sábado, 13 de dezembro de 2014
O TEMPO NA LAPELA
Certa vez um pedaço de tempo
feito floco de neve
— fiapo de algodão doce
que se desfaz à lambida do toque —
caiu no meu casaco e não se dissolveu.
Permaneci com o tempo na lapela.
Me dei conta de que o pedaço de tempo
— corrosivo e nada friável —
que carregava na lapela
em vez de desaparecer
insistia em crescer
até me tomar o corpo todo
como o reconhecimento do erro
que é uma febre que não cede
ou a lembrança incômoda,
cão que nos segue
e ameaça nos morder a memória.
Ronaldo Costa Fernandes
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