundo rir. Fui lá.
– Quer um picolé de limão, filhinho?
– Não. Quero de chocolate.
– E melão? Tem de melão, moço?
– CHOCOLATE!
– O problema do picolé de chocolate é que derrete e te deixa todo melecado. Aí vêm as abelhas.
Ele me olhou. O sorveteiro também me olhou.
– Abelhas? – perguntou o Bernardo.
– É. Aqui na Orla há milhares de abelhas. Milhões, até. A Orla é assim. E elas adoram doce. Sempre atacam quem está lambuzado de doce, sobretudo de chocolate. É horrível.
– Holível?
– É. Até porque essas abelhas daqui são abelhas assassinas.
O sorveteiro arregalou os olhos. O Bernardo também.
– Abelhas... assassinas??? – espantou-se ele.
– Assassinas! Muitos já foram mortos por elas. Morrem embolotados como se fossem pizzas de calabresa gigantes.
Nesse ponto, o Bernardo sorriu. Depois riu. Por fim, emitiu uma gargalhadinha de três anos de idade. E concluiu, usando a forma de tratamento que aprendeu na TV:
– Você é englaçado, papai...
Preciso admitir duas coisas:
Coisa número 1: meu filho me conhece.
Coisa número 2: ele mereceu aquele maldito picolé de chocolate.
David Coimbra
ZH 29/01/2011
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