Assistimos todos pesarosos ao que se passa no Rio de Janeiro, as cenas da televisão parecem ser de um terremoto, as equipes de bombeiros resgatando mortos e feridos, verdadeiros tobogãs rasgados pelas enxurradas, a triste, dramática e fatal vida das pessoas que, não tendo terrenos firmes para morar, vão fixar-se nas encostas.
Ai, barracão, pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade a seus pés
Ai, barracão, tua voz eu escuto
E não perco um minuto
Porque sei que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobre tão infeliz.
Ai, barracão, pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade a seus pés
Ai, barracão, tua voz eu escuto
E não perco um minuto
Porque sei que tu és
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobre tão infeliz.

É exatamente isso o que diz a letra célebre do samba. São pessoas que moram naquele abismo porque não têm outro lugar em que morar, livres de impostos, de taxas de condomínio, de luz e de água, pertinho do céu e no centro do inferno.
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda qual bandeiras agitadas
Parecia um estranho festival.
Roupas dependuradas, móveis dependurados, filhos dependurados, vidas dependuradas.
Vivem lá como se dormissem à beira de um vulcão, sabem que são condenados à morte, não é necessário um terremoto para que tenham suas vidas extintas, basta uma chuva forte e tudo desliza morro abaixo para a destruição.
Mesmo quando os barracões não se despegam das encostas, suas vidas são penosas. Se é difícil descer daquelas encostas, imaginem quão mais quase impossível é subir até lá todos os dias, levando comida, crianças no colo, os utensílios para sobreviver naquela subida de penúria e sacrifício.
Como deve ser difícil escalar diariamente aquelas encostas, às vezes na escuridão da noite, todos os dias e todas as noites aquela aventura inóspita, aquele esforço inaudito na luta pela sobrevivência.
Assim como cantava o Lupicínio:
Eu vou mudar o meu barraco mais pra baixo
As minhas pernas já não podem mais subir
Alto do morro era bom na mocidade
Na minha idade a gente tem de desistir
Subir o morro antes era brincadeira
Até carreira eu apostava e não perdia
Quando eu subia todo mundo me aclamava
E reclamava toda vez que eu descia.
Há séculos as encostas caem no Rio de Janeiro, há séculos há deslizamentos nos morros, há séculos os barracos se despegam das encostas e são cumpridas as sentenças de morte contra os favelados.
Tanto que em 1895, o grande carioca Machado de Assis já escrevia: “Que dilúvio, Deus de Noé (…) a princípio não tive medo: cuidei que eram essas chuvas que passam logo. Quando porém os elementos se desencadearam deveras e as ruas ficaram rios, as praças mares, então supus que era realmente o fim dos tempos. As águas entravam pelas casas, outras desciam os morros, cor de barro”.
Ai, barracão, pendurado no morro!
Paulo Sant'Ana
Zero Hora 09/04/2010
Muito triste esta situação (anunciada)!
ResponderExcluirBjkas e bom domingo!
Quero prestar a minha solidariedade a todos os cariocas. Quero pedir a Deus proteção aos que daqui se foram e força, coragem e resignação aos que aqui ficaram. Que Deus proteja a todos. Beijos e uma ótima semana.
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